'Exilado, sim, preso, não': Dexter lembra solo que ganhou 7 prêmios
Dexter não esconde ao No Tom, programa do TOCA com Zé Luiz e Bebé Salvego, que foi o rap quem o ajudou a ser mais "questionador" —e até a denunciar as mazelas do sistema carcerário.
O cantor esteve preso entre 1998 e 2011 condenado por sete assaltos. Foi justamente aí, na penitenciária do Carandiru, que nasceu o 509E, dupla com Afro-X que lançou dois discos com a ajuda da atriz Sophia Bisilliat, voluntária em presídios na época.
Com a dupla 509E ele ganhou projeção nacional com rimas que refletiam sobre o dia a dia no presídio. "Costumo dizer 'exílio', não 'preso'", explica Dexter. "Estava escrito que eu tinha que ir para lá e aprender algumas coisas. Entender que o que se tem lá dentro são seres humanos também. (...) Sobrevivi por conta do hip hop (...) Ele fez com que eu olhasse 'por cima' e escrevesse sobre isso."
Na entrevista, o cantor explica como lançou seu primeiro disco solo, "Exilado Sim, Preso, não", em 2005, um ano após o fim do 509E. Transferido para a Penitenciária 2 de São Vicente, ele começou a escrever novas letras. "O rap é minha vida e não podia parar por conta de nome", conta. "Depois que o disco foi para a rua, começou a ganhar prêmios, vender 3 mil cópias em um dia —um put* número para um cara que tá preso".
Na época, ele chegou a vencer sete premiações, incluindo duas de Melhor Álbum do Ano —mas não pode comparecer por estar preso.
Ele então começou a receber pedidos de entrevistas —"até do Faustão", lembra— mas teve receio de conceder suas palavras para um apresentador em específico: Jô Soares. "Sempre gostei dele e o vi como um cara inteligente, que discutia muito bem as coisas. Mas, no meu caso, de presidiário, achei que ele fosse brincar com a situação e fiquei com medo de mandar ele se f*der em frente às câmeras", explica. "Nesse tempo, eu tava meio que perdendo a ternura; um homem de pedra. Tava bem difícil para mim."
'O rap sempre trocou uma ideia comigo, era o pai que eu não tinha'
O cantor, cujo verdadeiro nome é Marcos Fernandes, também conta que cresceu com a música, mas só "adentrou" nela nos anos 1990, ao som de Racionais.
Ele explica que começou a cantar rap a partir da música "Pânico na Zona Sul", que segundo ele retratava a realidade que ele vivia em Diadema. "Acendeu uma luz no quarto escuro da ignorância em que eu vivia", avalia. "Cresci num barraco de pau dividindo um quartinho com minha mãe, ratos e baratas. O lance era bater de frente mesmo. Esse ódio estava escondido em algum lugar e não sabia como canalizar."
Mais tarde, ele diz que foi "convocado para a mudança" ao assistir a um show dos Racionais em um baile. "Foi um chamado mesmo? A magia dos caras cantando e dominando a massa nas ideias; uma eloquência, uma coisa bonita que eu nunca tinha visto", lembra. "Foram coisas profundas (...) Falei: 'Quero ser isso aí. Se isso aí é rap, eu vou ser rapper'."
O rap sempre trocou uma ideia comigo, era meu irmão mais velho, o pai que eu não tive. Tenho um carinho e amor por essa cultura e música muito grandes. Devo tudo ao rap Dexter
Na segunda vez em que se deparou com o grupo em um baile, o paulista quis "trocar uma ideia" com Mano Brown e contou sobre sua primeira banda, a Snake Boys. "Ali começa nossa história", conta. "Essa cultura [do rap] me tomou por completo, me convocou (...) para 'vomitar' tudo o que a gente sente quando se mora na periferia e se é preto. Passei a ter uma ideologia, uma filosofia, porque a escola não me ensinou isso."
Uso indevido de música em campanha de Marçal
Na entrevista, Dexter ainda comentou sobre Marçal ter usado sua música em publicações de campanha e lembrou que, em 2024, a Justiça eleitoral proibiu o uso da obra de artistas sem autorização.
Utilizei dessa lei, porque para mim foi frustrante ver um cara que não me representa usando a minha música. Entrei em contato com a editora e falei que não era legal. Mesmo que pedissem autorização, eu não ia autorizar Dexter
O cantor diz que tentou contato com a equipe de Marçal e, sem resposta, entrou com uma liminar —e venceu. No entanto, a ação indenizatória segue em processo. "O pior de tudo é ouvir das pessoas que você é esquecido, que o cara [Marçal] te levantou", avaliou. "Não é que você tá esquecido, você é lembrado por quem tem que ser lembrado."
Ele ainda deixa claro que a briga na Justiça se trata de "agir de maneira coerente", e não de receber valores. "Não preciso do dinheiro do Marçal", disse. "Se a gente ganhar —e a gente vai ganhar, porque ele cometeu uma arbitrariedade—, vamos reverter tudo para a favela do Calux."
No Tom
No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Dexter:
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