Uma das raras múmias restantes no Brasil teve sua identidade revelada
Resumo da notícia
- A cabeça de uma múmia de 2,5 mil anos teve suas informações reveladas após pesquisa da PUC-RS
- Trata-se de Iret-Neferet, uma mulher com idade entre 42 e 43 anos e nascida no Egito
- É a primeira múmia do Brasil a ter idade confirmada cientificamente por exame de radiocarbono
- O crânio de Iret-Neferet está em exposição aberta ao público até 28 de julho, na PUC-RS
No Brasil desde a década de 50, o crânio de uma múmia de 2,5 mil anos teve suas informações reveladas recentemente em uma pesquisa da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica), em Porto Alegre (RS).
O tesouro arqueológico pertence ao acervo do Museu 25 de Julho, localizado na cidade de Cerro Largo, no interior do Rio Grande do Sul. Trata-se de Iret-Neferet, que significa "olho bonito" em egípcio antigo. Ela viveu entre 768 - 476 a.C., segundo exame de radiocarbono (C14) realizado na Flórida (EUA), e foi um presente de um egípcio a um morador de Cerro Largo, que resolveu doar o material ao museu gaúcho.
De acordo com o professor e pesquisador Édison Hüttner, que integra o grupo de Estudo Identidade Afro-Egípcias, da PUC-RS, a cabeça da múmia é de uma mulher, com idade entre 42 e 43 anos, nascida no Egito.
"[Ela] deve ter entre 2.495 e 2.787 anos. Esta é a primeira múmia do Brasil a ter idade confirmada cientificamente por exame de radiocarbono. Iret-Neferet se eleva como tributo às múmias perdidas do Museu Nacional e da história como símbolo perene do povo egípcio, que tem nelas suas raízes mais profundas. As múmias do Museu Nacional e do Museu Egípcio em Curitiba não passaram por esse tipo de exame", disse o pesquisador.
Em setembro de 2018, o incêndio no Museu Nacional destruiu múmias que haviam sido compradas pela família imperial.
Fascinado pela cultura egípcia, Hüttner contou que o interesse em Iret-Neferet surgiu quando ele visitou o Museu 25 de Julho. "Em junho de 2017, estive lá e observei a cabeça da múmia que foi apresentada pelo historiador Guido Henz. Este período marcou o início dos estudos", lembrou o pesquisador, que resolveu montar um grupo com outros membros da PUC-RS.
Olho artificial e buraco no nariz
Uma das curiosidades da pesquisa é que a cabeça de Iret-Neferet tem um olho artificial no lado esquerdo, identificado por meio de tomografia realizada no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul. "No olho da múmia foi colocada uma rocha branca carbonática [um tipo de rocha sedimentar] de composição calcítica. Isso faz parte da cultura egípcia e foi comprovado por análise de um microscópio de varredura", explicou o professor da PUCRS.
Outra singularidade destacada por ele é que o nariz do objeto apresenta um buraco (cerca de 2 cm). "Essa era uma das técnicas usadas pelos egípcios para extrair o cérebro das múmias com um gancho de bronze ".
A idade do cadáver foi estimada por meio da extração de um dente: o fragmento foi enviado para reconstituição em um laboratório nos Estados Unidos. Lá, foi confirmado que a arcada dentária seria de uma mulher entre 42 e 43 anos.
Exposição ao público
A cabeça de Iret-Neferet estará em exposição gratuita e aberta ao público de 11 de junho a 28 de julho na Biblioteca Central Irmão José Otão, dentro da PUCRS. Após este período, a múmia será devolvida ao Museu 25 de Julho.
Sobre o radiocarbono (C14)
Esta técnica de datação por carbono-14 foi descoberta na década de 40 por Willard Libby, professor e químico norte-americano que venceu o Premio Nobel de Química em 1960. Como o exame se baseia na determinação de idade através da quantidade de carbono-14 e que esta diminui com o passar do tempo, ele só pode ser usado para datar amostras que tenham até cerca de 50 mil a 70 mil anos de idade.
Os números de Iret-Neferet
- Cabeça: 21 cm de altura; 19 cm de largura; 21 cm de comprimento; 1,726 kg de peso
- Olho: 2,5 cm de altura; 2,6 cm de largura
- Dente: 1,9 cm de altura, 1 cm de largura e 0,8 gr de peso
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