Topo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Maternidade solo nunca é fácil: mãe nenhuma quer criar seu filho sozinha'

Cynthia Benini amamenta a filha, Valentina, nos bastidores - arquivo pessoal
Cynthia Benini amamenta a filha, Valentina, nos bastidores Imagem: arquivo pessoal
Cynthia Benini

Colaboração para Universa

29/07/2022 04h00

Falar sobre a maternidade solo nunca é fácil: isto porque nenhuma mãe que cria seu filho sozinha gosta de estar realmente só e, claro, muitas vezes é melhor estar só do que mal acompanhada. Porém, nem sempre é uma questão de opção.

Independentemente da causa, a maternidade solo sempre carrega dificuldades na administração da vida pessoal, profissional e social. Cresci numa família de classe média e conservadora. Não fui criada para casar e separar. Não fui preparada para lidar com a malícia masculina.

Venho de uma época em que a gente se escondia para dar um beijo de língua, sonhava ainda com a primeira transa e com o "homem ideal". Era através dos personagens de novelas que criávamos nossos "crushes" e, assistindo aos filmes da sessão da tarde, nossas futuras aventuras.

E, olha, não acho que faz tanto, tanto tempo assim, porque ainda vejo muitas mulheres caindo no conto romântico "quero ter uma filha com você", do filho que vai segurar o homem ou da "gozadinha fora".

A verdade é que a criação da prole fica sob a custódia das mulheres, elas podendo ou não. Dando conta ou não. A mega operação que nós mulheres devemos coordenar quando não há apoio, ou com quem dividir tarefas, se torna árdua.

Na falta de uma babá, muitas vezes minha filha foi trabalhar comigo e dormia no sofá da redação até o jornal que eu apresentava acabar.

Quantas mulheres atrasam no trabalho por não terem quem leve seus filhos para a escola? Quantas crianças já morreram, são abusadas ou sofrem maus tratos por não estar sob a supervisão de quem deveria? Não é assustador? É só abrir as notícias diariamente.

E isso acontece em todas as classes sociais. Porque o filho criado sem estrutura familiar de suporte, cresce sem parâmetros do certo e errado. E na sociedade democrática, ele precisa exercitar isso para escolher seu próprio caminho de forma saudável e responsável no futuro.

Toda mulher quer ser amada, viver com dignidade e com seu trabalho para manter seus filhos. A vida solitária tem seu preço e é alto. Não é uma questão financeira só. É administrar uma vida sem múltiplas escolhas.

Com toda a informação disponível hoje, ainda vivemos numa sociedade machista na qual é difícil achar um homem que aceita criar filho dos outros. Mas existe, mesmo sob algumas regras impostas a quem? Às mulheres.

Mas também tem aqueles que aceitam os filhos das mulheres que amam, no momento.

Ouvi muito isso quando me separei: "vai ser difícil arrumar alguém que aceite sua filha". "Cuidado com quem coloca dentro de casa"... E diante dessas crenças vivi um bom tempo tentando me dividir em mil mulheres, para me encaixar em cada momento, buscando saídas para minha vida solitária.

Além de cometer erros, essa rotina se torna cansativa e o tempo passa!

Geralmente, a grande desculpa é "estou focada no meu trabalho e na criação da minha filha". E o EU, onde fica nesse teatro da vida?

Por isso, cabe à mulher dizer sim ou não à maternidade, a escolha do seu futuro parceiro ou parceira, de quem quer ser daqui pra frente e das decisões que irá tomar.

O contraceptivo está aí à nossa disposição, para sentirmos prazer à vontade.

E os filhos para nos darem muito amor e nos trazerem ensinamentos que irão seguir por gerações.

Que assim seja... se a gente quiser!