Liniker sobre ser a artista do ano: 'Cabeça nas nuvens e o pé bem na terra'
"Seja bem-vinda ao Olimpo", disse Lulu Santos a Liniker ao participar de um show da cantora no Rio de Janeiro em dezembro. Dias depois, ela conquistou 4 estatuetas no Prêmio Multishow, incluindo a de artista do ano. Como diz a música que dá título a "CAJU", Liniker garante estar vivendo o voo mais bonito de sua vida.
Pé no chão
2024 foi um ano de reconhecimento, mas Liniker não cai na tentação do deslumbre, mantém os pés no chão e se concentra no que há por vir em 2025. Isso não quer dizer que ela não celebre as conquistas, pelo contrário, mas entende que tudo é fruto do seu trabalho e que para ser bom "é necessário exercício".
Essa frase 'bem-vinda ao Olimpo' ficou ecoando na minha cabeça pela gratidão de ser reconhecida profissionalmente pelo Lulu, que significa tanto, mas, ao mesmo tempo, uma sensação assim: 'receba essa frase, mas bote os pés no chão também, porque uma demanda desse tamanho pode te colocar num lugar muito afetado às vezes'. Por mais que eu esteja no voo mais bonito da minha vida, a cabeça está nas nuvens, mas o pé está bem na terra.
Liniker
"CAJU" é um disco de MPB com letras românticas que dialogam com ritmos populares como o arrocha e o pagodão. Melodicamente, tem arranjos orquestrados e longos. Tem músicas com mais de sete minutos e duração total superior a uma hora, diferente do que é feito atualmente.
"Não é questão de desafiar o mercado, mas acreditar no disco, manter a minha intuição porque acredito no meu processo de composição. Não poderia ser infiel a mim e me colocar numa métrica de ter uma música de um minuto e meio. É um disco direcionado, sim, ao mercado fonográfico, aos streamings, mas é um presente para mim. O primeiro brinde é comigo para estar feliz no estúdio e nos shows."
Prestes a completar dez anos de carreira, passa um filme na cabeça de Liniker ao ver o que tem conquistado. Ela conta que ficou em choque ao receber os prêmios, em especial o de artista do ano, por ser independente e ter menos alcance midiático que outros indicados.
E não esquece aquela menina de Araraquara [interior de SP] que saiu da cidade natal para ser atriz, com R$ 150 no bolso e um sonho. "Ainda me vejo muito caipira, minha raiz está muito lá ainda, por mais que eu já viva tudo que eu vivo há um certo tempo. Ainda não é comum. 'Meu Deus do céu, estou no Prêmio Multishow, sentada do lado da Ivete Sangalo, gravei uma música com ela. Tem um olhar da minha criança."
Cheguei em São Paulo no dia 2 de fevereiro [de 2015], na avenida dos Estados. Não sabia atravessar para o outro lado da avenida de tanta gente, e olha a quantidade de luz acesa [dos celulares dos fãs] para me ver hoje. Importante ter essa criança viva em mim.
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Representatividade e os fãs
Liniker entende que "CAJU" furou a bolha e alcançou novos públicos, além da comunidade preta e do público LGBTQIAPN+ que já a acompanhava. Ela virou até tema de exposição em uma escola de São Paulo. "Liniker significa representatividade. Se pudesse dizer uma coisa a ela, gostaria de agradecê-la por não desistir. Com as obras dela, posso inspirar alunas e alunos a também não desistir de quem eles são. Ela é grandiosa", comenta Marcos Antonio Alves, estudante de 18 anos da Escola Estadual Buenos Aires.
É uma responsabilidade muito grande ser vista com esse olho de alguém que inspira, mas, ao mesmo tempo, não posso esquecer que ainda assim eu sou humana e que viver é um exercício. Tenho possibilidade de errar, de acertar, de falar uma besteira, de falar uma coisa certa, fico com um pouco de medo de que qualquer coisa que eu fale seja levada muito a sério. 'Ela falou, é irremoldável, escreveu em pedra, não pode mais tirar'
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Liniker reflete que a representatividade é um lugar novo "enquanto pessoa preta e LGBTQIAPN+", por isso, sente-se grata por estar nesse lugar, mas gosta do exercício de impor pequenos limites.
"É importante entender que a pessoa que representa alguém também se enxerga nas pessoas do mundo porque ela está no mundo. Para mim, tem sido um exercício, além de sentir o carinho das pessoas, me gera a necessidade de impor alguns limites pequenos, do meu ir e vir, do meu espaço, da proteção do que me blinda. É difícil ser uma pessoa única para dez mil pessoas em uma casa de show, a energia é diferente. Eu tô na casa das pessoas pela música, mas a gente está ali se conhecendo pela primeira vez."
Em 2025, vem mais
Após passar por casas de shows consagradas em São Paulo e no Rio com noites esgotadas, chegou a hora de cantar em arenas e estádios? "Isso vai acontecer naturalmente, não é um lugar de pressa... É um disco de 14 faixas, é um álbum gigante liricamente, poeticamente, as possibilidades são inúmeras. Existe um plano de novos lugares. O Vivo Rio era um plano, o Espaço Unimed (SP) era um plano. É bom quando você conclui umas coisas e dobra a meta pela demanda do trabalho. Aguardem."
No papo com TOCA, Liniker revela que a turnê tem previsão para durar dois anos. Em 2025, segue para capitais brasileiras pelas quais ainda não passou, além de ir à Europa. Em maio, ela se apresenta em lugares, como Portugal, Inglaterra e França.
A turnê, que terá novas datas anunciadas, tem patrocínio da Natura, que comemora 20 anos de fomento à cena musical por meio da plataforma Natural Musical. "Nossa história com ela começou em 2017, com o patrocínio do segundo disco da Liniker & os Caramelows e mostra a força e importância do incentivo a novos talentos. Também é importante para a marca, que lança sua primeira linha de cuidados para pele pretas e pardas, TodoDia Jambo Rosa e Flor de Caju", diz Julia Ceschin, gerente sênior da Natura.
O trabalho de uma artista se dá na estrada, viajando o mundo todo e tendo pouco tempo de descanso. Entretendo por duas horas e meia, mas toda uma pré-produção que acontece antes de chegar no show. É importante ter o apoio de marcas como a Natura para conseguir levar uma estrutura, não só para o público, mas também para a equipe que trabalha. Fazer show é custoso no sentido energético.
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