Kapranos: 'Queremos ser o mais Franz Ferdinand possível'; banda toca em SP
Lembro de um show em São Paulo que foi dos mais intensos que já fizemos. O público estava realmente enlouquecido.
Este é Alex Kapranos, vocalista e guitarrista do Franz Ferdinand, banda escocesa que fará a nona passagem pelo Brasil nesta quinta (14), com apresentação no Tokio Marine Hall, na zona sul da capital paulista.
Em entrevista por videoconferência concedida do quarto do hotel, Kapranos estava animado por voltar ao país em que fez "muitos amigos". "Foi aqui que conheci David Corcos (engenheiro de som e produtor), com quem produzi o 'Men's Needs' (disco de 2007 da banda escocesa The Cribs). Outro amigo é o Daniel (Hunt), do Ladytron, que vive em São Paulo. Vai ser legal reencontrá-lo."
Nesta turnê pela América do Sul, o Franz já passou por Lima, Santiago, Buenos Aires e Montevidéu. Depois, vai à Colômbia. No início de 2025, engata uma grande sequência de shows pela Europa.
Em janeiro, sai o sexto disco do quinteto, "The Human Fear". Dele, a gente já conhece "Audacious", o primeiro single. Nos shows sul-americanos, a banda toca entre seis e sete faixas desse álbum.
É uma excelente oportunidade de ver como este grupo surgido no início dos anos 2000 continua tão interessante quanto há 20 anos. Em todas as vezes que desembarcou por aqui, o Brasil pôde acompanhar a evolução da banda, disco a disco. Ou seja, eles vieram muitas vezes, mas sempre tocando músicas novas.
Claro, vamos tocar os hits, como 'No You Girls', 'The Dark of the Matinée', 'Take Me Out', 'Love Illumination', 'Walk Away', porque as pessoas ficarão desapontadas se não tocarmos. Essas músicas antigas são legais, gosto de tocá-las ao vivo, e elas ainda são empolgantes porque estão dentro de um contexto de uma banda que ainda está viva. Uma banda que está compondo novas músicas.
A seguir, leia a entrevista com Alex Kapranos.
Vocês estão tocando algumas faixas do próximo disco, "The Human Fear". Como está sendo a recepção?
Alex Kapranos - Estamos tocando seis ou sete faixas do novo disco. Bem, acho que as músicas são boas! E são boas ao vivo. Sobre isso, eu penso sempre quando vou assistir às minhas bandas favoritas: o que eu quero ouvir. Eu quero ouvir canções novas ou menos conhecidas, mas que sejam boas. Claro, vamos tocar os hits, como 'No You Girls', 'The Dark of the Matinée', 'Take Me Out', 'Love Illumination', 'Walk Away', porque as pessoas ficarão desapontadas se não tocarmos elas. Essas músicas antigas são legais, gosto de tocá-las ao vivo, mas elas ainda são empolgantes porque estão dentro de um contexto de uma banda que ainda está viva. Uma banda que está compondo novas músicas.
Vejo muitos artistas hoje que não tocam músicas novas, talvez porque há pessoas filmando, e elas vão colocar no YouTube ou no Instagram... Mas sinto que se você está animado com uma música, se você acha que essa música é boa, você deveria tocá-la ao vivo! Acho que somos uma banda boa ao vivo, então fico feliz que as pessoas ouçam essas novas faixas. E vejo que, quando tocamos essas faixas novas, os nossos fãs mais antigos, os mais hardcore, pegam o celular para filmar e mandar para os amigos. Acho isso muito legal.
Isso me lembra de quando eu era criança, adorava as fitas piratas (com gravações ao vivo, também chamadas de bootlegs). Porque ouvia versões diferentes de músicas que já conhecia. Lembro-me de que tinha um bootleg dos Smiths com músicas que eles ainda não tinham lançado, músicas que eles não costumavam tocar muito. Eu amava aquilo.
Esse novo disco, já conhecemos "Audacious". O que você pode falar sobre o álbum? Você o coloca como numa evolução linear da discografia do Franz Ferdinand?
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Quero receberKapranos - Acho que 'Audacious' dá um gostinho pequeno do disco, porque ele vai para muitos lugares. 'Hooked' é bem diferente... Na verdade, todas as músicas são diferentes (de 'Audacious'). Depois de termos feito a compilação 'Hits to the Head' (2022), comecei a tentar me concentrar no que era o Franz Ferdinand. Não sei, acho que queria que esse disco fosse o 'mais Franz Ferdinand possível'. Mas, ao mesmo tempo, quando você está contente com a sua identidade, com o que você é, sem ter vergonha de ser quem você é, isso te liberta para explorar novos lugares, novos sentimentos. É confortável ser o Franz Ferdinand, mas queríamos entrar em uma nova aventura.
Vocês estão há 20 anos lançando discos e excursionando. O que mudou em relação àquele início dos anos 2000?
Kapranos - A tecnologia mudou muita coisa. Para uma banda que está em turnê, como nós, ficou muito fácil manter o contato com a família e os amigos. Mas tem uma coisa que sinto falta, que é me perder nas cidades. Quando começamos, a gente chegava a uma cidade e não fazia ideia de onde estávamos, para onde iríamos. Era algo bem legal, porque você tinha um senso de descoberta. Hoje você pega o seu celular e já sabe onde está, onde tem um café. É bem prático, claro, mas aquele senso de mistério desapareceu.
Hoje estamos em uma indústria muito grande, diferente, da qual não pertenço mais, sabe? Mas algumas coisas permanecem. A essência da música é a mesma. A minha vontade de subir em um palco não mudou. É a grande alegria da minha vida. Então, por mais que a indústria tenha mudado, com toda a tecnologia e tal, essa sensação ótima de tocar ao vivo é a mesma.
Para quem é músico está mais difícil atualmente viver de música?
Kapranos - Sim, muito da grana que existe está indo para as mãos de grandes corporações. Pensando bem, acho que a estrutura da indústria fonográfica hoje é parecida com aquela dos anos 1950, em que havia pouca gente abocanhando muito dinheiro e muitos músicos ganhando bem pouco.
Além disso, não sei como é no Brasil, mas no Reino Unido e em partes da Europa e dos EUA, muitas casas de shows estão fechando, e isso é muito duro para as bandas.
Como você enxerga, hoje, aquele Franz Ferdinand dos dois ou três primeiros discos ("Franz Ferdinand", de 2004; "You Could Have It So Much Better", de 2005; "Tonight: Franz Ferdinand", de 2009)? Havia bandas como Interpol, Strokes, Yeah Yeah Yeahs e LCD Soundsystem, entre outras. Acha que estava fazendo parte de alguma cena?
Kapranos - Gosto dessas bandas que você mencionou, respeito todas elas. Naquele início dos anos 2000, acho que havia o sentimento de que muita coisa legal estava acontecendo, havia muitas bandas surgindo. Mas não me sentia parte de uma cena, porque não crescemos com aquelas bandas, não saíamos juntos quando estávamos começando, sabe?
Se for para falar em cena, penso nos meus contemporâneos de Glasgow. Até sinto que havia uma cena ali, no final dos anos 1990. Bandas que se conheciam, que tocavam nos mesmos lugares. Muitas delas você nunca ouviu falar. Talvez de Belle and Sebastian, Mogwai, mas outras nunca estouraram, como Bis, Lung Leg, The Poison Sisters, Glen and Glenda. Eram bandas muito legais e faziam parte daquela cena antes de o Franz Ferdinand estourar.
Gosto das bandas que você citou, mas não acho que a gente estava fazendo a mesma coisa. Yeah Yeah Yeahs é bem diferente dos Strokes, do Interpol, tinha o Hives na Suécia, o White Stripes. Gosto de todas, nos damos bem, mas não vejo como uma cena.
Franz Ferdinand
Quando: quinta (14), às 22h
Onde: Tokio Marine Hall (r. Bragança Paulista, 1.281, São Paulo, SP)
Quanto: a partir de R$ 190
Classificação: 16 anos
Ingressos à venda pelo site da Tickets for Fun.
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