Ca7riel e Paco Amoroso: conheça os 'pibes' que driblam na música argentina

Você já ouviu falar na palavra "pibe"? Na Argentina, esse termo é mais do que simplesmente a palavra "menino". "Pibe" é identidade, é símbolo cultural. É aquele garoto das ruas de Buenos Aires, carismático, ligeiro, que enfrenta a vida com esperteza - e uma certa dose de rebeldia. No Brasil, o cria, o pivete, o fera - a depender da região.

Hoje, os novos pibes não estão apenas no futebol — como Maradona, Tevez ou Messi, símbolo máximo da cultura dos hermanos. Eles estão nos palcos, nas redes, nos fones de ouvido de uma nova geração de latino-americanos.

Eles são músicos, performers, provocadores. Um bom exemplo disso é a dupla Ca7riel e Paco Amoroso, dois artistas da nova cena musical de Buenos Aires que vêm sacudindo os códigos da música urbana e da estética pop contemporânea.

Talvez você ainda não os conheça. E isso faz sentido: apesar de estarmos perto, pouca gente no Brasil acompanha com profundidade a cena jovem argentina.

A dupla toca no domingo (30) no Lollapalooza, em São Paulo. É uma oportunidade preciosa de ver de perto o que está se desenhando como uma das cenas mais interessantes da música latina contemporânea.

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Imagem: Lady Miru/Divulgação

Eles acabaram de lançar o EP 'Papota', praticamente um manifesto sonoro da era pós-gênero, hiperconectada e hiperconsumista em que vivemos.

Musicalmente, o disco é uma salada muito bem temperada: tem trap, reggaeton, cumbia, pop, rock e até momentos que parecem trilhas de videogame. É como se os gêneros musicais fossem peças de Lego — desmontadas e remontadas com total liberdade. Bem 'gen Z'.

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Espírito do tempo

Além do som, o que chama muita atenção é o projeto visual que acompanha o disco. Ca7riel e Paco lançaram um clipe de vinte minutos que é, ao mesmo tempo, uma sátira e uma crítica feroz ao padrão estético da indústria pop latino-americana.

Eles aparecem com bronzeamento artificial exagerado, dentes ultra brancos, músculos plastificados, roupas coladas no corpo. É como se tivessem virado bonecos de ação de uma distopia tropical. Tudo ali é uma grande paródia contra o caminho do pop latino, mesmo sendo parte do sistema.

A dupla parece perguntar: por que todo artista latino de sucesso precisa ter aquele mesmo visual? O mesmo maxilar quadrado? As mesmas harmonizações faciais? O mesmo tanquinho? Será que esse ideal de beleza globalizada não está achatando as subjetividades, pasteurizando a expressão e matando a autenticidade?

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Imagem: @Lady_miru/Divulgação

A estética deles, além de crítica, é profundamente pós-gênero. Ca7riel e Paco usam saias, esmalte, maquiagem, roupas justas ou amplas. Eles flertam com o queer, mas sem se declararem como tal. Essa fluidez estética tem muito a ver com o espírito da geração Z, que entende o corpo como um território e a roupa como linguagem.

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Na contramão da padronização, a moda gen Z propõe justamente o contrário: colagens, experimentações, apropriações irônicas. E Ca7riel e Paco são bons exemplos disso.

Seus looks misturam referências do punk, do rave, do Y2K, do futebol e do cyber-fetichismo. É como se cada roupa fosse uma performance, uma narrativa visual.

Em 2024, a dupla se apresentou no Tiny Desk, nos Estados Unidos — uma performance que chamou atenção pela energia crua e criativa, e resultou numa exposição pivotal para a dupla.

E agora essa energia chega ao Brasil.

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