'Preconceitos e cobranças': por que João Lucas quis separar fé e profissão

Aos 25 anos, João Lucas já tem uma carreira longa na música. Apesar disso, foi agora, em 2024, que ele lançou seu primeiro disco pop, após muitos anos cantando gospel. Em entrevista a TOCA, ele explica o que motivou a virada na carreira e diz que mudança não o distanciou de sua fé.

Migração do gospel para pop

Cantor gospel desde os 9, quando começou a cantar no Programa Raul Gil, João Lucas começou a migrar para o mundo pop em 2021. Essa transformação nada tem a ver com sua fé, destaca ele. O músico segue sendo cristão, mas não queria a sua fé e a sua profissão no mesmo âmbito. Hoje, João também defende nas redes sociais mensagens contra preconceito, incluindo a favor da comunidade LGBT+.

O marido de Sasha Meneghel, 26, acredita que a arte é vista por uma lente diferente no meio gospel, com 'preconceitos e cobranças', diferente de outras profissões. "Ninguém exige, por exemplo, que um professor seja um professor gospel, ou que um advogado seja um advogado gospel. A fé é algo muito pessoal e reflete através do dia a dia da pessoa. Não tem uma forma de exercer sua fé, seja ela qual for, se não for na troca com o próximo, né?"

Não estava gostando de ter dinheiro e a minha fé no mesmo cenário, ter fama e a minha fé no mesmo cenário. Não estava gostando de lidar com isso no mesmo lugar. Por isso, decidi fazer essa mudança, pelas questões artísticas de performance. Não conseguiria me manter no gênero gospel. João Lucas

Com a migração do gospel para o pop, o cantor também deixou de assinar como João Figueiredo. A mudança resgata a maneira como ele era chamado na infância. "Desde que me casei, eu pensava muito numa mudança de nome de artístico, mas tinha que ter uma justificativa... Decidi a mudança de nome dentro de um processo terapêutico, comecei a entender com meu psicólogo que todas as referências do meu trabalho futuro vinha sempre da minha infância".

Referências para "João Lucas"

Com 15 faixas, João se joga no pop e flerta com outros estilos musicais, como funk, R&B e até sonoridades retrôs. Como artista pop, ele gosta de mesclar diferentes sonoridades. Quando começou o processo de produção do álbum, ele fez uma playlist com referências musicais e o que ele imaginava que poderia ser coerente e plural.

Tem uma parada meio retrô, mais anos 1980, mais digital, que leva para esse universo de sintetizadores, tem Michael [Jackson], Bob Brown. 'Leonina' bebe na fonte de R&B com hip-hop. Temos referências que vão para um lugar mais oitentista no sentido voltado para um pop-rock como 'Pessoa Certa', aí entra The 1975 e até The Weeknd.

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Em "Sem Ar", João quis trazer um pouco de funk, enquanto "Minuto de Saudade" tem ares pop: "meio Justin Timberlake, com nota de samba ao final, mais um elemento brasileiro". "São universos que gosto muito. Apesar de não parecer, eu amo funk, uma coisa superautêntica. Festa sem funk não é uma festa tão boa. Queria trazer esse universo dançante, só que eu trago o funk num universo pop. Bebo de muitas fontes".

As referências estão também na imagem de João, sejam os editoriais de moda das revistas dos anos 1990 e 2000 ou nomes estilosos da música. "Tem muita referência de David Bowie, Mick Jagger, Elton John. São artistas que foram precursores, até mesmo Cazuza, uma referência brasileira. Muito disruptivo em relação à performance e roupa, sem necessidade de se prender ao que é uma roupa masculina, ou uma roupa feminina. Performances livres e espontâneas".

Tem muita associação a Harry Styles. E, óbvio, amo ele. É uma referência contemporânea muito presente e que bebe dessas fontes, desses caras que vieram antes e abriram caminhos para gente, como Mick Jagger, Elton e até Beatles, que construíram a performance pop masculina nessa esfera... Pelo Harry ser um cantor contemporâneo internacional, tem muito essa associação, mas sonoramente tem muitas coisas diferentes. Mas não deixa de ser referência. Sou um grande fã, já fui a uns quatro ou cinco shows. Gosto da liberdade de performance. Me identifico muito. João Lucas

João Lucas em foto de divulgação do primeiro álbum da carreira
João Lucas em foto de divulgação do primeiro álbum da carreira Imagem: Guilherme da Silva

O cantor reforça que o álbum "JOÃO LUCAS" foi um projeto gestado por três anos, tempo necessário para escrever todas as canções, produzi-las, distribuí-las e, claro, produzir videoclipes. "Todas têm alguma relação comigo, sejam minhas histórias ou de pessoas nas quais me inspirei. Tem muita verdade, muita intenção na sua construção", diz ele, que coloca Sasha, sua esposa, como uma das inspirações.

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O disco, aliás, remete à infância de João Lucas, seja no resgate dos próprios sonhos ou no resgate referente à dança —ele praticou hip-hop por anos quando criança. Não é à toa que João escolheu a escola onde cresceu, em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, para fazer um dos shows de lançamento —o primeiro foi realizado para convidados, incluindo a esposa, Sasha; a sogra, Xuxa; e amigos.

O álbum teve mais de 200 mil players no primeiro dia. Fiquei muito feliz. É o primeiro álbum da minha carreira. Fazia sentido ser autointitulado porque é uma apresentação, é um debut para o mundo. São 15 faixas, dois visualizers, três videoclipes. É um editorial todo construído em cima dessa identidade. Tenho intenção, sim, de sair em turnê no primeiro semestre de 2025. Não foi um trabalho que tirei da minha cabeça em meses. É um trabalho construído há três anos. 'Minuto de Saudade' foi escrita em setembro de 2021. João Lucas

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