'Órgão genital feminino como elemento de poder': MC Mari lembra seu 1º hit

MC Mari contou ao No Tom, programa do TOCA com Zé Luiz e Bebé Salvego, como exerce seu poder através da música.

A cantora volta ao início de sua carreira e diz que começou a compor aos 7 anos, sozinha e em Itabuna (interior da Bahia), onde nasceu. Antes dos 10 anos, se mudou para Aracajú (SE) e começou a cantar profissionalmente, chegando a entrar para bandas de forró e vaquejada. "Mudei pro trap, pra MPB, e aí veio o programa Ídolos, em 2012", conta. "Foi incrível e, desde então, não larguei a música."

O "brega funk" entrou em sua vida durante sua passagem por São Paulo. "Entrei para um reality, Os Homens Estão na Quebrada [2019], que queria descobrir um novo talento do funk. Enfrentei uma fila de horas, peguei insolação, tava com o joelho quebrado e muleta. Deu tudo certo, passei em todas as fases e consegui entrar pra empresa [a GR6, onde está até hoje]".

Foi então que nasceu, em 2020, seu primeiro hit: "Xereca de Mel". "É uma música voltada para o empoderamento feminino. Os funks de hoje em dia menosprezam a mulher de diversas formas e, na música, uso o órgão genital feminino como um elemento de poder. Ou seja, a gente que atrai e é dona da porr* toda", explica Mari. "Quando me dei conta, ela já tinha 50 milhões de views e famosos dançando a música —e eu abismada porque nunca tinha tido um sucesso daquele tamanho."

A MC ainda conta que abandonou o "funk proibidão" de forma "natural", após alguns convites de artistas grandes —como Léo Santana, com quem gravou "Senta Concentrada". A música, inclusive, teve três fases: do proibidão, virou uma "arrochadeira" com MC WS, e, finalmente, cativou Léo Santana para virar um pagode baiano.

Apesar de defender as mulheres, ainda falava muito palavrão [na época do 'proibidão']. Não é fácil ser uma nordestina em São Paulo (...) mãe, que na época era casada, cantando palavras de baixo calão. Foi extremamente preconceituoso o que vivi em todo o início da minha carreira, mas sempre tive uma personalidade forte. MC Mari

Ela avalia o atual cenário das mulheres no funk como "mais positivo", quando comparado a antigamente, quando havia "muita rivalidade". "Já chegaram a deixar vidro no meu sapato, passar cocô nas minhas roupas", disse. "Já passei por tanta coisa na música, e de mulheres, que deveriam se ajudar".

'Não aguento mais cantar com voz de sapo'

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A cantora também explica que, ao longo de seu percurso musical, descobriu ter diferentes timbres. "Nunca fiz uma aula de música, mas sabia que conseguia cantar de diversas formas, porque sempre escutei diversos tipos de música e tentava imitar", conta ela, citando um "ecletismo" em seu gosto musical que vai de Ivan Lins e Elis Regina a Iron Maiden. "Tentava ver qual voz estourava, e estourou a minha 'voz de sapo'."

Mas a MC não se restringe a um tom. Recentemente, no DVD "Versão Brasileira MC Mari", ela cantou com sua "voz de forró". "Não aguentava mais cantar com voz de sapo", brincou. Foi neste DVD que ela gravou com a música 'Escolinha do Funk', com Valesca Popozuda, Tainá Costa e MC Mirela.

Mari diz que atualmente compõe pensando em "paredões de funk" —onde "vence" o som mais bonito e que brilha mais— e para o TikTok. "Sei que, se eu cantar uma música mais melódica, até pode tocar em um 'paredão', mas é muito difícil. Se eu cantar um piseiro, se tiver numa música 'Senta, quica, desce e empurra', a música faz sucesso. Mas costumo trabalhar mais as minhas letras para não ficarem iguais as de todo mundo (...) E no TikTok, a partir do momento que a gente investe não só nas letras, mas também nas danças e coreografia, viraliza muito".

Ela ainda comentou como é ter uma de suas músicas, "Furacão", na trilha sonora oficial da novela "Mania de Você" (Globo). "Me sinto super lisonjeada", conta. "Minha trajetória de vida até aqui não foi fácil. Tenho 28 anos e me considero novinha para ter uma música na novela das nove da Globo. Quando recebi o convite, desabei a chorar".

Propostas indecentes e show com dengue hemorrágica

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Na entrevista, MC Mari lembrou uma das épocas mais difíceis de sua vida. "Morei na rua, não tinha o que comer, e conheci David, que em Itabuna era dono de [uma barraca de] cachorros-quentes. Ele me alimentou por muito tempo com os cachorros-quentes", lembra. "É um dos maiores anjos que passaram pela minha vida".

Hoje em dia, o jogo virou, e MC Mari diz que chega a fazer quatro shows em uma única noite. Ela também não recusa um único feat: "Acredito no potencial das outras pessoas. Eu cheguei a não ser ninguém".

A meta, agora, é fazer uma colaboração com Anitta. "Meu sonho de princesa. Eu, como mulher empoderada, não podia deixá-la de lado. Sou apaixonada por ela. Não só como mulher, mas como artista, é minha inspiração", conta.

A MC também diz que "aprendeu na marra e muito cedo" a ser forte mesmo nas "partes ruins da indústria da música" —especialmente após receber "propostas indecentes" com cunho sexual para lançar discos e lidar com a competição. "Às vezes as pessoas querem te ultrapassar", conta. "Nada paga meu caráter, dinheiro não me compra".

Ela ainda lembra alguns dos maiores perrengues que viveu em sua carreira: desde uma dor de barriga que a fez "suar em cima do palco" —e "foi ali mesmo, mas sorte que ninguém percebeu"— até uma dengue hemorrágica. "Parei um show, expliquei que não estava me sentindo bem, corri para o camarim, vomitei muito sangue e voltei ao palco para terminar o show."

É muito difícil eu abandonar um palco. Se você souber [que aconteceu], é porque o babado foi feio. Sempre me comprometo com meus fãs, não deixo ninguém na mão. MC Mari

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No Tom

No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com MC Mari:

1 comentário

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Neusa Maria Romanini Domingos

Cultura brasileira é riquíssima kkkkkkk

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