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Peixe multicolorido é descoberto em águas profundas na costa do Nordeste

Peixe colorido encontrado a 120 metros de profundidade na costa do Nordeste - LA Rocha/ZooKeys
Peixe colorido encontrado a 120 metros de profundidade na costa do Nordeste Imagem: LA Rocha/ZooKeys

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

04/10/2018 04h01

As cores amarelo vibrante e rosa choque de um pequeno peixinho chamaram tanto a atenção do grupo de mergulhadores que eles mal notaram a aproximação de um enorme tubarão. O tubarão nada fez ao grupo. Já o peixinho se tornou a mais nova espécie descoberta em águas profundas no arquipélago de São Pedro e São Paulo, na costa do Nordeste brasileiro.

O nome de batismo, Tosanoides aphrodite, uma homenagem à deusa grega do amor e da beleza, expressa bem a fascinação.

"Vimos o peixe coloridão, rosa, maravilhoso... hipnotizados para capturar o peixe, não percebemos um colega chamando por causa do tubarão", conta o ictiologista Hudson Pinheiro sobre as surpresas do mergulho. A ictiologia é o ramo da zoologia que estuda os peixes.

Um vídeo mostra o momento em que o tubarão se aproxima da equipe que participava da expedição. A voz fina dos mergulhadores deve-se ao gás hélio presente no equipamento de respiração. 

Esse não era um mergulho qualquer em uma região com recifes de coral profundos. A equipe que ficou por cerca de 5 minutos a 120 metros de profundidade era composta por cientistas da Academia de Ciências da Califórnia. Mergulhos recreativos podem chegar a profundidades maiores, mas ainda é incomum pesquisadores irem tão fundo no mar para estudos científicos.

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Pinheiro conta que as espécies encontradas em águas mais profundas são diferentes das existentes em águas rasas. No início deste ano, um artigo publicado na revista "Science" por seu grupo descreve essas diferenças. A descoberta do peixe colorido foi descrita em novo artigo, publicado no fim de setembro.

O grupo não esperava encontrar nada tão colorido em tal profundidade. "Espécies mais ao fundo são mais prateadas e esbranquiçadas", afirma. As cores do peixe contrastam com o cenário em que vive. "É uma zona de crepúsculo, não tem tanta luz, o ambiente é mais frio", diz Pinheiro. 

A pesquisa para identificar a qual grupo o peixinho colorido pertencia guarda outras curiosidades. O peixe geneticamente mais semelhante à espécie do Nordeste brasileiro é encontrado em águas rasas do Oceano Pacífico, bem longe daqui. O primo próximo tem ainda nome "famoso": Tosanoides obama, referência ao ex-presidente dos EUA.

De acordo com o estudo, o Tosanoides aphrodite habita pequenas fendas em recifes de corais que ocorrem entre 100 e 130 metros de profundidade. E é encontrado apenas no arquipélago brasileiro. Há ainda outras sete espécies conhecidas que ocorrem apenas em São Pedro e São Paulo, e outras seis que podem ser encontradas também em Fernando de Noronha e no Atol das Rocas.

Para os pesquisadores, o isolamento desses peixes em apenas um local pode estar associado à distância com relação às costas tanto do continente americano quanto da África. Pinheiro explica que é possível que o peixe tenha existido em outras regiões, como o Caribe, de onde pode ter desaparecido por causa de fenômenos naturais como a competição entre espécies e até mesmo devido ao aquecimento global.

"O aquecimento global e a poluição das águas têm potencial de impacto grande em espécies de distribuição reduzidas", diz Pinheiro. Ele conta que os pesquisadores encontraram muito lixo no mergulho. "Vimos muita linha de pesca embolada nos recifes, resto de material de construção, plástico".

No Brasil, o peixinho colorido ainda pode encantar mergulhadores que chegarem à profundidade em que vive. E seu registro, os chamados "materiais tipos" que os cientistas coletam para pesquisa, encontram-se preservados em universidades brasileiras, como a Ufes (Universidades Federal do Espírito Santo), a USP (Universidade de São Paulo) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).