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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No conto de fadas de Bolsonaro, mulheres são submissas e príncipe vira sapo

 Presidente Bolsonaro e primeira-dama Michelle Bolsonaro na comemoração do bicentenário da Indepedência do Brasil - Leo Bahia/www.fotoarena.com.br
Presidente Bolsonaro e primeira-dama Michelle Bolsonaro na comemoração do bicentenário da Indepedência do Brasil Imagem: Leo Bahia/www.fotoarena.com.br

Lilia Moritz Schwarcz

Colaboração para Universa

07/09/2022 17h02

Bolsonaro procura que procura melhorar sua "performance" com as mulheres, mas não consegue. Faz sempre o oposto, destilando seu machismo de raiz.

Depois de destratar —sem sucesso— a jornalista Vera Magalhães e a candidata Simone Tebet no debate do dia 28 de agosto, após buscar intimidar Amanda Klein na Jovem Pan, neste dia 7 de setembro procurou se corrigir. Novamente, porém, produziu o efeito contrário: a certeza de sua visão patriarcal acerca do papel das mulheres.

Disse ele, do alto do palanque que construiu para si em Brasília: "Tenho falado com homens que estão solteiros: procurem uma mulher, uma princesa, se casem com ela para serem mais felizes ainda".

A visão é que não há protagonismo nas futuras esposas, que são chamadas de princesas, afinal, nos contos de fadas, elas só aguardam "eternamente em berço esplêndido" a chegada de uma príncipe encantado.

Mantendo o mesmo tom machista de suas falas e ações, Bolsonaro ainda procurou fazer uma comparação com outras primeiras-damas, ao mesmo tempo em que engrossou um coro,autorreferido. "Imbrochável, imbrochável, imbrochável", gritava ele, com um sorriso no rosto, depois de dar um beijo na primeira-dama Michelle Bolsonaro. No entanto, como o efeito dura pouco, imediatamente o presidente empurrou com o braço a esposa/princesa para atrás de si. Era o que faltava para mostrar o lugar que ele devota às mulheres: submissas e sempre um passo atrás.

E o que é pior: tentando fazer passar a sensação do "viveram felizes para sempre".

A palavra imbrochável não existe no dicionário. É um neologismo criado pelo presidente para fazer referência ao seu desempenho sexual. "Aquele que não brocha" seria a definição mais correta.

O termo é tão ambíguo quanto não dicionarizado. Segundo o dicionário Michaelis, brochar significa "perder a potência sexual; mostrar-se incapaz de praticar o ato sexual". Mas também pode significar: "mostrar-se desanimado; desanimar, desestimular-se". A indefinição é tal que não há consenso em como grafar o termo: brochar ou broxar.

Mas no caso do presidente seria melhor recorrer não tanto à gramática, mas à psicanálise. Aquele que precisa afirmar tanto e tantas vezes sua masculinidade e fazer dela um espetáculo público é porque, em geral, tem no seu desempenho sexual um problema e não uma solução. Deixemos o dito pelo não dito.

De toda maneira, nada disso interessa à República e à democracia. A efeméride da Independência deveria levar a uma reflexão cívica —e não militar ou machista— sobre o que queremos para o Brasil. Qual foi nosso passado, qual é nosso projeto para o presente e como sonhamos com o futuro num país ainda tão desigual, que pratica um racismo estrutural e é campeão de feminicídio?

Nessa história real do Brasil a independência continua incompleta —por se fazer— e o príncipe não se casa com a princesa. Vira sapo!