Se líderes mulheres têm melhores resultados, por que há poucas no comando?
Não fui uma criança empreendedora, pelo menos não na definição dos filmes norte-americanos. Não montei barracas que vendiam limonada, tampouco fui campeã da feira de ciências antes dos 15 anos.
Tive o privilégio de ter uma infância livre. Onde minha mãe me estimulava a jogar futebol, ser a melhor aluna de matemática da sala (minha matéria favorita) e que até os 45 do segundo tempo, tentou me convencer a fazer engenharia ao invés de economia.
Sempre fui movida por trabalhar perto de pessoas boas. Não à toa segui por uma carreira de private equity, onde analisei investimentos em algumas das principais empresas e empreendedores do país. E foi ali que percebi que eu era um peixe fora d' água. Eu não queria só analisar, queria construir. Uma certa inquietação tomou conta de mim, e resolvi mudar de lado da mesa.
Faz cinco anos que sou uma mulher empreendedora e, desde então, aprendi a lidar com o novo, larguei a zona de conforto e sou uma pessoa infinitamente mais humilde.
Empreender é fazer as coisas pela primeira vez repetidamente. É ter que enfrentar a solidão e a pressão por suas decisões. É se cobrar, porque agora elas impactam não mais apenas você. O lugar do empreendedor é antes de mais nada, um lugar de solidão.
Com o tempo você vai se acostumando. Também aprende que cercar-se de uma rede de apoio, ter um time executivo que compartilhe a sua visão e se exercitar de maneira disciplinada ajudam a manter a saúde mental em dia (o que é primordial). Faço parte de vários grupos de mulheres empreendedoras com quem troco experiências, desabafos e comemoro alegrias.
Como se não bastasse a lista longa dos desafios, temos ainda que lidar com opiniões machistas e misóginas em uma sociedade que ainda sofre com uma herança patriarcal. E ainda por cima de pessoas que se dizem modernas e inovadoras.
Empresas comandadas por mulheres têm performance superior às empresas comandadas por homens. Costumam ter menores taxas de rotatividade de funcionários e maior engajamento das equipes. Têm lucros até 20% superiores aos de empresas com lideranças exclusivamente masculinas. A liderança feminina tende a incentivar ambientes colaborativos, promovendo a inclusão e, consequentemente, a inovação. Países comandados por mulheres tiveram uma gestão melhor durante a COVID.
Mas se as evidências indicam tantos benefícios, por que ainda vemos tão poucas mulheres no comando?
Como uma boa otimista, eu prefiro acreditar que a resposta pode estar na falta de convivência. Menos de 5% dos CEOs do Brasil são mulheres, e desse jeito é difícil experimentar na prática o impacto de termos mulheres no comando. Sentir a diferença de decisões que são tomadas de maneira firme, mas também cuidadosas. Viver um ambiente onde as pessoas estão menos preocupadas em ser perfeitas, mas sim em criar conexões mais autênticas e vulneráveis.
Para conseguirmos ter mais mulheres no topo das organizações, precisamos nos rodear delas. E não basta termos uma mulher no conselho ou uma mulher no time executivo. É preciso termos um esforço intencional como sociedade. Precisamos conviver com mulheres em todos os níveis da organização, precisamos chamá-las para os happy hours corporativos.
É preciso colocar a mão na consciência e pensar, será que virei a pessoa que diria: "Não tenho nada contra empreendedoras mulheres, tenho até amigas que são", mas que ao mesmo tempo se rodeia dos mesmos amigos, faz as mesmas piadas machistas e continua montando um time executivo que poderia ter sido tirado de uma foto da década de 50 mas que agora veste tênis e colete?
Garanto que, a partir do momento em que convivermos com mais mulheres no comando, entenderemos o quanto essa mudança é transformadora. Veremos que a complementaridade das lideranças masculina e feminina não só enriquece a tomada de decisões, mas também contribui positivamente para o resultado.
Neste dia 19 de novembro, dia do Empreendedorismo Feminino, celebro mulheres incríveis que tenho o privilégio de ser inspirada. E também desejo que todos os colegas empreendedores e executivos que aqui me lêem, possam trabalhar para desenvolver a sua energia feminina dentro de si. O futuro das empresas e da nossa sociedade clama por mais equilíbrio e por diferentes perspectivas. Prometo que o resultado será revolucionário.
*Manoela Mitchell é economista, CEO e cofundadora da Pipo Saúde, reconhecida como uma das mais influentes da América Latina pela Bloomberg, Innovators Under 35 (2024) pela MIT, Empreendedora Endeavor, membra do YPO e Linkedin Top Voice Empreendedora.
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