Xande de Pilares encerra ano com Grammy tatuado e nova plateia: 'Intimida'
Por trás dos óculos escuros, Xande de Pilares se apresenta atento a cada detalhe da plateia. É como ele tem encarado o público que ele conheceu neste ano de 2024. "Eu vejo tudo, trabalho no brilho do olhar."
Com o show "Xande Canta Caetano", o sambista foi escalado em festivais brasileiros e palcos que nunca antes tinha encarado. Um deles, inclusive, em alto-mar, quando foi uma das atrações do Festival Navegante, o cruzeiro de Marisa Monte que aconteceu entre 12 e 15 de dezembro.
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Naquela noite, demorou um pouco, mas ele relaxou ao ver a empolgação da plateia. "Falei: pô está dando certo. Porque tudo isso é novo para mim."
Com 54 anos e mais de 30 na música, o nervosismo passou a ser comum nas apresentações do show "Xande Canta Caetano", um dos mais elogiados do ano. "Esse show é educativo, estou aprendendo muito, principalmente no meu comportamento no palco."
É uma plateia nova. Chega às vezes a intimidar. É uma plateia que Deus está me dando por toda minha trajetória. Embora eu nunca tenha buscado determinado público, eu só queria evoluir musicalmente.
Xande de Pilares
As releituras foram supervisionadas pelo próprio Caetano durante a pandemia de covid-19. "Tinha aquele troço no nariz, toda hora fazendo teste. Toda vez que a gente acabava de gravar ele descia para ouvir." Numa dessas visitas ao estúdio, Caetano chorou ao ouvir a interpretação de Xande para a música "Gente".
"Chorou todo mundo, eu nunca vi a Paula [Lavigne, empresária de Caetano] chorar, aí eu disse: 'Acho que esse disco vai emocionar muita gente? Quando ele é lançado eu durmo de um jeito e acordo de outro."
O álbum não fez Xande navegar por outros mares, mas conquistar feitos que ele sempre sonhou. Um deles foi recém-tatuado no antebraço: o troféu do Grammy.
Após o cantor ser indicado algumas vezes com o seu grupo Revelação, "Xande canta Caetano" garantiu ao sambista o seu primeiro prêmio, como melhor álbum de samba. E o colocou numa posição notável na competição, como único brasileiro a disputar a categoria principal de álbum do ano (não apenas de língua portuguesa).
O fato o marcou profundamente. E ele segura as lágrimas durante conversa com o TOCA.
"Esse troféu é do Morro do Turano, onde eu nasci, da favela da Águia de Ouro, do Jacarezinho, da Trindade e de Pilares, onde eu morei. Esse álbum é do Alexandre Silva de Assis, que sempre acreditou. Ele é foda. Ele me trouxe para cá e continua me carregando. E eu continuo carregando ele na minha consciência", diz, emocionado, após o show no cruzeiro.
Como valeu a pena ter escutado Caetano, apesar de morar no morro e muita gente falar: 'Mas Caetano tem nada a ver isso?'. Eu só não imaginava crescer nem me tornar um compositor com o número de músicas gravadas que eu tenho, nem poder apertar a mão do Caetano, poder cantar com ele e com a Maria Bethânia.
"Muita gente me tem como exemplo, e eu preciso mostrar para elas que é possível." Depois do Grammy, ele comemora mais um presente. Em 2025, o álbum será lançado em vinil. Depois do show no cruzeiro, onde saiu ovacionado, ele dá uma risada, relaxado: "Já comprei até minha vitrola."