Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O fim de 'Succession': não é só Gisele Bündchen quem está de luto
Tem gente que passa a vida toda buscando um dia que dê sentido a todos os outros. Às vezes é o dia do casamento; às vezes, o nascimento —-ou a formatura— de um filho; às vezes, um cargo no trabalho que você levou vinte anos para alcançar. Respeito, entendo, admiro e admito até a presença de uma certa inveja. Do apreço por grandes causas. Para mim, no entanto, devota da vida pequena, 2023 começa amanhã, com a estreia da quarta e derradeira temporada de "Succession", a série das séries. Para vocês não reclamarem que só gosto de BBB.
Vai entrar o piano e pode ser que eu chore. O super 8 da infância, o elefante, as crianças que se transformariam em lobos porque, né? Poder e dinheiro, difícil sobrar alguém. Logan, Kendall, Roman, Greg, Tom, Shev, os vilões da minha vida! Como vai ser sem vocês?
Sim, estou falando da série magia da HBO, na qual milionários brilhantes e sem noção fazem de mim uma mulher completa e feliz desde 2020 (a estreia foi em 2018, dois anos tomando ansiolítico à toa, verdadeiro desperdício).
Não conhece? Corre. Não assina a plataforma? Compra um DVD na Augusta (ia dizer baixa um piratão, mas talvez isso não seja uma coisa assim que se faça, ops, quero dizer, que se escreva). Não gosta, vê de novo, melhor repensar cabelo e profissão.
Olha, Deus abençoe os roteiristas, editores, diretores, atores, maquinistas, figurinistas e todos os seres humanos que reproduzem, na minha idade adulta (não tão adulta), a sensação de embalo que sentia na infância. O descanso de si, a folga para o ego, a lâmpada que nunca apaga: quem tem ficção tem tudo (acho que vou fazer essa tatuagem).
Até pouco tempo atrás, adorava tirar onda de que não tinha entrado para a seita "minha série, minha vida". Achava que boa dramaturgia só no cinema e no teatro, com todo aquele pacote meio missa que junta concentração, silêncio e experiência coletiva. Passei batido por "Game of Thrones", não vi "House of Cards", resisti a todos os potes de gel do cabelo do galã de "Mad Man". Me sentia levemente superior à galera que fazia comunidades em torno de personagens. Pobre de mim.
Veio a pandemia e eu, como todo mundo que pôde, virei a psicopata, não só do álcool gel, mas, principalmente, da TV. Meu reino por uma nova temporada. E agora a viciada que vos fala, devota de "The Crown" e "White Lotus" e herdeira de "Sex and The City" e de "Os Normais", se prepara para a despedida. Começa domingo agora, na temporada em que verei, pela última vez, diálogos novos dessa gente horrível e maravilhosa que me ajuda a esquecer das joias da Michelle e dos médicos que reclamam do Mais Médicos.
Não é só a Gisele Bündchen quem está de luto por um sonho com data de validade.
Logan, você foi a melhor relação tóxica de toda a minha vida. Vou te amar e te odiar para sempre. Depois falamos da divisão de bens.
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