Opinião

Meu filho nasceu e eu chorava sem parar: o susto de enfrentar o baby blues

Eu tinha acabado de realizar meu maior sonho: ser mãe. Mas, então, por que eu chorava tanto? Não era tristeza, mas também não era felicidade. Aquelas lágrimas simplesmente insistiam em cair, como se tivessem vontade própria. Existe isso, chorar por chorar?

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Lembro-me perfeitamente do momento em que estava para sair do hospital. Minha médica, com aquele sorriso tranquilo de quem já viu de tudo, perguntou: "Está tudo bem?". E eu, no reflexo automático da vida, respondi que sim. Porque, bem, estava tudo bem. Ou pelo menos eu achava que sim.

Ela continuou: "Ah, que bom, porque depois que o bebê nasce, as mulheres podem ter uma queda brusca de hormônio". Eu não tinha ideia do que aquilo significava. Queda brusca de hormônio? Ok, que bom que eu não tive isso, pensei. E seguimos para casa, eu e meu marido, com o nosso bebezinho perfeito nos braços. Tudo era novidade, um mundo novo que eu estava ansiosa para explorar.

Então, voltou o festival de lágrimas. Lucas chorava, eu chorava junto. Alguém sugeria uma visita, eu chorava. Ele tomava vacina, eu chorava. Até quando ele dormia, eu chorava. Que coisa estranha era essa que estava acontecendo? Parecia que meus olhos haviam se transformado em cachoeiras incontroláveis.

Naquela época, eu já tinha o Mommys, era uma comunidade pequena somente com algumas amigas, um espaço de apoio e troca. Mas, ainda assim, tive vergonha de falar sobre isso.

Confidencialmente, chamava uma amiga no particular e perguntava: "Você chora?" Depois, chamava outra e fazia a mesma pergunta. Eu não tinha coragem de admitir que tinha realizado meu maior sonho, mas tudo o que eu sabia fazer era chorar. E nem era aquele choro de felicidade. Era só um choro... por chorar.

Descobri sozinha, depois de perguntas e pesquisas, que o que eu vivia tinha nome e sobrenome: baby blues. É uma condição pela qual cerca de 80% das mulheres passam após o parto. É como um tsunami hormonal que vem sem aviso, bagunçando tudo por dentro. Não é uma tristeza profunda como a depressão pós-parto, mas uma melancolia inexplicável, uma confusão emocional que pode durar dias ou semanas.

O baby blues é assim: uma espécie de ressaca emocional depois da grande festa do nascimento. Os hormônios, fazem uma verdadeira dança doida dentro da gente. Tudo fica meio confuso, as lágrimas vêm sem serem convidadas, mas depois vão embora como chegaram. É a biologia, meus caros, mas também é a nossa humanidade em sua forma mais pura.

Se eu soubesse disso, teria me permitido sentir mais e me culpar menos. Teria acolhido meus choros com a mesma delicadeza que eu acolhia o meu Lucas. E, quem sabe, teria encontrado um pouco mais de paz naquele turbilhão de emoções que é ser mãe pela primeira vez.

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Ah, se há 13 anos as pessoas falassem abertamente sobre isso! Teria me poupado tanta angústia.

Foi talvez nesse momento de vulnerabilidade que minha missão com o Mommys começou, mesmo sem que eu percebesse. Decidi que não iria romantizar a maternidade, mas falar sobre as dores e delícias de ser mãe de forma aberta e honesta. Queria que outras mulheres soubessem que não estavam sozinhas e que não havia nada de errado em chorar ou sentir o que fosse.

Entendi que cuidar de nós mesmas é o primeiro passo para cuidar de nossos filhos, e que, quando nos acolhemos e somos gentis com nossas próprias emoções, tudo fica mais leve. E foi assim que, sem perceber, comecei uma jornada para ajudar outras mães a entenderem que, cuidando de si mesmas, cuidam de tudo o que mais importa.

*Mariana Bicalho é mãe de dois, mentora de mães e há 14 anos descomplica a maternidade. É fundadora do Mommys - comunidade online fundada em 2010 - que hoje conta com mais de 10 mil membros e foi considerada pelo Facebook uma das 100 comunidades de maior impacto no mundo e top 3 no Brasil. Criou o conceito de mindset materno e através da sua mentoria guia mães na jornada de reencontrarem sua identidade para viverem uma maternidade leve. Dentro do Mommys promove o acolhimento e a conexão entre mães, o pertencimento e a construção de relações autênticas e genuínas construindo um ambiente seguro e harmônico. Sua bandeira é a maternidade leve e o autocuidado materno em sua forma mais ampla, pois acredita que mãe feliz cria filhos felizes. Mariana é practitioner em PNL, Pós graduanda em Psicologia Positiva, Bem Estar e Felicidade, dedica-se ao estudo do poder da mente e do comportamento humano, além de ser graduada em Direito e Pós graduada em Direito de Empresa. Mariana também é especialista em comunidades online e professora da PUC-Minas. Foi a primeira brasileira com a certificação Facebook Blueprint Certified Community Manager e única brasileira duas vezes selecionada para os principais programas do Facebook com aceleração, treinamento e investimento, em razão da consistência e seriedade de seus projetos realizados dentro do Mommys.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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