Fióti fala de concentração de talento: 'Não se fomenta novos palcos'
Salvador (BA) foi palco, no começo de novembro, do "Future Insiders". Com curadoria do empresário e produtor Fióti e promoção do YouTube Vozes Negras, o evento trouxe painéis e workshops voltados para o fortalecimento da cena cultural baiana.
Em entrevista ao TOCA, Fióti falou sobre o papel da tecnologia na economia criativa brasileira, os desafios enfrentados por artistas e criadores na busca por modelos de negócio sustentáveis e "diversity washing".
Confira os principais trechos:
Em busca de equidade
A evolução tecnológica nunca foi tão avançada, nunca correu numa velocidade tão ágil. Mas, ao mesmo tempo, as estruturas institucionais estão andando muito mais lentas do que a tecnologia. Então, acho que a gente precisa olhar para esse lugar de um ecossistema da indústria que propõe uma divisão melhor de receita, mais equânime, que busque equidade de verdade. É um desafio essencial nesse tempo que a gente vive.
Concentração de receita (e de talento)
Eu diria que hoje a receita da música está muito concentrada em quem tem alto volume, sejam eles quais forem. Isso gera uma desproporcionalidade muito grande na cadeia, porque você não fomenta novos palcos, você não tem recursos para fomentar novas carreiras. Isso faz com que todo esse tecido criativo cultural rico que a gente tem no Brasil volte a reproduzir um padrão que já teve na indústria.
Artista como empresário
O momento exige do artista, do talento, do compositor, uma capacidade maior de visão empresarial e, sobretudo, de buscar o seu diferencial dentro do seu modelo de negócio. Eu acho que a gente não tem mais modelos padronizados que vão se reproduzir. Eu acho que a inteligência artificial, principalmente na hora que a gente vai entrar, vai radicalizar isso ainda mais. Então, acho que vai ser muito importante fazer uma economia que eu diria de estratégia de tempo em relação a sua criatividade, porque vai ser importante pensar numa estratégia multicanal para continuar potencializando a visibilidade do seu conteúdo musical.
Creators X artistas
Nem todo creator vai se transformar artista e nem todo artista é creator. Então encontrar esse equilíbrio vai ser um desafio. Porque para fomentar a sua comunidade e a produção de conteúdo, já não é mais uma escolha. E também não adianta sair atirando para todos os lados. Acho que realmente vai ser necessário cada vez mais os artistas, os agentes, os empresários, as estruturas de gestão, olharem muito pra Business Intelligence e entender exatamente pra onde direcionar o seu tempo, os recursos e conseguir trabalhar nessa dinâmica para ter carreiras sustentáveis, longevas e que potencializam o mercado.
Negritude como pauta
A gente vai ter que fazer uma leitura do cenário do ecossistema e entender que se a gente é o maior público consumidor, a gente vai continuar exigindo que essa representatividade esteja expressa também dentro dos espaços de poder. Eu acho que não tem como retroceder, embora a gente tenha vivido, esteja vivendo, na verdade, sim, um processo de "diversity washing". Quando a gente fala de diversidade, quando a gente fala de inclusão, a gente está falando de buscar um bem estar social, onde todas as pessoas se sintam representadas, todos os consumidores se sintam representados.
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