Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Guardiã de homens, Sarah não teve de volta a lealdade que deu a eles no BBB
Como pesquisadora e comunicóloga, acho importante dar nome aos nossos incômodos. Foi assim com as "guardiãs de homens", como nomeei aquelas que os defendem e culpam mulheres a todo custo. Para eles, perdão e empatia. Para elas, julgamento e desconfiança.
Se você não conhece uma guardiã, provavelmente é - ou já foi - uma. Elas estão nos comentários das redes sociais, filmes, livros, seriados, noticiários, almoços em família. Seria natural, portanto, que marcassem presença também em todas as edições do BBB, essa vitrine social. Em 2021, Sarah Andrade, eliminada no paredão desta terça-feira (30), assumiu o posto.
Sarah defendeu homens durante todo o programa, mas será que eles fazem e fariam o mesmo por ela - lá dentro e aqui fora?
Crias e embaixadoras do patriarcado, as "guardiãs de homens" costumam:
- ter orgulho de ter mais amigos que amigas ou de se "identificar mais com eles";
- aumentar erros de mulheres, diminuir ou relativizar erros de homens;
- facilmente odiar e desconfiar de mulheres, mais facilmente ainda perdoar e confiar em homens;
- ficar ofendidas ou bravas ao ver um homem ser mal falado, mesmo que esteja errado ou seja um desconhecido.
Todos os aliados de Sarah no BBB eram homens. Quando falava sobre mulheres, ela era juíza. As outras eram manipuladoras. Egoístas. Falsas. Começou com Karol e Lumena - e nós comemoramos. 'Temos uma espiã lá dentro! Ela vê injustiças e não se cala!' No entanto, as duas saíram e Sarah continuou vendo apenas mulheres como vilãs. Ué...
Quando viu Carla chorando por causa da toxicidade de Arthur, a sua opinião foi: "ela tá querendo botar no rabo do Arthur pra ele ser eliminado. Ah não, gente, aí é ser muito filho da p*ta."
Disse várias vezes que "não se enganava com Juliette", mas, curiosamente, defendia Arthur e Rodolffo, dois homens que erraram bastante na casa. Como todas as guardiãs de homens, ela repetidamente diminuía ou negava as falhas masculinas.
Sobre Arthur, disse que "é um menino que faz as coisas sem pensar". Quando Gil tentou desabafar sobre o cantor sertanejo, Sarah até subiu o tom: "cala tua boca que ele não falou p*rra nenhuma. Para de viajar, eu tô falando sério. Você cria coisa na tua cabeça que não existe".
O que Sarah aprendeu na formação do paredão é o que todas as guardiãs de homens aprendem em algum momento da vida: se precisarem escolher, homens vão priorizar homens e descartar mulheres. Porque, enquanto a socialização feminina nos ensina que mulheres são rivais e vilãs, a masculina ensina que só outros homens são dignos de respeito e admiração.
Sarah chora ao ser prejudicada por algo que ela mesma faz: preferir e proteger homens. Tudo bem quando o alvo era Juliette ou Carla Diaz. Só que a brasiliense achou que seria diferente com ela. A aliada. A defensora. E nunca é.
Inclusive, Rodolffo e Caio não demoraram a alimentar rivalidade e vilanização feminina, espalhando que Sarah falava mal de Juliette. Logo eles, que não só ouviam rindo, como falavam também.
Não seja uma guardiã de homens: 5 passos para refletir
1. Homens protegem homens.
2. Você não é tão "diferente das outras mulheres" assim.
Pode anotar: seus erros também vão ser julgados com muito mais firmeza do que os deles.
3. Ser mais amiga dos caras não deveria ser um orgulho. E não, mulheres não são mais falsas, difíceis de lidar ou manipuladoras. Isso é rivalidade feminina.
4. Dê uma chance às mulheres, antes de defender o homem em qualquer situação. Com sorte, outras farão o mesmo por você se algum dia precisar.
5. Antes de culpar ou odiar uma mulher, questione-se:
- Essa desconfiança é justa?
- Se fosse um homem, eu daria uma segunda chance?
- E se fosse comigo, como gostaria de ser tratada?
Sim, é possível aprender com o BBB. É possível aprender com a trajetória de Sarah. Talvez seja tarde para ela mudar suas escolhas ainda no jogo? Aqui fora, nunca é.
Espero que esse texto tenha sido um convite a isso: refletir, aprender e acolher outras mulheres. Nós precisamos começar a nos olhar com o amor e o cuidado reservado aos homens - por eles mesmos e por tantas de nós.
* Clara Fagundes é sergipana, futurologista e comunicóloga. Pesquisadora graduada e pós-graduada na USP, cria conteúdos educativos na internet e faz projetos incríveis com marcas conectadas aos futuros. Ama gente, cinema e escrever.
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