Entre o axé e o frevo: pernambucano Boi da Macuca invade o Pelourinho


Patrick Torquato
Do TOCA, direto de Salvador
12/02/2025 17h48
O Pelourinho, cartão postal de Salvador (BA), se pintou de amarelo, azul e vermelho no último domingo (9) para receber um dos símbolos da cultura popular de Pernambuco, o Boi da Macuca.
A agremiação vinha de uma linda apresentação em Maceió (AL) e pousou na Bahia acompanhada pela orquestra do Maestro Oséas, um dos mais importantes do frevo pernambucano - lendário, cada dia mais vivo.
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Frevo, vem do verbo "ferver", expressão popular e gíria que indica como o ritmo coloca o corpo em brasa, por conta da batida pulsante do surdo, da pressão acelerada do rufar das caixas. Tudo isso conduz a melodia dos metais de forma a queimar de calor e suor - entrando na cabeça, depois tomando o corpo e acabando no pé, como diz o verso.
O caminho do Boi incluiu a Bahia no trajeto justo em 9 de fevereiro, o dia do Frevo. Para os brincantes e amantes do ritmo, uma apoteose, seguida por cerca de 5 mil pessoas.
O 'arrastāo' tomou conta das ruas estreitas do Pelourinho, ao som de canções que consolidaram a potência musical que é o Nordeste: de Gilberto Gil a Dominguinhos, passando, claro, pelos sucessos do Frevo como o Hino do Elefante de Olinda e grandes temas do saudoso Moraes Moreira. Uma catarse coletiva de folia, amor e saudade.
A guitarra baiana, a axé music e o trio elétrico possuem o frevo pernambucano em seu DNA. Uma provocação estética que aconteceu pelos idos dos anos 1950 com a orquestra do bloco Vassourinhas do Recife em passagem por Salvador.
A visita foi faísca para desencadear muito do que hoje é conhecido como Carnaval Baiano. Celebrar essa história no Pelourinho foi celebrar o próprio carnaval como nosso maior patrimônio cultural.
Para além dos debates frágeis, com argumentos desafinados e sem cor, baianos e pernambucanos mostraram nas ladeiras da cidade alta como se faz um Carnaval, com frevo no pé e música no gogó.
A festa se deu em um lindo clima de paz e comunhão, admiração mútua e carinho pelo estandarte vermelho, amarelo e azul, com o Boi magnífico fazendo sua evolução cheia de graça, igualzinho Zé da Macuca ensinou.