Topo

Boogarins: 'Mais velhos que acham que o rock morreu se emocionam no show'

Colaboração para Splash, em São Paulo

07/12/2024 19h00

Fernando "Dinho" Almeida e Raphael Vaz explicaram ao No Tom, programa do TOCA com Zé Luiz e Bebé Salvego, como definem o estilo musical do Boogarins.

Raphael diz que o grupo surgiu durante uma onda de retorno do psicodelismo. Após uma série de "experimentos", chegaram ao som pretendido. "Fomos definidos como uma banda psicodélica, mas nos definimos mais como uma banda de rock", diz.

É algo que abre os sentidos, nos faz ir além (...) é nossa intenção fazer uma música que marque. Raphael Vaz

Após 12 anos de estrada, o grupo construiu seu estilo e recalcou suas referências, conseguindo alcançar desde os mais jovens até os mais velhos. "O tanto de molecada que foi fazer banda, e o pessoal mais velho, que achou que o rock tinha morrido, mas aparece no show e fica emocionado desde o começo", diz Raphael.

O grupo surgiu em Goiânia, onde há uma forte concentração do sertanejo, mas também da cena independente e alternativa. "Quando chegamos como banda, o negócio já estava estruturado (...) era um lugar muito fértil", diz Dinho.

A amizade entre eles, no entanto, surgiu antes da banda. O quarteto começou enquanto ainda estudava, como uma "banda de quarto", mas logo assinou um contrato internacional.

Segundo Dinho, tudo se deve a um "encaixe muito nosso" —há bandas que crescem e terminam rápido, mas esse não é o caso do Boogarins. "Pela tranquilidade que a gente consegue ter nas nossas relações, na nossa amizade e o prazer de tocar", explica.

'Um jeans e 4 cuecas': Banda fez 70 shows em 6 meses na gringa

Os dois também comentaram sobre o interesse do público internacional no Boogarins; o quarteto saiu do país pela primeira vez em 2014. "Uma turnezinha, coisa de 70 shows seguidos", brinca Raphael.

Eram 30 nos Estados Unidos, ia para Europa, fazíamos 20 e poucos, e depois voltávamos para os EUA (...) Mas foram surgindo outros convites no meio do caminho. Raphael Vaz

Para caber tudo na "van" que os levaria na estrada, a bagagem era compacta. "Uma calça jeans, três camisetas pretas e quatro cuecas", lembra Raphael.

O tempo de estrada os inspirou para um novo álbum, gravado na Espanha. "Entramos num estúdio bem pequeno, analógico. Supermassa a experiência. O engenheiro de som envelheceu uns dez anos com a gente; no final do processo tinha a voz fraca."

Nessa primeira leva de shows, havia poucos brasileiros que os assistiam. "A gente tava no circuito de banda de rock doido, que só pelo fato de não cantar inglês, já soávamos meio exóticos. Cantamos para um monte de roqueiro velho na Europa. Foi demais, e ao mesmo tempo nos descobrimos como banda", diz Raphael.

A relação com os fãs brasileiros acabou sendo cultivada à medida que os shows cresciam dentro do Brasil. "O jovem brasileiro é mais inteligente, não sei se é porque a gente comunica mais", diz Dinho.

Essa conexão nossa é muito boa, porque a gente se vê em quem gosta de nós: jovem que gosta de coisa maluca, que procura sentir alguma coisa na música. Dinho

Por isso, após os shows, o quarteto procura ouvir seus fãs —e entre eles, há quem faça seu próprio som. "O show é um lugar de interação, e quem gosta de Boogarins é mais legal", brinca Dinho. "Gostar de Boogarins é um bom filtro para procurar relacionamento."

Raphael também comentou sobre o grupo ter se apresentado no Coachella de 2018, na Califórnia. "Seu nome está no line-up, mas o mais divertido é ver shows que você quer muito ver", avalia.

Colocaram a gente no palco mais longe que tinha, às quatro da tarde, e teve um atraso no festival (...) e mesmo assim forçaram a gente a começar", conta. "Mas nos divertimos pra caramba (...) vimos a Beyoncé de pertinho. Raphael Vaz

Outra experiência marcante foi a de passar um mês em uma casa em Austin (EUA) com equipamentos alugados para criar o álbum "Manchaca" (Vol. 1 e 2). "Jogamos truco pra caralh* (...) Ficávamos relaxados, tocávamos no final de semana e fazíamos essas músicas", brinca Raphael. "Foi um exercício criativo muito intenso, e tudo isso foi essencial para chegar no 'Bacuri'", completa Dinho.

'A gente é a melhor banda de rock do Brasil. Fo**-se o rock!'

A dupla ainda explicou como enxerga a cena do rock atualmente —e como o gênero se funde ao lado onírico do Boogarins.

Raphel diz que Dinho sempre foi o mais espiritualizado e intuitivo do grupo e que a face mais fantasiosa da banda se apresenta "em camadas". "Tem coisas que parecem que estão na superfície, mas depois que você toca a música em 30 shows, ainda está maravilhado com a letra e acessando um outro sentido dela, que vem junto com o 'cantar'", explica Raphael.

Segundo Dinho, a intenção sempre foi ser "provocador" nas canções. Ele, inclusive, se recorda de uma matéria da revista "Vice" que dizia: "Eu não entendo as letras do Boogarins". "Tem o fator da mixagem e esse lugar de onírico; essa mensagem meio viajada, que tem essa coisa do estalo", diz.

A gente acreditava que as músicas eram mais fluidas (...) O que não impede, na caminhada, de a gente buscar mais clareza, letras melhores. Dinho

"Bacuri", o quinto disco do grupo, que começou a ser gravado em 2021 e acaba de ser lançado, de certa forma, é uma tentativa de acessar esse lugar de maior clareza, explica Dinho. "Estamos no lugar de composição de passar a mensagem mais clara."

A dupla também comenta o projeto em que tocaram Clube da Esquina, álbum de 1972 e movimento musical inovador liderado por Milton Nascimento e Lô Borges. "Pensamos: Se a gente fizesse Zeca Pagodinho ia ser muito escracho", conta Raphael. "A gente conversa com a tradição da música brasileira (...) Nunca vimos essas músicas ao vivo por ninguém. É muito bom mostrar para o nosso público doente por música", completa Dinho.

Clube da Esquina me deixou melhor músico. Dinho

O rock segue vivo dentro e fora do país, segundo ele. "Tem essa volta do emo", comenta Dinho. "Tem muita banda nova, de várias linhas."

De acordo com Dinho, o universo da música é gigante e não precisa ser colocado em caixas. "Olha o que é o rock, o rap, o funk, o sertanejo (...) A 'caixa do rock' parece ser até pouca", diz Dinho.

Foda-se o rock. Foda-se a linguagem que tá rolando. Tem música nova muito interessante. Gente muito doida também pra construir uma nova parada que se conecte ao rock e se conecte a várias coisas. Que os caras façam música, vivam disso e consigam transmitir ideias. (...) Podem reivindicar esse lugar de reviver o rock, a gente pode falar que está 'retrazendo' o rock. A gente é a melhor banda de rock do Brasil (...) Boogarins tem esse lugar de que quem gosta de nós gosta de tudo. Essa coisa de uma coisa só morreu. Dinho

No Tom

No novo programa de TOCA, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Fernando "Dinho" Almeida e Raphael Vaz, do Boogarins:

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Boogarins: 'Mais velhos que acham que o rock morreu se emocionam no show' - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Últimas