'Não cantamos em inglês': Black Pantera se entendeu afrolatino no Chile
Colaboração para Splash, em São Paulo
21/09/2024 05h30
Black Pantera contou ao No Tom, programa apresentado pelo locutor e jornalista Zé Luiz e a cantora e compositora Bebé Salvego, sobre a descoberta da identidade da banda e crescimento nos últimos anos.
Em 2016, o trio mineiro fez seu primeiro show fora do Brasil e não parou mais, já somando passagens por Europa e Estados Unidos.
Mas foi em um show no Chile que o grupo sentiu o poder de seu trabalho e percebeu como o Brasil não costuma olhar para a América do Sul. "Foi mágico", diz o integrante Chaene. "A questão do 'afrolatino' veio desse show. Tínhamos acabado de lançar um EP em inglês e, chegando lá, vimos todas as bandas cantando em espanhol. Os caras falam a língua nativa e nós vamos cantar em inglês? (...) Sentimos um poder ali".
A formação da banda também permitiu que o trio vivesse novas experiências, como andar de avião pela primeira vez na faixa dos 30 anos de idade para tocar em shows. Ao lado de bandas como System of a Down, o trio se apresentou em festivais como Download Festival (Leicestershire, Inglaterra) e Afropunk (em Nova York).
A gente mal saiu de Uberaba e, quando viu, estava em Paris. Três moleques com um sonho quase impossível Charles
Foi nessa viagem que eles também viram pela primeira vez o mar, diz Pancho. "E foi no Sul da França", conta.
'Falar de racismo e privilégio incomoda': Grupo aborda luta pessoal
Em meio ao cenário de apropriação do rock, um gênero criado por uma mulher negra, o trio fala em suas letras sobre a falta da presença negra em espaços como os próprios festivais de música. "Falar de racismo e privilégio incomoda. Só a imagem da banda já é muito forte (...) O cara que é realmente racista odeia a existência da banda", explica Chaene.
Na música, a dupla de irmãos Chaene e Charles, junto ao amigo baterista Pancho, executa sua "luta pessoal" e vê as consequências entre os fãs. "É gratificante ver a molecada interessada", diz Charles. "Em dez anos de banda, você vê o público muito mais diverso; cada vez tem mais pessoas pretas, e mais mulheres", acrescenta Rodrigo "Pancho".
Temos uma conexão com o público muito forte; acho que o show ao vivo é nosso maior cartão de visitas (...) Hoje o Black Pantera é maior do que nós 3 hoje. É quase um movimento Pancho
Antes do grupo descobrir sua força, Charles lembra o "descaso" do irmão Chaene. "Ele nem ligava", diz. "Só parei para prestar atenção quando ele me pediu o baixo emprestado para gravar as músicas e eu disse: 'Não vou emprestar meu baixo, seu puto'", brinca Chaene. "Mas a ficha caiu quando ouvi a música".
Música que 'furou a bolha' emociona até hoje
Em meio aos quatro álbuns de estúdio, um ao vivo e um EP, foi com a música "Tradução" que a banda extrapolou seu público de crossover thrash.
A canção, que homenageia as mães trabalhadoras do Brasil, "furou a bolha" ao cantar de forma sensível o dia a dia de várias mulheres e conseguiu alcançar as rádios. "Furou a bolha porque fala de racismo estrutural de uma forma tão poética", diz Pancho.
É a história de muita gente, as pessoas se identificam. A gente se conecta através da arte Pancho
Chaene afirma que se emociona lendo os comentários dos ouvintes da música. "É a música da minha vida", diz. "Começo a ler e começo a chorar com os comentários do Youtube, porque o povo descreve sua vida".
Ele também lembra que a música foi a última do disco a ser apresentada para a família. "Quando minha mãe ouviu, foi foda", disse.
No Tom
No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Black Pantera: