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Fazer ciência pode ser uma aventura: "ganhei prêmio, viagem e conhecimento"

Getty Images
Imagem: Getty Images

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

17/05/2019 04h00

O recém-lançado "Vingadores: Ultimato" está batendo vários recordes de bilheteria, mas não são só os personagens que chamaram a atenção. O uso da ciência por trás do plano para derrotar o Thanos está dando o que falar. Mas, calma. Não falaremos nenhum spoiler. O assunto hoje é ciência.

O ponto é que o filme conseguiu transformar alguns conceitos científicos em algo curioso, divertido e provou que o conhecimento na área tem o poder mudar realidades. Se ainda não conseguiu assistir, vá ao cinema quando for possível e observe a ciência em cada detalhe.

Usar o entretenimento para nos aproximar de um tema muitas vezes tido como um bicho de sete cabeças é uma boa estratégia, mas pesquisadores querem mais. Refletindo sobre isso, professores, cientistas, estudantes e entusiastas da área vão se reunir no próximo dia 2 de junho para discutir novas formas de pensar a ciência brasileira, divulgá-la e aproximá-la do nosso dia a dia.

TAB apresenta o Festival Path 2019, o maior e mais diverso evento de inovação de criatividade do Brasil. Saiba mais e participe.

Veja a programação completa

O debate faz parte da programação do Festival Path, principal evento de inovação e criatividade do Brasil e que em 2019 é apresentado pelo TAB. As discussões acontecem nos dias 1º e 2 de junho, em São Paulo.

Você sabia que o Brasil é o país ibero-americano com maior porcentagem de artigos científicos assinados só por mulheres? Entre 2014 e 2017, o país publicou cerca de 53,3 mil artigos - 72% por elas. Muita coisa está sendo produzida por aqui, mas nem todo mundo sabe disso.

Kawoana Vianna, 26 anos, está quase finalizando o curso de medicina na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mas foi durante o ensino médio técnico que encontrou a sua paixão pela pesquisa científica.

Para ela, que será uma das palestrantes do evento, a pesquisa nada mais é do que você ter um problema e pensar formas de solucioná-lo. Não deve ser algo tão complexo que distancie das pessoas. Premiada em eventos nacionais e internacionais, a estudante criou um projeto em 2015 para aproximar jovens do universo científico, o Cientista Beta.

A iniciativa consiste em conectar adolescentes do ensino médio interessados em fazer pesquisa científica a mentores (pesquisadores de diversas áreas do conhecimento que auxiliam nos projetos) e professores orientadores.

"Eu queria que todo o jovem pudesse vivenciar a experiência que tive de fazer pesquisa. Foi uma das coisas mais incríveis que tive na minha vida. E não só a pesquisa em si, mas as oportunidades que tive por meio dela, como premiações, viagens, troca de conhecimento", contou Vianna. "Fui a lugares que talvez jovens do ensino médio convencional não teriam acesso. Nos dá toda uma visão de mundo diferente."

Para Vianna, humanizar a pesquisa é um dos principais pontos de partida melhorar o cenário no Brasil. "É pensar mesmo, ver o impacto dela [pesquisa] lá no final, seja para a pessoa, para o meio ambiente. Cientista é o agente que faz a pesquisa, mas ele deve fazer a pesquisa para alguém. É se conectar com quem passa o problema e não só estatísticas, dados e números.

Além de Vianna, outros profissionais também vão compartilhar suas reflexões sobre como acreditam que os temas envolvendo a ciência podem ser divulgados de um modo mais atrativo.

  • Carlos Hotta: professor de bioquímica e biologia molecular na Universidade de São Paulo e um dos fundadores do projeto de divulgação científica ScienceBlogs Brasil;
  • Guilherme Longo: professor no departamento de oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e responsável pelo projeto de divulgação científica #DeOlhoNosCorais;
  • Sabine Righetti: professora da Unicamp e idealizadora da plataforma Bori, que está em desenvolvimento para facilitar a divulgação da produção científica no Brasil conectando pesquisadores, suas publicações e jornalistas.

Para Righetti, um dos grandes desafios nesta missão é que o distanciamento dos jovens pela ciência já começa durante a fase escolar. O ensino não é atrativo, os professores não são valorizados e muitas escolas não têm sequer laboratórios para as aulas práticas.

"A gente vive num país com uma educação científica muito ruim. Em avaliações da educação [brasileira] estamos entre os piores. Dificilmente a gente vai conseguir atrair mais pessoas para a ciência, que entendam o mundo, sejam mais questionadoras, se as coisas não mudarem", afirmou Righeti.

"A percepção de alguns é que o Brasil não produz, não inova. Mas é o contrário. Temos profissionais importantes qualificados, com um potencial científico que é muito alto. O que falta é que isso seja divulgado", concluiu.