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Estudo mostra que luz de vaga-lumes tem mais função do que só atrair fêmeas

Estudo mostra que vaga-lumes usam luz para afastar predadores e atrair fêmeas - Getty Images/iStockphoto
Estudo mostra que vaga-lumes usam luz para afastar predadores e atrair fêmeas Imagem: Getty Images/iStockphoto

Edison Veiga

Colaboração para o UOL, em Milão (Itália)

22/08/2018 15h00

Uma descoberta recente desvendou outra função para as conhecidas luzes naturais dos vaga-lumes. Além de atrair parceiros sexuais para conseguir o êxito da cópula, perpetuando a espécie, a artimanha serve de proteção contra um de seus temidos predadores: os morcegos insetívoros.

O estudo, que está na edição desta quarta-feira (22) do periódico científico "Science Advances", foi realizado em conjunto por biólogos e entomologistas das universidades de Boise e da Flórida, ambas nos EUA.

A pesquisa aponta esse fato como uma consequência do processo evolutivo. Vendo aquela refeição iluminada, os morcegos entendem que os vaga-lumes não são adequados para sua dieta --já que, além de brilhantes, eles poderiam ser venenosos.

"Muitos animais previnem ataques com sinais de alerta que são altamente visíveis para seus predadores", explica o cientista Brian Leavell, pesquisador do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Boise e um dos autores do estudo. "Levantamos a hipótese de que os vaga-lumes de bioluminescência, amplamente conhecidos por seus vibrantes sinais de cortejo, também anunciam sua nocividade para a ecolocalização dos morcegos."

Como foi feito o experimento

Para testar essa ideia, os pesquisadores colocaram no mesmo ambiente morcegos marrons Eptesicus fuscus e os venenosos vaga-lumes Photinus pyralis.

Eles promoveram algumas alterações no fenótipo dos insetos e, assim, puderam constatar um rápido aprendizado. 

"Os predadores noturnos aprendem a evitar vaga-lumes nocivos usando a visão ou a ecolocalização. Eles aprendem rapidamente a integrar as informações de ambos os fluxos sensoriais", comentou o cientista. Para ele, a conclusão é que a ação predatória dos morcegos deve ter "impulsionado a evolução da bioluminescência de vaga-lumes".

No experimento científico, os pesquisadores colocaram juntos aos pirilampos luciluzentes três incautos morcegos marrons e deixaram uma câmera ligada, registrando toda a interação.

Na primeira noite, constaram que ao menos um vaga-lume, mesmo com sua toxicidade, havia acabado no estômago de um morcego.

Mas a indigestão deve ter funcionado, porque, a partir daí, os mamíferos alados aprenderam a evitar os brilhantes bichinhos.

Em seguida, os pesquisadores colocaram um novo fator no experimento. Decidiram pintar os órgãos de bioluminescência dos vaga-lumes para bloquear toda a sua produção de luz.

Repetiram o teste, colocando os morcegos que já tinham aprendido a evitar vaga-lumes no mesmo ambiente dos insetos --outrora luminosos, mas agora apagados. Mais insetos naturalmente sem luzinhas e sem toxicidade foram acrescentados para fazer o que os pesquisadores chamam de "controle" do estudo.

Um dos morcegos atacou de igual para igual ambos os bichos. Outro, entretanto, notou que algo caiu mal para o "vizinho" e passou a evitar os vaga-lumes escuros, saciando-se apenas com os outros insetos.

Leavell e a equipe lançaram, então, outra suposição: morcegos conseguiam usar mais de uma fonte de informação, além da bioluminescência, e, com aprendizado, conseguiriam diferenciar os vaga-lumes dos demais insetos.

O experimento foi feito mais uma vez. Agora com microfones ultrassônicos no ambiente. A ideia era analisar o comportamento do sonar natural dos morcegos ao observar vaga-lumes. 

Eles perceberam que os morcegos emitiam sonares rápidos antes de cada tentativa de caça. Mas isso também evoluía conforme o aprendizado do predador.

Assim, quando passavam a identificar os vaga-lumes, mesmo sem o brilho, como algo a ser evitado, paravam de fazer esses zumbidos. E o alerta ficava dado para os companheiros da mesma espécie.