Henrique Portugal vê 'inversão social' na música: 'As comunidades mandam'

Henrique Portugal, ex-tecladista do Skank, quer provar que é possível viver da arte —e não só subindo em um palco.

"A indústria da música é o maior fator de inclusão social que existe", defendeu ele, que busca a inclusão como representante da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus) em Minas Gerais. A afirmação foi feita durante o No Tom, programa de Toca com Zé Luiz e Bebé Salvego.

Quem manda na indústria hoje é a música urbana das comunidades e periferias, afirma o artista. "E o mais legal: os artistas não precisaram sair das comunidades [para gravar]; os estúdios estão perto, e isso não tem nada a ver com leis de incentivo, porque a maioria desses projetos são viáveis financeiramente".

Existe atualmente uma "inversão" da pirâmide de decisão do cenário musical, diz Henrique, na qual as classes C e D começam a definir o que as classes A e B consomem. "Na verdade sempre teve essa inversão, de uma forma meio escondida. Hoje está escancarada", acrescenta Bebé Salvego.

Além da regionalidade, outro papel importante na cultura musical brasileira é o do beatmaker, avalia. "Ele é considerado compositor, porque é tão importante quanto quem faz a letra", diz. "Há nem uma, nem duas, nem três músicas do Skank que nasceram de um bit que o Haroldo [Ferretti] levou pro estúdio".

A mixagem e a música eletrônica também ganham espaço nessa equação. "Hoje, músico não pode ser só artista, tem que ser múltiplo para inovar", diz.

Dos escritórios ao Skank

Henrique Portugal também lembrou, na entrevista, o início de sua carreira como músico. O artista trabalhava em uma multinacional antes de entrar profissionalmente no ramo musical —trocando os ternos de uso diário por bermudas e boné virado pra trás.

De uma banda inicial com Samuel Rosa, nasceu o Skank, em 1991. Mas, antes disso, Henrique chegou a gravar três discos do Sepultura. "No final da história, eu gosto de música. Toco desde os cinco anos. Eu era analista de sistema, economista e larguei tudo para realizar meu sonho de ser artista —e não me arrependo de absolutamente nada", diz.

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Sou a prova viva de que é possível viver de arte no Brasil. Henrique Portugal

Com uma família de músicos, Henrique diz que aprendeu a ler partituras antes de aprender a ler palavras. "Minha música começou muito antes do Skank e vai continuar depois", diz. "A música faz parte da minha vida."

Ainda assim, ele afirma que o Skank continua existindo, apesar de não fazer mais shows —e que o grupo ainda tem trabalhos para serem lançados, como o registro de seu último show, no Estádio Mineirão (Belo Horizonte).

'Não tenho que provar mais nada'

Em junho deste ano, Henrique Portugal lançou seu mais recente projeto: um EP com o grupo Solar Big Band, que soma clássicos de Roberto Carlos, Beatles, Tom Jobim e Carlos Gardel.

Não tenho que provar mais nada, tenho uma história maravilhosa, linda, vitoriosa, acho que é hora de me divertir um pouco. Henrique Portugal

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Foram necessários quatro anos para conseguir autorização para lançar a regravação de "Olha", de Roberto Carlos —mas foi justamente essa música que o fez "sair do lado do palco para ir para a frente dele".

A ideia da gravação, inclusive, nasceu como um presente de Henrique para sua então namorada e atual esposa, Daniela Pacheco. "Roberto Carlos é o cara que mais entende a alma feminina no Brasil", elogia.

No Tom

No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Henrique Portugal:

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