'Samba tem que ter sacanagem': Magnu Sousá lembra como nasceu Samba da Vela
Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira contaram ao No Tom, programa de TOCA com Zé Luiz e Bebé Salvego, sobre como nasceu, em 2000, o "Samba da Vela", roda de samba de São Paulo que deve ter a duração de uma vela acesa.
"[Na época, pensamos em] Uma coisa fechada para compositores, que não teria público e acabaria até meia-noite. E silêncio", lembra Maurílio. No menu, era sopa e café.
Foram necessários alguns testes até descobrir a "vela ideal", que durasse as quatro horas de evento, diz Magnu. O objetivo era fazer um grande sarau de bons músicos e compositores, revelando novos talentos. "Acabamos cuidando de várias carreiras", diz.
Quantos Cartolas a gente de repente tem perdido nas periferia ou nos centros, sem uma oportunidade? Magnu Sousá
Segundo Maurilio, de início, Beth Carvalho brincou sobre não ter gostado do Samba da Vela por causa das regras. "Ela dizia: 'Mó silêncio. Samba tem que ter sacanagem'", diz Maurílio.
O evento vingou, e tamanho o sucesso, atraiu até Flea, baixista do Red Hot Chilli Peppers. "Ele estava ali, batendo na palma da mão", lembram. "Alguém brincou: Ele é irmão do Chapinha".
Demissão após contato com Beth Carvalho: 'Atrapalhava meu samba'
Na entrevista, a dupla também comentou a origem de sua relação com Beth Carvalho.
Foi tocando em um bar em 1996 que a dupla conheceu a cantora, de quem acabaram se tornando "afilhados". "Foi Beth chegar no bar que começou a chegar sambista de tudo quanto é lado querendo mostrar um samba. A gente ficou de lado", lembra Maurílio. No entanto, eles conseguiram se apresentar e provar seu valor para a cantora.
A proximidade cresceu e, como madrinha, Beth ajudou os irmãos a construir sua carreira. Com o tempo, os dois pediram demissão dos respectivos trabalhos para "viver da música", formando logo depois o Quinteto em Branco e Preto com os irmãos Yvison, Eversob e Vitor Pessoa. Quatro anos depois, o quinteto foi convidado para acompanhar Beth, se apresentando por todo o Brasil. Magnu ri ao lembrar o que falou para o patrão na hora de se demitir: "Este trabalho está atrapalhando meu samba".
A dupla também falou sobre seu atual projeto, o Quintal dos Prettos, roda de samba que realizam há seis anos no quintal de uma casa, sem microfone e "sem pensar em ninguém". O samba no Belenzinho já recebeu convidados como Emicida, Maria Rita, Salgadinho, Luciana Mello e muitos outros.
O povo morria de saudades de uma roda de samba sem microfone, informal. E deu certo demais, foi uma identificação meio natural. [A notícia] se espalhou que nem fogo no palheiro. Maurílio Sousá
Para Maurílio, o pagode é "uma grande festa" que eles tiveram o prazer de entrar. Já Magnu diz que o pagode "é o lado jovem do samba", no sentindo comportamental. "É um comportamento jovial do samba", diz.
O mais recente lançamento da dupla, "Um Brinde ao Mestre Cartola", é uma recriação do primeiro álbum solo do mestre Cartola, que faz 50 anos. Sousá justifica a gravação com arranjos originais do icônico disco de 1974.
Os arranjos do Dino Sete Cordas, grade violonista da época de ouro, daquele pessoal do choro, é uma coisa tão bem feita, tão maravilhosa, que se a gente tentasse fazer alguma coisa diferente, não teria tanto sucesso pessoal como a gente teve nesse álbum, ao realizar esse trabalho de uma singeleza tão profunda, de um compositor maravilhoso como é o Cartola. Maurílio Sousá
Maurílio destaca ainda outro detalhe: "O genial desse trabalho é que você ouve a voz do Cartola e a melodia dele, e ninguém entra na voz dele. Você tem a cuíca do Marçal, que não bate no violão do Dino Sete Cordas, que também não bate no surdo do Luna".
Nos bastidores como jurado do Grammy Latino, Magnu ouve 2.000 músicas por categoria
Magnu ainda revelou algumas curiosidades dele e do duo, como ser votante da Academia do Grammy Latino. "Chega uma tonelada [de músicas]. É muita música para ouvir, tipo 2.000 músicas em uma categoria só", contou.
A dupla também disse ter conhecido Chris Martin, do Coldplay, no Montreux Jazz Festival (festival de música mais conhecido da Suíça, que ocorre anualmente às margens do Lago Léman). "Quando ele viu a gente, ele já veio em cima: 'I love cavaquinho'", disse.
Em seguida, o cantor inglês convidou a dupla para uma festa em sua casa —só se esqueceu de deixar o endereço. "Sumiu e a gente nunca mais o encontrou. Mas acho que fomos os primeiros do samba que ele conheceu", disse Magnu.
Por fim, Maurílio lembrou episódios de preconceitos que já sofreram —seja pela cor, seja pela política, como afilhados de Beth Carvalho, uma mulher militante. "A gente começa nossa vida sofrendo preconceito", afirma. "Teve até jornalista perguntando se podia falar 'pretos'".
No Tom
No novo programa de TOCA, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira:
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