Topo

Plutão tem dunas formadas por grãos de metano congelado

Dunas foram identificadas na grande planície clara ao centro da foto de Plutão - Nasa
Dunas foram identificadas na grande planície clara ao centro da foto de Plutão Imagem: Nasa

Do UOL, em São Paulo

31/05/2018 15h00

O frio e distante Plutão, quem diria, possui um cenário bucólico. Ao raiar do Sol, um vento suave sopra o gás que sobe da superfície congelada e cria dunas. Diferentemente das dunas de areia que encontramos na Terra, no planeta-anão elas são formadas por grãos de metano ou nitrogênio sólido -- substâncias encontradas naturalmente em estado gasoso na Terra. 

É o que revela a análise das imagens feitas pela sonda New Horizons, da Nasa (agência espacial dos EUA), em estudo publicado nesta quinta-feira (31) na revista Science.

Eram até então conhecidas as dunas da Terra, de Marte, Vênus, Titã (lua de Saturno) e do cometa 67P (visitado pela sonda Rosetta entre 2014 e 2016). As fotos detalhadas feitas pela New Horizons em um sobrevoo rasante por Plutão no dia 14 de julho de 2015 surpreenderam os pesquisadores com a revelação de uma diversidade de relevos e formações geológicas.

Ao analisar imagens da planície Sputnik Planum, a equipe liderada por Matt Telfer, da Universidade de Plymouth, identificou 357 pequenas cristas em um terreno plano do planeta-anão, além de seis manchas escuras que aparentam terem sido formadas pela força do vento.

A oeste da planície, os pequenos cumes se estendem paralelamente a uma cadeia de montanhas. Contudo, mais a leste, eles mudam de direção e se tornam mais esparsos. Para os cientistas, esse relevo foi formado por minúsculos grãos que se acumularam e se espalharam pela ação de ventos moderados, com menos de 36 km/h -- um dia na Terra com tempo firme.

A fonte provável dos grãos das dunas de Plutão é o gelo de metano que cobre as montanhas do planeta. Outra hipótese é a de que elas sejam formadas por gelo de nitrogênio.

"A presença dessas dunas indica uma atmosfera ativa que produz formas de relevo geologicamente jovens", dizem os pesquisadores no estudo. 

“O que torna essa descoberta surpreendente é que o sedimento pode ser carregado apesar da tênue atmosfera de Plutão, cuja pressão superficial é 100 mil vezes menor que a da Terra", diz Alexander Hayes, em análise na Science.

Dunas de Plutão - CNRS/SPOT/Nasa - CNRS/SPOT/Nasa
Imagens das dunas de Plutão (A e D), comparadas com dunas terrestres do deserto de Taklamakan, na China
Imagem: CNRS/SPOT/Nasa

Vapor suspenso pelo Sol e esplendor ao entardecer

A superfície rochosa de Plutão é coberta por nitrogênio e metano congelados devido à temperatura de -230 °C. Sob pressão da atmosfera terrestre (a de Plutão é 100 mil vezes menor), o nitrogênio possui estado gasoso a -195°C, e sólido a -210°C. Já o metano vira gás a -161°C e sólido a -182°C.

Quando o planeta se aproxima do Sol, a superfície é aquecida e ocorre a sublimação (mudança do estado sólido para o gasoso) do gelo de metano e nitrogênio. 

A análise feita pelos pesquisadores revela que o vento em Plutão cria dunas quando há metano ou nitrogênio gasosos pairando no ar. Ao serem depositados sobre a superfície, voltam ao estado sólido, formando as cristas típicas das dunas.

Além de nitrogênio e metano, a atmosfera de Plutão possui também monóxido de carbono. Os vapores atmosféricos em torno de Plutão se elevam a até 130 km de altitude. A névoa que circunda o planeta-anão cria um esplendor que ilumina sua superfície ao entardecer. 

Para os cientistas, a descoberta de dunas em Plutão leva à especulação de que a lista de lugares no Sistema Solar com relevo constantemente desenhado pelo vento pode ser bem maior. "Se uma atmosfera extremamente tênue como a de Plutão permite a formação de relevos com sedimentos movidos pelo vento, que tipo de atividade eólica podemos ver em lugares como Io ou Tritão (luas de Júpiter e Netuno, respectivamente)?", diz Hayes.

Plutão está situado no cinturão de Kuiper, um grande depósito de detritos além da órbita de Netuno, e é bombardeado por asteroides regularmente.