Opinião

Nova fase? 70% das mulheres com mais de 50 anos tentam mudar de carreira

Pensando na minha visão dos seres humanos, entendo que somos uma potência de enorme capacidade, mas tenho visto que muitos de nós têm colocado em xeque nossa capacidade individual e única para lidar com diversas situações.

Em vídeo que assisti de um filósofo da África do Sul, foi mencionada a palavra uniqueness que, em português, significa singularidade. Não é bonita? Dentro da visão da ecologia, quando falamos de um indivíduo, estamos falando daquilo que não é igual a ninguém. Eu adoro essa visão e isso me traz a potência individual daquilo que somos.

Infelizmente, temos nos colocado dentro de padrões, tentando nos enquadrar em modelos, com medo do julgamento alheio. Essa conclusão me veio à mente quando li, em uma pesquisa realizada pela Maturi, que 70% das mulheres maduras com mais de 50 anos estão buscando uma transição de carreira, e quase 65% dos homens também estão nesse movimento.

Levando em consideração que aproximadamente 2/3 da população estão nessa busca, logo pus-me a refletir como me sinto perante esse cenário, já que eu sou uma mulher que, neste ano, completa 50 anos.

Uma sensação de alívio me veio à cabeça: liberdade e equilíbrio de vida. Contudo, ainda temos que falar sobre o tal do etarismo no mundo corporativo. E para dar início à discussão, repito o que disse em um podcast do qual participei recentemente: "Todas as pessoas são potência máxima em alguma coisa. Mas a pessoa brilhante no lugar errado se torna sua pior versão".

Eu não sei se todos vocês concordarão comigo, mas se pensarmos na combinação entre a experiência de alguém com maior maturidade versus a agilidade e a coragem da nova geração, será que isso nos abre novas oportunidades de mercado?

Eu como personagem nesta história

Não existe certo ou errado em relação ao que vivi, ao que vivo e ao que estou traçando para o meu futuro. Quando falo sobre a dificuldade de voltar para o mercado de trabalho com mais de 50 anos, eu diria que, por ter vindo de um mercado de inovação e de tecnologia, tenho o privilégio de saber utilizar todas as novas ferramentas a meu favor; uso todo o meu conhecimento e poder de uma liderança positiva com o impacto.

Mas então, por que eu ter quase 50 anos seria um bloqueio para o mercado? O que está por trás disso? É um salário alto? É um custo de saúde para a empresa? É um julgamento de que uma pessoa com 50 anos já está ultrapassada?

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Prefiro dizer que somos a geração da transição, que precisa mostrar que temos longevidade. Isso é corroborado por dados do IBGE: em 2050, seremos mais de 50% da população. Acredito que falta divulgação sobre esses números como potencial de novos negócios, ainda mais quando a população mais velha do Brasil será uma grande fatia do mercado de consumo.

O questionamento que lanço é: "Você gostaria de ter que sustentar seus pais em alguns poucos anos? Ou você gostaria de, em 20 ou 25 anos, ser considerado uma pessoa inativa, sem utilidade?".

E se compartilharmos ao invés de dividirmos? E se somarmos a ousadia dos jovens à experiência dos sêniores? Qual o tamanho do impacto que podemos esperar? Sabe o que realmente me encanta? A diversidade passa por muitas questões, mas eu adoro a intersecção geracional. Ousadia com conservadorismo. Desapego com freios. Viver mais leve com um pouquinho de medo. O novo combinado aos traumas.

Não podemos pensar que a pessoa 50+ custa mais caro e que ela toma o lugar de uma oportunidade de um jovem; igualmente, não podemos aceitar a crítica de que a nova geração não tem a inovação e a qualidade de vida como frentes de propósito.

Vivemos em tempos bem diferentes, é verdade, mas não estamos em uma disputa. Sêniores, não julguem os mais novos. Jovens, tenham paciência com os mais sêniores. Tudo é soma. Vamos nos juntar para observarmos, perguntarmos e escutarmos - de verdade!

*Luciana Lancerotti é consultora e palestrante na área de marketing com práticas sustentáveis para o mundo corporativo, ex-CMO da Microsoft, com mais de 32 anos de experiência em grandes empresas.

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