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'Se existe ressurreição, é a do vinil': Andreas Kisser perdeu coleção

Colaboração para Toca, em Salvador

09/01/2025 05h30

Andreas Kisser, 56, falou dos diversos momentos de ressurreições em sua vida, durante um papo ao No Tom, programa do TOCA com Zé Luiz e Bebé Salvego.

O guitarrista do Sepultura lembrou da "morte do vinil" e da sua coleção do Kiss. "Mataram o vinil, enterraram o vinil. O vinil não tinha mais volta e aí voltou mais forte do que nunca. Se existe ressurreição, é a do vinil. Se existe uma fênix, o vinil é a fênix."

Muita gente acabou com o vinil pra trocar por CD. Inclusive, eu perdi minha coleção do Kiss fazendo isso. Enfim, são os contextos do momento. Do momento de cada ano e cada evolução tecnológica. E o Sepultura aprendeu a lidar e conviver com tudo isso. Andreas Kisser

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Andreas lembrou da morte da esposa, Patrícia, aos 52 anos, vítima de câncer, em 2022. "Depois da pandemia, o diagnóstico de câncer e etc. Todo aquele processo. Um ano e meio de quimioterapia. Até o falecimento. As minhas dúvidas, né? Em relação à morte, ao cuidado paliativo, à eutanásia."

Como a eutanásia era desconhecida no Brasil, o guitarrista iniciou projetos para ajudar pessoas que passam pela mesma situação que ele viveu. "Ninguém fala desses assuntos aqui no Brasil. Todo mundo tem preconceito, tem medo de falar. Quando acontece, ninguém sabe o que tem que fazer. Você tá ali no seu momento mais frágil e tem que resolver coisas cruciais pro futuro, né? De quem ficou, como vai dividir, o que vai fazer etc."

Eu comecei o movimento Mãe Trícia. O festival Patfest que arrecada fundos pra favela compassiva. Que leva o cuidado paliativo lá pras favelas do Rio Andreas Kisser

O artista contou que passou por outra "ressurreição" com a morte da esposa. "Enfim, dentro da morte da Patrícia, onde uma parte minha gigantesca foi junto com ela. Teve uma outra ressurreição, vamos dizer assim. Um outro nascimento, né? Eu sou uma outra pessoa com outros pontos de vista, talvez. Outros objetivos, né?"

Eu vi que a morte foi a minha maior professora. De respeitar a finitude. Tudo tem um fim. Tudo tem um fim. Um livro tem um fim. Um filme, se você vai assistir, não tem fim. Ele não tem sentido. O fim é limite. Fim é educação. Limite é educação. Então a gente precisa respeitar isso Andreas Kisser

Na conversa, ele ainda falou sobre o processo de encerrar a banda após 40 anos. "E falei, porr*, por que não? 40 anos de banda. Uma história fantástica. Um disco fantástico. Sobrevivemos à pandemia. Todo esse processo que eu tenho passado com a minha família. E ter colocado pra fora isso. De falar em entrevistas e promover todo esse processo e tudo. E por que não parar no melhor momento?"

Andreas disse que a banda passou por diversos momentos e que está sendo emocionante a turnê de despedida pelo Brasil. "A morte tá aí. Por isso que ela é a nossa educadora. Ela é o nosso limite. Ela é o nosso equilíbrio, né? De você ver a finitude e viver o presente com mais intensidade. E é o que a gente tá vivendo com o Sepultura. Esse presente intenso, sabe? De shows maravilhosos, de gente emocionada."

Na entrevista, o artista falou do passado e agradeceu tudo o que viveu para chegar até o presente. "Nosso passado é maravilhoso, né? Mas voltar ao passado qual? 2015 ou 1988? É meio esquisito isso, voltar ao passado, entendeu? Tipo, a gente fica com aquela ideia nostálgica da juventude, mano, hoje eu me sinto melhor do que nunca."

Eu sou muito agradecido com tudo que aconteceu na minha vida. Tudo. 100%, né? As pessoas falam, ah, o que você mudaria? O que o Andréas Jovem falaria pra você? Pô, mano, nada. Segue o seu caminho. Eu estou aqui hoje por causa de tudo que aconteceu Andreas Kisser

'Balada não é fácil'

Andreas contou que o disco vai ter a primeira balada do Sepultura. "Assim, balada tem que ter, assim, não é fácil, não é fácil. Tanto é que todas essas bandas que têm balada, Aerosmith, Def Leppard, tem parceiros de fora, né? Sim. Então, a gente tem que ter, assim, a gente foi buscar parceiros também."

Ele ainda deu spoiler sobre os parceiros que estarão no disco. "E vou até falar aqui em primeira mão pra você, meu. Quem são os nossos parceiros? Pronto. Tony Bellotto e Sérgio Brito. Titãs, é uma banda irmã, da família também. E, cara, porr*, os dois têm uma característica muito única, né?"

E eu e o Derek e o Sérgio e o Tony, a gente sentou e começou a fazer um negócio junto e tá bem interessante, meu. Com letra e música tudo junto. Andreas Kisser

'Totalmente irrelevantes as regravações dos Cavalera'

Ainda na entrevista, o cantor criticou as regravações que os irmãos Igor e Max Cavalera, ex-integrantes do Sepultura, estão fazendo dos primeiros discos da banda. "Eu acho, assim, muito fraco artisticamente, né? Eu acho totalmente irrelevante e sem sentido nenhum, né? Principalmente pra um cara como o Max, que fala que fez tudo sozinho, que é o cara mais criativo do mundo, que eu fiz isso, fiz aquilo."

E chega num momento, ele perde o tempo e a criatividade dele fazendo coisas que a gente fez 30, 40 anos atrás, com um som diferente. Assim, valor artístico zero, né? Não tem sentido nenhum isso, Andreas Kisser

O artista disse ter escutado as músicas, mas não aprovou a ideia dos Cavalera. "Esse processo que eles fizeram hoje é irrelevante, né? No aspecto histórico da banda, né? Uma coisa mais pra eles terem lá alguma diversão e algum trocado, talvez, sabe? Mas, putz, realmente é triste. Eu acho que eles fazem um desserviço ao próprio passado."

No Tom

No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Andreas Kisser:

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