Clique Ciência: como são treinados os cães farejadores de drogas?
Eles estão em aeroportos, ao lado de policiais, em cenas de atentados. Os cães farejadores estão por todo lado, e já foram parar até em novela, quando a atriz Paolla Oliveira teve o apoio de um cão policial em cenas de "A Força do Querer".
Mas não é qualquer animal que pode receber esse tipo de treinamento, é preciso curiosidade e olfato apurado. Os mais recomendados para essa finalidade são os de raças como pastor alemão, labrador, pastor malinois e pastor holandês.
“A maior parte das raças caninas possui, em menor ou maior grau, a habilidade de discriminação de cheiros, mas esse traço se mostra mais marcante entre as raças esportivas de cães ou entre os criados especialmente para o desenvolvimento da acuidade do faro”, diz o adestrador Reginaldo Pereira Aranda Neto, que coordenou o programa de cães farejadores do Ministério da Justiça durante os Jogos Pan-americanos de 2007 no Rio de Janeiro.
Esses cães possuem até 300 milhões de células olfativas, enquanto os seres humanos têm apenas 6 milhões. Isso significa que eles conseguem distinguir alguns odores com mais facilidade e a uma distância maior do que nós.
Treinamento pesado
O treinamento começa cedo, quando o animal tem aproximadamente dois meses e, no total, dura cerca de um ano e meio. Nesse período, os instrutores verificam quais filhotes da matilha possuem as habilidades desejadas e realizam pouco a pouco exercícios de adestramento e treinamento do faro.
O cão aprende por condicionamento: uma motivação natural, induzida ou pela força. Quando a motivação é natural, a resposta será sempre mais rápida e precisa. Quando o animal aprende sob pressão, o efeito bloqueia a motivação natural do animal, fazendo o exercício mais lentamente.”
As principais etapas do treinamento:
- de 2 a 4 meses: os instrutores fazem exercícios e brincadeiras com a matilha para verificar as características e o desenvolvimento de cada filhote;
- de 4 a 8 meses: os cães podem circular em toda a área do canil. Nesta etapa, ele tem contato a guia, para reconhecê-la quando tiver que sair, e começam os exercícios de socialização, para que ele saiba se comportar na área externa;
- de 8 a 10 meses: os animais saem para atividades externas (parques, áreas comerciais, aeroportos) onde farão exercícios de faro. Por exemplo, o cão precisa localizar pelo cheiro um objeto lançado pelo adestrador nesse ambiente desconhecido;
- de 10 a 12 meses: são realizados novos exercícios em áreas externas, agora com maior dificuldade. Eles precisam buscar objetos com mais esforço e superar obstáculos;
- acima de 12 meses: animais que devem farejar drogas, por exemplo, são expostos a “brinquedos” com esses odores. Quando ele estiver acostumado a detectar essas substâncias, os exercícios ficam mais difíceis e são misturadas a outros odores, como alho, pimenta e cebola.
Nos canis policiais, os cães não são expostos diretamente à droga, que costumam ser envoltas em tubos de PVC, mangueiras, bolsas de lona, entre outros materiais.
“Isso evita que o treinador civil tenha que ter autorização para ter posse de drogas ilegais, explosivos ou tecido humano”, diz Aranda Neto.
Em todo o processo, destaca o adestrador, não pode existir violência, mas sim uma dose de carinho toda vez que o cão realizar uma atividade do modo esperado. “O dono que bate no animal está sendo um péssimo líder e, ao mesmo tempo, dando exemplo de violência para o seu animal. Por outro lado, o cão tende a não obedecer ao seu dono caso receba carinho exagerado. O melhor então é sempre usar o bom senso”, diz.
Cheiro de quê?
Devidamente treinados para aprimorar essa capacidade, os cães farejadores podem trabalhar para a polícia, mas também atuam em empresas de segurança privada, de turismo ou em grandes eventos.
Há os cães especializados em encontrar drogas, explosivos, CDs e DVDs, identificar cédulas de dinheiro ou até auxiliar em resgates e salvamentos.
Mas há também quem tenha direcionado esse faro apurado para outras finalidades, como fizeram pesquisadores do Hospital Schillerhoehe, na Alemanha, e da Universidade Kyushu, no Japão.
Estudos realizados por essas e outras equipes submeteram cães farejadores a treinamentos com amostras de tumores, mais ou menos como é feito com drogas. Depois disso, os cães foram submetidos a testes, que mostraram que os animais acertaram o “cheiro de câncer”.
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