Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Até quando você vai associar autoestima ao seu peso na balança?
Lembro que ainda era bem pequena quando minha mãe falava quase todos os dias: "O mundo todo vai te dizer o contrário, então você precisa se achar bonita, sim, porque você é. E isso não depende do que os outros acham". Fui embebedada por um elixir de autoestima e senso de humor, uma iguaria de família desenvolvida por Dona Nice, a mulher que me trouxe ao mundo e o apresentou a mim da maneira mais verdadeira, honesta e engraçada possível.
Crescer com essa visão positiva de mim mesma me faz acreditar que, sobre a minha aparência, você pode pensar o que quiser, mas eu já tenho a minha opinião formada aqui e nada pode me atingir quanto a isso. Vou rir dos seus comentários maldosos e até concordar com uma coisinha ou outra, mas um beijo e tchauzinho. Azar o seu de não ter bom gosto. Eu, com meu 1,57m, sou uma pequena grande gostosa. Você que vá lidar com isso na sua terapia.
Mas e quando essa visão positiva se torna um movimento afrontoso ao outro? Caso você que está aí do outro lado não faça ideia de como eu sou fisicamente, vou te explicar: sou uma mulher não padrão, que passou por procedimentos estéticos sutis, mas que ainda assim continua sendo uma mulher não padrão.
Isso é suficiente para que muita gente ache um absurdo (sim, já li comentário com essa palavra) que uma mulher como eu se ache tão linda a ponto de não abaixar a cabeça para quem ousa tentar me ofender. Vejo isso também acontecer com outras amigas pretas, com amigas gordas, trans, travestis, com deficiência.
Em diferentes proporções, é claro, todos esses corpos não são considerados merecedores de admiração e de afeto (e falaremos menos superficialmente dessa parte em outro momento). Incluo também alguns amigos nessa lista, pois vejo de perto isso atingi-los, principalmente se tratando de homens pretos e gordos. Se forem pretos, gordos e LGBTQIA+ então, nem se fala. É como se fôssemos todos proibidos de nos sentir bem em nossa própria pele.
Não posso falar por todas as pessoas do mundo, inclusive as que citei, pois quero que todas elas tragam à mesa suas trajetórias. Mas posso falar por mim.
Fui uma criança gorda, que passou por uma anorexia no início da fase adulta e que, até pouco tempo atrás, teve dificuldades de entender o que achava sobre o próprio corpo (e até mesmo sobre o corpo dos outros) devido a diversos problemas emocionais. Hoje, muito mais do que antes (e depois de muita terapia, acompanhamento psiquiátrico e rede positiva de apoio e referências de pessoas reais, com quem me identifico) me sinto na minha melhor fase, ainda que isso incomode outras pessoas.
Vão associar isso aos tratamentos estéticos que faço, aos 7kg que perdi depois de descobrir um problema no fígado evoluindo para uma cirrose hepática, em que não tive opção a não ser emagrecer. Mas não é isso. É sobre ter entendido as palavras da minha mãe e ver todas elas reverberando enquanto todos os dias na internet usam a minha imagem (quando cansam de esculhambar o meu trabalho) na tentativa de tornar pejorativo tudo aquilo que eu tenho o maior orgulho de ter sido e o que agora tenho orgulho em ser.
Autoestima não tem relação com o quanto você pesa, com o quanto malha para emagrecer e com quantas cirurgias plásticas acha que precisa fazer. Autocuidado também não. No fim das contas, é sobre reconhecer as próprias qualidades, acolhe os defeitos e busca todos os dias ser uma pessoa melhor.
Autocuidado, para mim, é não se deixar influenciar pelas opiniões negativas das pessoas e se cercar de referências de conteúdos relevantes. Bonito mesmo é dormir bem, se alimentar direito, cuidar da saúde mental e ser uma pessoa boa.
Corpo ideal é o que sustenta as suas dores e serve de instrumento para a construção da sua história.
É o que sustenta os seus ideais e essa grande gostosa que você já é.
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