Eduquem meninas cientistas: só 12% dos cargos altos na área são de mulheres
Você sabia que a diferença de gênero em campos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (abreviadas como STEM) ainda é uma preocupação em nível global? A representação feminina permanece baixa, refletindo desafios estruturais e sociais que precisam ser debatidos -então vou debater aqui.
De acordo com dados da UNESCO, globalmente as mulheres representam apenas 30% da força de trabalho em áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Essa diferença é mais acentuada em certas disciplinas. Em engenharia, por exemplo, o índice é de apenas 13% de mulheres.
Segundo o World Economic Forum, apenas 12,4% de cargos C-Level em áreas de STEM são ocupados por mulheres. A disparidade se origina de uma combinação de fatores, incluindo estereótipos de gênero, falta de modelos de referência e barreiras institucionais, como ambientes hostis e a falta de suporte durante a educação e o início da carreira de mulheres.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), até 2050 as disciplinas de STEM devem cobrir 75% da economia de mercado global e, de acordo com a Unesco, somente 35% de estudantes formados em áreas de STEM são mulheres. É preciso prestar atenção e investir fortemente na educação das meninas desde o nível escolar para que essa lacuna possa ser preenchida o quanto antes.
Também é importante lembrar que a Inteligência Artificial transformará o mercado de trabalho de forma drástica e irreversível, podendo alterar muitas funções e criar novas profissões. Mas até a IA sofre de falta de representatividade. Estudos mostraram que algoritmos podem exibir preconceitos de gênero, refletindo as opiniões e os preconceitos de suas equipes de desenvolvimento. Isso torna essencial a inclusão de mais mulheres nesses campos para garantir que as soluções de IA sejam justas e equitativas.
Por outro lado, ainda que de forma mais lenta, temos visto um aumento no envolvimento de mulheres em projetos de IA e em startups focadas em tecnologia. Um relatório da Gartner de 2023 aponta que o número de mulheres que trabalham em funções relacionadas à IA aumentou para 27%, em comparação com anos anteriores. Essa mudança pode ser creditada a várias iniciativas que visam promover a educação em tecnologia, como programas de mentoria e "hackathons" - encontros de profissionais e desenvolvedores de TI.
De toda forma, o letramento de IA na área da educação é extremamente relevante, pois a grande maioria dos professores da rede pública de ensino é formada por mulheres, representando 80% no Brasil. Na educação privada, a proporção de mulheres também é bem alta, com cerca de 75%. O total de educadoras ultrapassa 1,6 milhão em todo o país, o que chama a atenção para a necessidade de considerarmos as questões de gênero ao implementar novas tecnologias e políticas educacionais, incentivando a presença de mulheres em projetos de IA em todo o Brasil.
Com a crescente importância da IA em todos os setores, devemos preparar a força de trabalho feminina para as demandas futuras do mercado de trabalho. Nessa missão, vale reforçar que cerca de 80% dos professores da educação básica são mulheres, logo, ao capacitar professoras em IA, pode-se criar modelos femininos em tecnologia para estudantes, especialmente meninas, inspirando mais mulheres a seguir carreiras na área.
Um projeto de IA nas escolas representa uma oportunidade única de empoderar uma grande parcela da força de trabalho feminina com habilidades tecnológicas avançadas.
A disparidade de gênero em STEM é uma questão complexa que requer esforços contínuos para ser solucionada. A inclusão de mulheres na área de IA, além de uma necessidade ética, é também uma oportunidade estratégica para a inclusão de mais mulheres no mercado de trabalho.
Para promover um futuro melhor, onde homens e mulheres possam contribuir equitativamente, as instituições educativas e as empresas de tecnologia precisam continuar a desenvolver programas que incentivem a participação feminina, promovendo igualdade de gênero e garantindo o desenvolvimento de tecnologias mais justas e inclusivas.
*Ivini Ferraz é Mestre em Mudança Social e Transformação Digital pela USP e sócia fundadora da Players School
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