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Não está fácil viver no céu! Animais silvestres têm um novo inimigo: os drones

Christopher Schmidt via The New York Times
Imagem: Christopher Schmidt via The New York Times

Ferris Jabr

31/10/2015 06h00

Era uma manhã ensolarada de outubro de 2014 quando Christopher Schmidt caminhava pelos campos verdejantes de Magazine Beach, um parque público às margens do rio Charles, em Cambridge, Massachusetts. Em busca de uma vista melhor do local, ele lançou seu drone, um quadcóptero DJI Phantom equipado com uma câmera.

Então, observou o seguinte: um gavião jovem circulou o aparelho e, em poucos segundos, mergulhou com as asas, o rabo e as garras abertas — ele agarrou o drone durante o voo. Schmidt desligou as hélices e o pássaro foi embora, sem ferimentos aparentes. O drone caiu sem qualquer dano significativo, a não ser por uma pequena torção na trem de pouso.

Schmidt, um desenvolvedor de software de 31 anos, postou o encontro no YouTube. Até o momento o vídeo já foi visto mais de cinco milhões de vezes, mas está longe de ser a única evidência de confronto entre animais e veículos aéreos não tripulados.

Em outros vídeos, falcões-do-mar, gralhas, gaivotas e gansos perseguem e atacam drones em pleno ar. Com um salto e um soco, um canguru derruba um drone no chão. Um guepardo persegue, salta e destrói outra máquina. Um cabrito nervoso dá uma cabeçada em um drone que se arrisca em um voo rasante. E um chimpanzé rebelde que vive em um zoológico holandês derruba o intruso com a ajuda de um galho.

À medida que os drones se tornam menores, mais baratos e fáceis de operar, os animais encaram cada vez mais esses paparazzi voadores. Durante uma conferência recente, Rich Swayze da Administração Federal de Aviação estimou que um milhão de drones serão vendidos nos EUA neste natal. Ainda assim, a agência ainda não publicou uma regulamentação oficial para o uso comercial dos drones. Quanto aos usuários recreativos, a agência os encoraja a seguir diretrizes de segurança básicas, que praticamente não mencionam os animais.

Os usuários recreativos dos drones já afastaram focas e seus filhotes para dentro do mar e assustaram furões que mergulharam nas águas de Morro Bay, afirmou Scott Kathey, coordenador de regulamentação federal do Santuário Marinho Nacional da Baía de Monterey, na Califórnia. Em junho do ano passado, o Serviço Nacional de Parques proibiu o uso de veículos aéreos não tripulados nos partes, em parte porque os drones incomodam os carneiros selvagens e outros animais.

Essas interações alarmaram os biólogos especializados em animais silvestres — especialmente à medida que mais e mais cientistas têm usado os drones para estudar animais. Os aparelhos frequentemente são mais seguros, leves e baratos e geralmente causam menos incômodo que helicópteros, jipes ou barcos, por exemplo. "A última coisa que o cientista quer fazer é atrapalhar o comportamento natural dos animais. Eles querem passar despercebidos", afirmou Kathey.

Às vezes a estratégia funciona, outras vezes não. Os drones ajudaram os cientistas a pesquisar pinguins, focas-leopardo, garças e dugongos. Na Patagônia, os cientistas usam drones para coletar a água e o muco lançados pelas baleias com o objetivo de monitorar sua saúde. E o Serviço de Vida Selvagem do Quênia concluiu que a vigilância dos drones ajuda a reduzir a caça ilegal de elefantes e rinocerontes.

Entretanto, o tamanho reduzido e a agilidade dos drones — e sua presença invasiva — pode ser extremamente incômoda, e até perigosa para a fauna silvestre. Os cientistas estão começando a avaliar os riscos e benefícios, mas ficou claro que tudo depende das espécies estudadas e de como os drones são utilizados.

No ano passado, David Grémillet, ecologista do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, e uma equipe de cientistas utilizaram uma série de quadcópteros Phantom perto de marrecos selvagens em uma lagoa do Zoo du Lunaret, em Montpellier. Mais tarde, a equipe voltou os drones para flamingos e pernas-verdes-comuns na lagoa turva próxima ao delta do Ródano.

Os pesquisadores variaram a velocidade e o ângulo de aproximação dos drones em 204 voos, observando a reação dos pássaros com a ajuda de binóculos. Oitenta por cento das vezes os cientistas posicionaram o drone a cerca de 4 metros dos pássaros sem qualquer reação notável.

Todavia, quase todas as vezes que o drone desceu verticalmente, os pássaros se moveram ou levantaram voo, provavelmente porque o ângulo é similar ao das aves de rapina.

"Vemos um potencial óbvio para a pesquisa, mas só os riscos foram avaliados de antemão. Cada espécie apresenta uma reação diferente", afirmou Grémillet. Pássaros territoriais, como os gaviões, corvos e gaivotas provavelmente vão atacar os drones, destacou. Mas os aparelhos podem ser perfeitos para observar aves aquáticas a mais de 45 metros de altitude.

Todavia, Grémillet e os coautores do estudo destacam que mesmo quando os animais não demonstram reações ostensivas à presença dos drones, "isso não significa que a presença do drone não seja um fator de estresse para os animais". Para ter certeza seria necessário medir a fisiologia interna do animal.

Recentemente, uma equipe de cientistas norte-americanos resolveu fazer exatamente isso. Eles programaram quadcópteros autônomos para voarem em círculos acima de quatro ursos negros adultos e diversos filhotes em florestas, descampados e fazendas no noroeste do Minnesota. Em um estudo anterior, os ursos adultos haviam sido equipados com colares GPS e pequenos monitores cardíacos.

A julgar pela aparência, os ursos não pareciam especialmente incomodados. Já que raramente tentavam fugir dos drones, embora um deles tenha parado para observá-lo no céu.

Todavia, durante todos os voos dos drones a frequência cardíaca dos ursos aumentou consideravelmente, chegando a 123 batidas por minuto – o que representa um aumento de 400 por cento, em um dos casos. O zunido do drone foi forte o suficiente para acordar um urso de sua hibernação.

"Esses ursos estão habituados aos sons produzidos pelo homem, bem como a equipamentos rurais e estradas e eu não fazia ideia de como eles iriam reagir", afirmou Mark Ditmer, biólogo da Universidade do Minnesota, que conduziu o estudo. "Mas algumas das frequências cardíacas foram chocantes. Eu não sei se já havia medido uma mudança tão drástica, a não ser em casos em que o animal foi ferido por um caçador".

Ursos, veados, coiotes e outras espécies vivem em contato com os seres humanos e aprenderam a tolerar e a tirar proveito das tecnologias humanas, abrindo latas de lixo e saltando cercas para conseguir comida. Os drones, entretanto, não são apenas um elemento imóvel da presença humana. Eles foram projetados para ocupar nosso lugar e ir a lugares onde não conseguimos chegar. Os cientistas não sabem se os animais conseguirão se adaptar.

"Há muitos vídeos na internet que mostram drones colidindo com pássaros. Algumas pessoas acham graça nisso. Eu não. Eu acho que se todo mundo começar a usar drones, isso vai virar uma bagunça", afirmou Grémillet.

David Bird, professor emérito de biologia silvestre na Universidade McGill, utilizou os drones para pesquisar gansos, andorinhas e a nidificação das aves de rapina. Algumas das aves que ele estuda defendem agressivamente os ninhos contra invasores. Bird já esteve em um helicóptero que foi atacado por uma águia marinha.

No geral, ele acredita que os drones tornam as pesquisas mais seguras, rápidas e menos estressantes tanto para as pessoas quanto para os animais. Mas ele ainda se preocupa com o "velho oeste" do uso recreativo dos drones.

"Algumas dessas hélices podem causar danos consideráveis. Qualquer pessoa responsável precisa estar ciente dos riscos".