Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Kicis pode ser 1ª mulher líder da CCJ, mas não há o que comemorar
Com as eleições para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, chegou a hora de escolhermos quem comandará as comissões. A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), em uma articulação entre os partidos, poderá ser a nova presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a mais importante da Câmara, por onde todos os projetos devem passar.
Com ela, teríamos a primeira mulher da história presidente desta comissão. É importante termos mulheres em posições de poder, especialmente no Congresso, marcado pela baixa representação feminina, pois representatividade encoraja novas gerações de meninas e mulheres a ocuparem aquele lugar. No entanto, não considero a presidência da deputada Bia na CCJ como uma vitória.
Corremos o risco de ter enormes retrocessos em tudo aquilo que já foi conquistado pelas mulheres em paridade de gênero caso a liderança desta comissão fique nas mãos de uma pessoa que, independentemente do seu gênero, ainda guarda tantos preconceitos sobre o lugar da mulher na sociedade.
Para mim, lutar por mais mulheres na política não é só lutar por aqueles que concordam com o que eu penso. Longe disso. Tanto que fundei o Instituto Vamos Juntas, que apoiou, nas eleições de 2020, 51 candidatas de 21 partidos diferentes, da direita, do centro e da esquerda. Discordamos em vários aspectos, mas todas as candidatas apoiadas concordam comigo em duas coisas: primeiro, que a democracia é e continuará sendo a nossa melhor opção; e, segundo, que mulheres e homens devem ter oportunidades iguais. Isso, para mim, é inegociável.
Assim, me indigno com essa possível vitória da Bia Kicis não porque discordamos em pautas econômicas ou sociais, mas porque a luta desta deputada é contra tudo aquilo que eu sou: mulher e democrata.
A deputada apresentou um único projeto sobre questões de gênero, com o intuito de excluir um grupo de mulheres - as atletas trans - de eventos esportivos. Ela já ironizou em suas redes sociais as práticas de assédio e tem uma trajetória marcada por ataques aos movimentos feministas e às ações afirmativas.
Kicis é investigada no âmbito do inquérito das fake news no STF e prestou depoimento sobre seu apoio a atos antidemocráticos contra o Congresso e o Judiciário em 2020.
Ela utiliza as suas redes para propagar notícias falsas e negacionismo, incentivando as pessoas a não usarem máscaras. Kicis, inclusive, já fez postagens racistas, como quando colocou ex-ministros com "blackface".
Independente do seu gênero, suas posições e práticas me fazem temer a possibilidade dela assumir um cargo tão importante. Se eleita, ela terá grande poder.
A deputada, inclusive, já mostrou disposição para barrar projetos que são muitos importantes na luta pela igualdade de gênero.
Caso o nome de Bia Kicis se confirme para presidente da CCJ, caberá a nós muita luta para impedir o avanço de pautas machistas, retrógradas e anticientíficas. Com essa indicação, não tenho o que comemorar.
*Tabata Amaral é deputada federal pelo PDT-SP, cientista política e astrofísica formada em Harvard. Criou o Vamos Juntas, mobilização suprapartidária para aumentar a participação feminina na política. É cofundadora do Movimento Acredito.
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