Como app de corrida - e guarda-costas descuidados - estão pondo presidentes em risco
Uma investigação do Le Monde revela como o uso imprudente da aplicação de treinos de corrida Strava pelos guarda-costas dos presidentes da França, Emmanuel Macron, dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin, compromete potencialmente a segurança dos chefes de Estado, revelando com vários dias de antecedência os respectivos locais onde eles poderiam estar hospedados.
Desde 2018, investigações feitas pela mídia revelam problemas de segurança decorrentes do uso indevido do popular aplicativo de corrida Strava. Os serviços de segurança de governos, no entanto, não parecem tê-las levado a sério.
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A última investigação, a "StravaLeaks" publicada pelo jornal Le Monde, demonstrou como a utilização do aplicativo pelos guarda-costas de Emmanuel Macron, Joe Biden e Vladimir Putin, poderia indicar com vários dias de antecedência os respectivos locais onde estariam hospedados estes chefes de Estado durante suas viagens. Informações que, divulgadas, poderiam colocá-los em perigo.
Ao sincronizar o Strava com seu smartphone, um relógio conectado, um GPS ou mesmo um sensor de frequência cardíaca, o utilizador permite ao aplicativo recolher informações relativas à distância percorrida, à duração da corrida ou à frequência cardíaca. As informações coletadas podem então ser compartilhadas ou até acompanhadas de fotos e são geolocalizadas.
Falha de segurança facilita rastreamento
No caso, os usuários do aplicativo foram os guarda-costas dos presidentes que comunicaram de maneira inconsciente, seus movimentos na internet. Uma falha de segurança que permite rastreá-los e assim identificar antecipadamente, por exemplo, os locais onde Emmanuel Macron ficará hospedado durante suas viagens.
De acordo com o Le Monde, estes membros do círculo próximo dos chefes de Estado também costumam compartilhar informações confidenciais na internet como endereço residencial, fotos de parentes e hobbies.
O jornal afirma ter identificado os perfis públicos de 12 agentes do Grupo de Segurança da Presidência da República (GSPR) francesa. Entre 2016 e 2024, foram encontradas online os vestígios de treinos correspondentes a mais de 100 viagens dos presidentes François Hollande e Emmanuel Macron na França e em outros países.
Ao todo, foram identificados pelo menos dez hotéis onde Macron se hospedou, antes da chegada do presidente. Este foi o caso de uma viagem realizada em 2020 a Vilnius, na Lituânia, ou em setembro de 2022, para o funeral da Rainha Elisabeth, em Londres.
A investigação do jornal francês também revela que os guarda-costas de Vladimir Putin costumam correr perto de mansões luxuosas, nas margens do Mar Negro, que, segundo seus opositores, entre eles o falecido Alexei Navalny, seriam propriedades do presidente russo. Acusações embaraçosas sobre a suposta fortuna do líder, negadas por ele.
Localização de Putin no Brasil revelada pelo Strava
Outra informação sobre Putin revelada pelo jornal, diz respeito à viagem do presidente ao Brasil. Nos dias 13 e 14 de novembro de 2019, o chefe de Estado foi a Brasília para participar de uma cúpula internacional que reuniu os líderes do Brics.
Um agente do Serviço Federal de Proteção russ, foi destacado para preparar os locais visitados pelo presidente, e chegou na capital em 11 de novembro. Ele se hospedou no Hotel B, estabelecimento que receberia Putin posteriormente. Essa informação foi revelada porque, enquanto esperava pela chegada do presidente russo, o agente realizou e registrou no Strava uma corrida de 8 quilômetros que começa e termina no hotel. A informação, embora confidencial e eminentemente sensível, foi compartilhada na internet.
O jornal também revelou que os agentes de segurança dos presidentes americanos têm o habito de compartilhar no aplicativo fotos e informações privadas. Através do conteúdo compartilhado pelos guarda-costas de Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden, a publicação identificou os endereços de residências de ao menos 12 dos 26 guarda-costas.
Informado pelos jornalistas do Le Monde da publicação da investigação, o Palácio do Eliseu disse ao diário que a casa do presidente "está completamente segura, sendo o risco, portanto, completamente inexistente".
Já o serviço secreto americano afirmou que os "agentes envolvidos foram prevenidos" e que examinariam informações para determinar "se eram necessárias recomendações e se as formações sobre o tema devem ser reforçadas".
O Kremlin não respondeu à publicação.