Para a ciência, inteligência (também) é genética e aumenta a cada geração
A geração atual é mais inteligente do que a anterior e provavelmente será menos inteligente do que a próxima. Quem diz isso são pesquisas da neurociência e da psicologia, que inclusive deram um nome para o fenômeno: efeito Flynn, por conta das pesquisas do americano James Flynn sobre o tema.
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Estudos também sugerem que a inteligência tem um componente genético e pode, em parte, ser passada de pais para os filhos - mas não apenas isso. Há componentes exteriores que contribuem para a formação de indivíduos inteligentes.
Melhor nutrição e mais acesso à educação seriam possíveis explicações para o aumento progressivo das médias de pontuação de testes de inteligência ao longo do tempo.
Segundo as pesquisas de Flynn, que acompanhou testes de Quociente de Inteligência (QI) em diversos países, a nota média nesses testes realizados por crianças aumenta 3% a cada década.
No entanto, não há explicação definitiva. Outra explicação possível é que crianças e jovens em idade escolar tenham aprendido, com o tempo, a realizar testes de maneira eficiente – fenômeno chamado de “sabedoria dos testes”, segundo o pesquisador Arthur Jensen, da Universidade da Califórnia.
Também é possível que o mundo tenha ficado “cognitivamente mais exigente” em relação ao século passado, de acordo com Flynn. “Uma geração com muito mais acesso à tecnologia e ao ensino fundamental e superior provavelmente está mais apta a resolver problemas abstratos do que seus antepassados que trabalhavam a vida inteira no campo ou na indústria”, diz, em entrevista concedida à autora desta matéria, originalmente para a revista NeuroEducação.
Inteligência: o que é e como se mede?
A inteligência é um conjunto de habilidades que funcionam juntas e de forma coordenada. Isso inclui memória, linguagem, percepção, raciocínio, entre outras.
“De modo geral, a inteligência refere-se à capacidade de compreender ideias complexas e abstratas, de aprender com as experiências, de resolver tipos diversos de problemas, de raciocinar com diferentes tipos de informação – numérica, visuoespacial, textual, entre outras, e de lidar efetivamente com as diferentes demandas do dia a dia”, explica a neuropsicóloga Regina Marino, pesquisadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Há tempos, a inteligência é estudada de forma sistematizada pela psicometria, área que usa ciências exatas para mensurar fenômenos abstratos e complexos. Os conhecidos testes de quociente de inteligência (QI) são diferentes tipos de tarefas, em constante adaptação, criados para medir as habilidades associadas à inteligência.
Por exemplo, habilidades de percepção e de raciocínio são medidas por testes que propõem a identificação de padrões semelhantes em imagens geométricas. Os resultados de um conjunto de tarefas permitem extrair um escore geral, que é chamado de QI.
Os testes de QI sérios só podem ser aplicados por um psicólogo, pois somente esse profissional tem acesso aos testes e permissão para aplicá-los -- ou seja, estes testes não podem ser feitos sozinhos e nem são encontrados na internet.
E o resultado não pode ser interpretado de maneira isolada: o QI é considerado acima ou abaixo da média considerando variáveis como idade, nível de escolaridade, tipo de escola que a pessoa avaliada frequentou e contexto cultural em que vive. “Estas variáveis são importantes, uma vez que é conhecida a sua influência no desenvolvimento cognitivo. O profissional que aplica o teste precisa garantir que está comparando o desempenho de uma pessoa com o de outras que têm as mesmas características, caso contrário esta comparação seria injusta e nada informativa”, diz Marino, pontuando que os testes de QI não são universais, mas adaptados para diferentes contextos culturais.
Testes de QI são usados, por exemplo, para avaliar suspeitas de rebaixamento intelectual ou no diagnóstico de transtornos que costumam interferir no desempenho escolar e profissional, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
“Testes de inteligência fornecem informações valiosas que auxiliam na identificação de áreas do funcionamento cognitivo [de uma pessoa] que podem ser aprofundadas. Com isso, é possível mapear habilidades cognitivas de uma pessoa que representam forças e outras que representam fraquezas (e que poderiam ser estimuladas), o que auxilia na elaboração de hipóteses diagnósticas e no planejamento de intervenções”, diz Marino.
Peso dos genes
Uma das questões que mais divide especialistas é o quão inata a inteligência é e o quanto pode ser influenciada por fatores ambientais.
Nesse sentido, pesquisas que avaliam o desenvolvimento de gêmeos idênticos separados no nascimento estão trazendo descobertas interessantes.
“Pode-se dizer que os genes são responsáveis pela inteligência em até 80% dos casos”, diz James Flynn, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, que coordenou uma grande pesquisa que avaliou o QI de gêmeos criados por famílias diferentes, que tiveram oportunidades diversas de educação e de experiências de vida.
“Nossos resultados mostram que, embora o ambiente familiar tenha grande peso sobre o QI de crianças pré-escolares, os genes triunfam sobre as influências ambientais depois dos 20 anos”, diz Flynn.
O que não significa que os 20% de peso do ambiente não sejam importantes para proporcionar as possibilidades para expressão da inteligência. “É como se gene e ambiente fossem dois cavalos puxando uma carroça: apesar do cavalo-gene liderar, o movimento fica muito mais potente se o outro faz força para a mesma direção”, exemplifica Flynn, falando sobre a importância do acesso a educação, a alimentação diversa em nutrientes e a estímulos de qualidade para que a inteligência seja potencializada, como atividades culturais e de lazer.
“A constante interação entre ambiente e genes indica a importância da pessoa ser estimulada nas diferentes habilidades cognitivas. Isso significa que a inteligência pode aumentar ao longo do tempo, dependendo das experiências vividas”, diz Marino.
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