Política é um substantivo feminino, mas onde estão as mulheres na eleição?
Infelizmente, as mulheres são vítimas de um duplo padrão na política: se somos firmes e assertivas, somos rotuladas como agressivas ou mandonas; se somos compassivas e empáticas, somos vistas como fracas ou excessivamente emocionais. E assim, cada vez mais perdemos nosso lugar em um espaço que também é feminino.
Curioso notar, contudo, que a própria palavra "política" é um substantivo feminino. A palavra deriva do termo politikos, que, no grego antigo, se relaciona a polis; esta, por sua vez, significa cidade ou Estado. Então, se a própria política é feminina, por que não temos a presença de mulheres?
As mulheres na política, embora sejam 53% do eleitorado brasileiro - e não inventei esse número só para justificar meu posicionamento; são dados levantados nas eleições de 2022 -, ainda não são vistas como deveriam neste cenário. Os resultados das eleições municipais de 2024 também não me deixam mentir: dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 727 terão prefeitas a partir de 2025, ou seja, apenas 13% do país.
Dessas 727 eleitas, apenas duas comandarão capitais: Campo Grande (MS) e Aracaju (SE). E aí, cadê as mulheres na política? Também quero ressaltar que, na luta por mais mulheres na política, independentemente se de direita ou de esquerda, precisamos da pluaridade para uma democracia plena.
Porém, precisamos também que todas as mulheres eleitas estejam conscientes da luta por direitos iguais em nosso país - ainda avançamos a passos lentos.
As prefeitas de São Paulo
Historicamente falando, o ambiente político é dominado por homens, o que por si só é um grande obstáculo. Os desafios que enfrentamos são culturais, estruturais e também institucionais. Sofremos com a falta de representação em cargos de liderança, a dificuldade de acesso a recursos financeiros para campanhas e o preconceito que persiste em muitos níveis da sociedade.
Não podemos dizer que as mulheres não governam bem, pelo contrário. São Paulo teve duas prefeitas, cada qual à sua época, que implementaram políticas importantes e significativas para a cidade: Luiza Erundina e Marta Suplicy.
Erundina, durante sua gestão (1989 a 1992), implementou o Orçamento Participativo, envolvendo a população na alocação de recursos municipais. Ela também foi responsável pela criação do programa Mutirão, que construiu moradias populares em parceria com a comunidade. O Bilhete Único? Também criação de Erundina.
Já na gestão de Marta Suplicy (2001-2004), houve a participação popular em decisões municipais, incentivando audiências públicas, o que ajudou a promover uma gestão mais participativa. Ela também implementou um programa para conceder auxílio financeiro a famílias de baixa renda para incentivar a frequência escolar de crianças.
Ou seja, elas mostraram que as mulheres têm competências em diversos setores da política para além de primeira-dama.
Você já ouviu falar da Lei 14.192/21?
Também é importante falar sobre a categoria de violência política, essa que teve um aumento de 110% no período eleitoral de 2022, de acordo com pesquisa feita pela Unirio. Isso acontece mesmo quando a Lei 14.192/21, cujo objetivo é justamente impedir a violência política contra mulheres, está em vigor.
A baixa eficácia de fiscalização da lei nos prova que ela não está sendo tão efetiva quanto nós, mulheres, gostaríamos. E ao contrário do que as pessoas podem pensar, essa legislação não é aplicável apenas a candidatas, mas a todas que tenham envolvimento político.
A efetividade de uma lei depende de um esforço conjunto das instituições governamentais, partidos políticos e sociedade civil. Devemos fazer com que haja conscientização e ampliação dessa lei para proteger as mulheres e coibir agressores, porque a violência política de gênero deve continuar sendo uma prioridade nas discussões sobre democracia e direitos humanos no Brasil.
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*Gabriela Sabino é autora da obra "Política, substantivo feminino" e ex-chefe de gabinete no Ministério de Portos e Aeroportos.
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