Opinião

Como lidar com a chegada da temida crise no casamento após os filhos?

Os filhos chegam e, planejados ou não, simbolizam a união do casal, o amor e, na crença popular, dizem que podem até salvar o casamento. Mas na vida real não é bem assim que funciona, pelo menos não para a maioria dos casais.

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Você já deve ter ouvido falar da temida "crise no casamento após chegada dos filhos", certo? Vamos conversar para você entender, resolver e superar esse momento, deixando claro que os filhos não são os vilões dessa história, existem outros motivos que culminam na tal crise.

Revivendo nossa própria infância

A primeira causa da crise pode vir ao conhecer uma nova parte da vida do parceiro, que é a infância dele. Como viveu, os valores aprendidos, a forma com que foi educado, as vezes com mais amor outras vezes com muita dor, tudo isso vem à tona quando o herdeiro chega e precisamos educar.

Discordar da abordagem, do que deve ou não ser corrigido e como deve ser corrigido, são novos desafios que o casal vai enfrentar.

Nesta fase do relacionamento, além do diálogo ser essencial, é preciso a escuta respeitosa e o entendimento que cada família possui seus próprios valores, ou seja, nesta sua nova família, quais serão os valores que vocês praticarão? Nem sempre há um valor óbvio ou ruim em discussão. Existem valores mais sutis, como o tom da voz na educação, ou mesmo a autonomia da criança: deixa cair para aprender a levantar ou se cair eu ajudo a levantar.

É nesta hora que a escuta é tão importante, já que criar filhos também significa reviver nossa infância, o que pode vir com costumes que nunca pensamos se eram certos ou não, simplesmente repetimos o padrão. Conversar sobre os novos valores da sua família pode ser uma tarefa difícil quando alguém quer "vencer" essa discussão. É essencial respeitar as diferenças e ter flexibilidade para buscarem um meio-termo que satisfaça ambos.

Cada filho precisa de uma nova rotina - das crianças, do pai e da mãe

Por mais que falem que o filho precisa se adaptar à vida do casal, sabemos que a realidade não é bem assim, a não ser que o casal tenha uma mega rede de apoio para ficar com as crianças.

Nos primeiros meses os bebês demandam muitos cuidados. Nos primeiros anos os horários e rotinas também precisam ser respeitados pelo bem estar dos pequenos e dos adolescentes. Não dá para manter todos aqueles eventos sociais, encontros, saidinhas e beach tennis diários sem rede de apoio ou uma boa divisão de tarefas entre os pais.

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Precisamos entender que a dinâmica familiar muda cada vez que um novo membro chega, assim como muda a nossa rotina, prioridades e como vamos dividir nosso tempo com nossos filhos, trabalho, lazer, parceiro, academia e amigos.

Sobrecarga e privação de sono

Vamos lembrar que geralmente é a mãe quem fica sobrecarregada com os cuidados do bebê. Passa o dia todo cuidando do filho e da casa, enquanto o papai chega tarde se dizendo cansado. Claro que o pai está cansado, mas quem está olhando para esta mãe que, além de exausta, está sem interagir com outras pessoas? Aposto que ela daria tudo por um almoço de trabalho, só para se arrumar, ver gente diferente, estar em outro ambiente e sem se preocupar se está tudo bem com o bebê.

Misturando tudo isso com as poucas horas de sono, o esgotamento físico e emocional afeta a paciência e disposição, inclusive para um diálogo respeitoso, resultando em choros, cobranças e sensação de que está sozinha.

Os tempos mudaram junto com as responsabilidades da mãe e do pai. Se antes a mãe "só" se preocupava em criar filhos, hoje ela tem atribuições maiores e menos rede de apoio. Raramente conhece os vizinhos, ao mesmo tempo que seus familiares e amigas trabalham fora e não podem ajudar com o bebê.

O papel do pai, então, ganha mais importância. Não basta prover, tem que participar, dividir, entender seu papel e não esperar que peçam pela sua ajuda, mas sim que cumpra sua parte espontaneamente.

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E sabe quem mais ganha nesta divisão? Pai e filho(a). A oxitocina, o almejado hormônio do amor, é produzido tanto pelo pai quanto pelo filho durante o cuidado, o tempo junto, o dormir no colo. Não tem segredo, é ciência. É assim que se produz, ou melhor, nasce o "amor paterno", usando a mesma fórmula da produção do "amor materno".

Priorize o relacionamento

Mesmo com a chegada dos filhos, não esqueçam de vocês dois, a origem desta família. Reservem um tempo para olhar no olho, ficarem juntinhos, andarem de mãos dadas e dormirem conchinha.

Manter a intimidade não é ter relação em si, é manter o contato, a conversa, o respeito e admiração. Falar sobre as dores, agradecer pelos momentos juntos, imaginarem como vocês estarão daqui a 5, 10 ou 30 anos para que os planos para o futuro sejam em conjunto.

Costumo falar que homens não entendem indiretas, precisamos ser muito claras para que eles possam compreender. Então dar indiretas ou revirar os olhos só traz confusão, de um lado um acha que entendeu enquanto o outro acha que falou. Evitem meias palavras, sejam claros e respeitosos também com o sentimento do outro.

Criar e manter um espaço seguro para conversarem e poderem expressar seus sentimentos sem medo e julgamentos, traz ao relacionamento mais tranquilidade e segurança. Ao saber o que eu sinto, meu parceiro cuidará melhor de mim e eu dele.

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Família é um trabalho em equipe. Como a vida é dinâmica, para superar os obstáculos precisamos andar juntos e na mesma direção. Comunicação, empatia, respeito, propósitos e amor são os ingredientes que mantém a família unida e supera qualquer crise.

*Monica Romeiro é a criadora do Almanaque dos Pais. Ela é comunicóloga, palestrante, empresária, conselheira parental e escritora de "Vem cá me dar um abraço - um colo de mãe para mãe" e "Amor maior que o meu - o que você mais, ser mãe ou seu filho?".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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