Sexo, drogas e dinheiro: Matuê diz que rap e trap falam o que a moçada quer
Matuê, 31, acredita que o seu mais recente álbum, "333", vai na contramão do que é feito por muitos rappers. É esse projeto que o cantor leva para a estrada em sua primeira turnê oficial em casas de shows lotadas, em especial, de jovens.
Experiências
O artista tem agenda lotada, mas nunca conseguiu se planejar para fazer uma turnê com conceito amarrado em torno de uma narrativa. Agora, ele conseguiu pensar nos mínimos detalhes, envolvendo efeitos sonoros, telões e luzes sincronizados. "Como se fosse um teatro, uma experiência visual".
É a primeira turnê. Marca esse amadurecimento. Finalmente consegui organizar todos os elementos para termos um showzão, com cenografia, experiência não só sonora, mas também visual, olfativa e auditiva. Tudo que você pode imaginar. A gente realmente cria todo o universo '333' em cima do palco.
Matuê
Quando Matuê fala em experiência olfativa, ele se refere ao hábito de colocar velas ou incensos no palco. "Eu recebo feedback da galera que está lá no fundão da casa de show: 'Pô, mano, eu senti o cheiro lá de trás'. São coisinhas pequenas como trazer um cheiro diferente para a experiência do show. Pensamos em tudo, entendeu?"
O rapper cearense ensaiou durante três meses para apresentar o show pela primeira vez no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, no mês passado —com ingressos esgotados. "Empenhado em entregar um show cada vez mais profissional, que reflita realmente a minha performance do Spotify num contexto ao vivo".
Matuê, em 2024, tornou-se o primeiro rapper a cantar no Rock in Rio, em uma plateia lotada de adolescentes e jovens. Ele, que cantou ao lado de Wiu e Teto, da 30PRAUM, que é a sua gravadora, vê esse padrão se repetir Brasil afora. Ele analisa que o rap e o trap falam sobre o que a moçada quer ouvir, incluindo temas sobre sexo, drogas e dinheiro.
Uma música como '777-666' [do disco 'Máquina do Tempo', de 2020], por exemplo, levanta temas como sexo, drogas e a vivência da estrada, do entretenimento, criticando isso como uma coisa que está sugando a sua alma, está ligado? Não vai te levar a lugar algum. Trazer esse contraponto, sem hipocrisia, é um ponto muito válido. Poderia estar falando sobre 'N' temas, mas estou falando sobre a realidade de muita gente, que se identifica e precisa de um toque para entender que essas coisas que brilham muito nem sempre levam para o caminho da luz.
Matuê
Quase experimental
"333" é um disco de trap com melodias trabalhadas, sintetizadores analógicos e influências do R&B, disco music e pop. É um disco que, para funcionar ao vivo, precisa de banda —o que nem sempre é a prioridade dos trappers. "Uma grande revolução no nosso som".
Comecei na música tocando instrumentos com banda. É mais um resgate das minhas origens que uma coisa nova. Quem me acompanha a fundo sabe que o que curto ouvir no dia a dia nem sempre tem nada a ver com o que estou fazendo [no meu som]. Para o grande público, o disco talvez tenha sido uma surpresa, diz que é experimental, mas para mim e para os fãs muitos já esperavam que eu fosse fazer algo desse tipo.
Matuê
Apesar dos bons números, Matuê diz que o trabalho dividiu opiniões ao ser lançado. São 12 faixas e letras que narram o amadurecimento de Matuê tocando em temas, como ambição e hipocrisia. Tem parcerias com Teto, Veigh e Brandão85.
"Dividiu a fanbase entre fãs que têm ouvidos mais abertos e outros que estavam esperando algo que já conheciam de mim. Esse é o maior elogio para o meu trabalho. A arte tem que causar debate... Quero gerar alguma mudança e revolução sonora [no trap]. Tentei fazer nesse disco. Foi um frio na barriga, apesar de ver muitos números, gente querendo defender, gente querendo atacar. Três meses depois, vejo que meu público mudou a percepção. Esse disco quebrou a casca de quem fala "só escuto isso ou aquilo', abriu a minha rapaziada para outros horizontes musicais. A galera fala que o disco está envelhecendo como vinho".
Em 2025, o show continua
Após passar pelo Rio e por Porto Alegre, a turnê segue por outras capitais em 2025, até chegar em terras portuguesas —ele quer, sim, alçar voos internacionais, mas naturalmente. O cantor fará sua maior apresentação em Lisboa, três anos depois de sua primeira ida à capital além-mar. "A gente foi a base de demanda, de maneira despretensiosa, dois anos após a pandemia. É orgânico. O trap cresceu muito lá".
Além disso, ele revela para TOCA um novo projeto de reggae. "Não tenho previsão de quando vai terminar, nem nada, é algo que estou fazendo com calma. Quero trabalhar com vários artistas que admiro no cenário do reggae, tantos antigos como da cena atual".
Veja as próximas datas divulgadas da turnê "333":
São Paulo - 24/01
Manaus - 29/03
Recife - 26/04
Fortaleza - 30/04
Lisboa - 14/06
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