Opinião

Como fica a cabeça da gestante em cada trimestre da gravidez?

A maternidade é uma construção repleta de experiências e adaptações diante de mudanças físicas, hormonais e emocionais que acontecem na perinatalidade (gestação, parto e puerpério). E a gestação é fundante, mas sugiro trocar a palavra fundante por 'é a base desse processo', no qual a vida da mulher irá passar por intensa transformação.

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Não existe uma forma única de vivenciar esse período, cada mulher vivenciará esse processo de acordo com sua individualidade, contexto psíquico, social, biológico, geográfico e temporal. Mas todas as expectativas e incertezas a respeito da gestação e do filho, podem gerar na mulher ansiedade frente ao desconhecido. Portanto, dividirei as fases por trimestre e conto quais são suas características mais usuais.

Primeiro trimestre: compreendendo a gravidez

Normalmente, nessa fase os conflitos que aparecem podem ser associados à ambivalência de sentimentos e incluem pensamentos sobre o bebê, sua concepção, alterações de papéis (esposa, mulher, mãe, profissional) e medos diversos. A mulher começa a lidar com a ideia de ter um bebê se desenvolvendo em seu ventre e por vezes tem dúvidas se terá condições de continuar gestando essa vida.

É um momento de bastante vulnerabilidade emocional. Muitas vezes, a notícia da gravidez ainda não é pública e na medida que é comunicada a gestante fica exposta à reação do outro do casal, da família e da comunidade. A forma como a novidade é acolhida pelos outros é uma variável muito importante no desenvolvimento da gestação.

Na parte física, algumas não notam diferenças, mas há quem já sinta sintomas como sonolência, pressão na bexiga e enjoo.

Essa fase inicial é a adequada para procura da equipe que acompanhará a gestação e participará do trabalho de parto, e todo esse processo de busca também é uma forma de começar a concretizar a ideia do bebê. Acompanhar essa procura ajuda o companheiro a materializar a gestação.

Poderemos observar como o objetivo e o subjetivo vão conversando. Por exemplo, a busca por informação de qualidade, participar de grupos, realizar cursos, ajudam a baixar a ansiedade (talvez um dos aspectos mais importantes para atravessar todo esse processo da perinatalidade de forma mais tranquila e saudável) e adentrar mais no novo universo.

Segundo trimestre: é real, vou ter um filho

Pode se animar, para muitas é tido como o melhor momento da gravidez, pois a maior parte dos desconfortos físicos do início tendem a desaparecer. A placenta já está formada, o bebê passa da situação de embrião a feto, a dependência para a sobrevivência ainda é grande, porém já é relativa.

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No quinto ou sexto mês há o aumento mais expressivo do ventre: a gravidez se torna uma realidade concreta. Usualmente, é o início da percepção dos movimentos do bebê, o que favorece maior estabilidade nas emoções como um todo e facilita a conexão da mãe com o bebê. No corpo da mãe também acontece a reorganização dos outros órgãos, a mulher começa a sentir o ritmo do organismo mais lento ou aumento na disposição.

Terceiro trimestre: é a reta final da gravidez

Com a proximidade do parto, a mulher se torna mais suscetível às alterações emocionais. Normalmente, três temas se intensificam: ambivalência, regressão e identificação.

A ambivalência é o desejar e não desejar ao mesmo tempo. Pode soar confuso, mas você pode querer que o bebê nasça logo para finalmente conhecê-lo, mas ao mesmo tempo deseja que ele permaneça no ventre, pois essa situação já é conhecida e "controlável".

Também existe um sentimento de que as mães fiquem mais regredidas, mais molinhas, comecem a desenvolver um estado de identificação com seu bebê, de sensibilidade e delicadeza necessários para a compreensão e adaptação às necessidades do recém-nascido. É aquela preocupação em arrumar o quarto e enxoval do bebê e também criar um espaço interno para seu filho na sua vida.

Ao longo das 40 semanas da gestação as respostas corporais e emocionais são intensas. Podem acontecer estados de ansiedade e depressão, distúrbios de sono, distanciamento da vida sexual, problemas de comunicação com o parceiro, cansaço físico e fobias. É importante ficar atenta e em troca sincera com seu médico.

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Algumas mulheres sentem medo do parto, da dor, de se separar fisicamente de seu filho. Outras ficam com ansiedade pela pressão que a família exerce, por questionamentos se o bebê está saudável, com as mudanças na rotina com a chegada do filho, da carreira, da relação, se dará conta da missão tão ampla.

Esses sentimentos são naturais e, de certa forma, a gestação inteira pode ser marcada por oscilações de humor. Cada mulher irá vivenciá-la de uma maneira bastante específica, mas é importante não se esquecer de que todo esse turbilhão emocional faz parte do processo.

Como ajudar a mulher viver a gestação mais tranquila e saudável?

Quanto mais a gestante se sentir amparada e segura, melhor. Nos momentos de dúvida diante do novo papel, é importante que ela seja acolhida e encorajada a dividir suas dúvidas e receios com o parceiro, com as amigas e outras gestantes e mães - em encontros de casais gestantes e puérperas, por exemplo.

É importante que desde a gestação ela comece a pensar numa rede de apoio que considere segura e na qual confie. Ela poderá se beneficiar do apoio uma equipe de pré-natal, com a qual estabeleça uma relação de confiança. O atendimento psicológico, no período gestacional e no pós-parto, é uma intervenção de prevenção aos transtornos psíquicos e a promoção de saúde mental, e tem como objetivo prevenir situações adversas que possam desencadear o adoecimento psíquico.

Ao contrário do que se imagina, o período gestacional nem sempre é marcado por alegrias e realizações. Muitas mulheres experimentam forte tristeza ou ansiedade, de 20 a 25 % das mulheres no período gestacional e no puerpério podem apresentar depressão.

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É necessário dobrar a atenção e se cuidar, uma vez que a grávida deprimida apresenta menor preocupação com seu corpo e pode sofrer com sintomas como insônia e falta de apetite. Além disso, há estudos que apontam que a depressão pode levar a ao baixo peso do neném ao nascer ou até questões emocionais, cognitivas e comportamentais de longa duração.

Nos casos de depressão gestacional, assim como da depressão pós-parto, é importante que a mulher tenha acesso a um atendimento psicológico, apoio e acolhimento. Para mãe se sentir mais disposta e confiante e passar todo zelo e amor ao novo integrante da família.

*Maiana Rappaport é psicóloga especialista no atendimento às gestantes, pós-parto, casais, orientação de pais e adultos em geral, além de ser consultora do sono de bebês. Ela atende na Casa Curumim, espaço que oferece atendimento integral à família, com profissionais amplamente qualificados em diversas especialidades pediátricas, para acompanhar a mãe da gestação a criação do filho.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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