AUTOESTIMA

O corpo em que habito

Por Natália Eiras

Nos últimos cinco anos, o número de intervenções estéticas aumentou 8%, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Ainda segundo a entidade, a quantidade de adolescentes que "caíram na faca" cresceu 141% na última década. O movimento "body positivity" e o feminismo podem ter se popularizado, mas ainda é muito difícil ser gentil com o próprio corpo. Universa perguntou para algumas mulheres como a relação delas com os seios, a pele, o cabelo e o rosto mudou nos últimos anos.
Bruna Bento/UOL

Jessica Lopes, 28, modelo e produtora

"As sardas me acompanham desde sempre. Herdei da minha mãe, que tem o corpo todo tomado por elas".
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"Sofri bullying e, por isso, queria passar ácido no rosto, queria pagar tratamentos -- tudo para tirá-las."
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"Mas fui crescendo e entendendo o meu corpo, as minhas raízes, a minha naturalidade. Isso me fortaleceu. Comecei a me aceitar e a me amar."
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"Agora, trabalho como modelo e atriz. Acredito muito mais em mim, no meu corpo e o aceito como ele é. Não temos padrões de beleza. Cada ser tem sua beleza única."
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Luciana Moraes, 40, engenheira

"Desde pequena sabia que eu não era o padrão -- as pessoas falavam sobre o que eu estava comendo. Aos 9, escrevi no meu diário que estava feliz por estar emagrecendo."
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"Já fui motivo de piada das minhas próprias amigas por ser gorda. Estava sempre de dieta, vivia me escondendo em roupas enormes. Há cinco anos, eu não usava nem regata."
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"A relação com o meu corpo mudou quando entendi o que era gordofobia. Esse é meu corpo, ele não é melhor nem pior do que o de ninguém. Fiz tatuagens nos braços e perdi o medo de mostrá-los."
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"Pareço segura, mas tenho minhas questões. Quando me sinto mal, acentuo o que gosto em mim. Está ok não se sentir bonita todo dia, mas não podemos nos maltratar. Temos que ser mais gentis com nós mesmas."
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Luana Machel, 32, advogada

"Tive meu pai como referência, que sempre usou o cabelo black. No entanto, para a mulher é sempre diferente. Não me via bonita com o meu cabelo."
Bruna Bento/UOL
"Na escola, me sentia rejeitada. Meninos cantavam músicas para me agredir. Eu me achava errada por não ter o cabelo liso. Por isso, aos 13, alisei os fios. Passava cerca de cinco horas dentro do salão. Deixava de sair se meu cabelo não estivesse liso o bastante."
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"Usei química até os 26 anos. Só então parei de esperar que as pessoas me aceitassem. Cortei o meu cabelo todo e finalmente consegui me enxergar de forma mais autêntica."
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"Percebi que sou uma mulher com muito potencial. Não tenho nenhuma dúvida de que o meu cabelo é bonito. Continuo mudando-o bastante, mas nunca mais tentei escondê-lo."
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Gabriela Bianco, 41, publicitária

"Com 14 anos, eu já vestia sutiã 44. Os meninos ficavam olhando o dia inteiro porque nunca tinham visto aquilo. E eu me sentia mal porque não falavam olhando para a minha cara, mas para os meus seios."
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"O que eu pensava, o que eu falava, não importava. Desde muito nova, ouvia também que eu tinha que tomar cuidado para não ficar vulgar."
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"Isso foi bem complicado até o começo da minha vida adulta. Hoje gosto de ter peito grande, sinto que combina comigo, equilibra o meu corpo. Foi um processo de autoaceitação por inteiro."
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"Aprender a escolher um sutiã do meu tamanho, com sustentação e bonito, foi fundamental nesse processo. Assim como tenho 1,56m e sei que não vou crescer mais do que isso, sou peituda: uso sutiã 46."
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Natália, 29, autora dessa reportagem

"Percebi que meu nariz e dentes eram grandes quando tinha 12 anos. Ficava um bom tempo em frente ao espelho pensando em como poderia mudá-los."
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"Na adolescência, eu me sentia essencialmente inadequada. Fiz um book e odiei todas as fotos. Nelas, eu aparecia com a boca aberta, parecendo a Mônica."
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"Por muito tempo, não tirei foto de perfil. Sempre quis ter cabelo curtinho, mas não cortava. Quando via um vídeo, me achava esquisita. Coloquei aparelho nos dentes, já adulta. Nada adiantou. Foi assim que percebi que deveria parar de me 'agredir'."
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"Não estar 100% no padrão não é fácil. Todo dia tenho que lembrar que gosto de mim. O nariz foi a primeira coisa que aceitei. Agora eu o acho lindo. Os dentes, ainda estou em processo. Comecei por essa foto, cheia de gengiva, em que me achei linda."
Bruna Bento/UOL
Publicado em 29 de agosto de 2019.
Reportagem: Natália Eiras; Edição: Luciana Bugni; Edição de foto: Lucas Lima; Fotografia: Bruna Bento; Maquiagem: Penelope Beolchi; Figurino: Patrícia Haddad; Assistente de fotografia: Arthur Cunha.

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