Opinião

Como fica a sexualidade na gravidez e pós-parto?

Já no primeiro trimestre da gravidez você pode ter um susto e se perguntar: Para onde foi o meu desejo? Calma, vamos entender como ele se escondeu.

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É muito comum que o desejo, no início da gestação, esteja diminuído, até desaparecido entre tantas outras questões emocionais que se fazem presentes e exigem uma energia maior para lidar. Inclusive, a própria ambivalência de querer muito e não querer muito essa gestação, o que é natural e faz parte desse primeiro trimestre.

Além disso, a gente tem uma característica emocional que aparece nesse momento também de um ensimesmamento, um retorno a si mesma, aos seus valores, aos seus desejos, à sua história, o que promove um certo afastamento com a parceria.

Um outro sintoma que é muito presente neste trimestre inicial é o aumento do sono, que impacta também na disposição para o sexo. A disponibilidade para uma atividade sexual exige energia e disposição física, ainda mais se você tem um dia com muitas outras atividades de trabalho, de academia, de exercícios, etc., sobra menos energia para esse encontro.

Tudo isso posto, é importante que haja a possibilidade de vocês conversarem sobre o assunto e estarem até preparados para esse momento, sem achar que trata-se de algo definitivo ou definidor de outras coisas. A comunicação é fundamental para garantir que vocês estejam na mesma página, que vocês possam estar acompanhando o movimento um do outro.

No segundo trimestre parece que as coisas voltaram ao normal

No segundo trimestre, mais visível, a presença do bebê é concreta, você percebe os movimentos. Você diminuiu o sono e a gente chama essa fase de lua de mel da gravidez. Uma lua de mel com a ideia da gestação, com as mudanças corporais, um retorno à disponibilidade maior, para uma vida fora de si mesma, voltada ao outro.

Sendo assim, é comum que se retomem as atividades sexuais, o desejo reapareça e este encontro volte a ser no ritmo mais parecido com o que tinha antes da existência da gestação. É claro que algumas coisas vão ser necessárias, como adaptação de posição e, inclusive, adaptação no tipo de estimulação que lhe causa mais prazer que, provavelmente, é diferente em partes do seu corpo que estão mais sensíveis.

A realidade é que há muitas mulheres que relatam não terem desejo, ou terem um desejo consideravelmente reduzido durante toda a gestação. Há outras que isso não tem nenhum impacto na produção do desejo, nem na atividade sexual. Isso varia de mulher para mulher e é preciso se respeitar dentro das suas condições específicas e do seu contexto. O mesmo se pode falar do desejo do homem.

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Terceiro Trimestre: como conciliar atividade sexual com esse corpo grávido?

Há uma proximidade maior com o parto. E aí, o volume do abdômen produz mais incômodos para encontrar uma posição também satisfatória no ato sexual. Fora isso, vale destacar outras questões, como dores na lombar, dificuldades de abaixar ou de fazer alguns movimentos, mais dificuldades com o sono, que pode impactar na disponibilidade para a atividade sexual e até a possibilidade de retornar aquele sintoma de sonolência do primeiro trimestre.

Vale, mais uma vez, dialogar com o parceiro sobre os desafios do momento, como a preparação para o parto, e lembrá-lo que esse é um desafio de ambos. O bebê está sendo gestado no corpo da mulher, mas é um bebê que é dos dois. Dessa parceria. E que precisa, portanto, de um envolvimento maior em cada fase e de uma compreensão maior do que está se processando em cada momento.

Lembrando que o prazer não depende só de penetração. Existem outras formas de se dar prazer. Na verdade, uma boa relação sexual, ela começa desde a manhã, com um bom dia, com mensagens durante o dia, de carinho e afeto para culminar a noite no encontro. Quando é a noite, quando não é, quando acorda, ou em qualquer outro momento do dia. Mas uma estimulação que vá culminar no encontro, que vai resultar em uma atividade sexual.

E no pós-parto o desejo volta?

O parto em si, se for normal, a própria passagem do bebê pelo canal vaginal vai deixar o aparelho genital inchado e, provavelmente, com uma recomendação de repouso. Se for uma cesárea, também há uma recomendação de repouso, especialmente, porque é uma cirurgia de médio porte, com muitas camadas que foram cortadas, que precisarão ser cicatrizadas a partir da sutura.

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Lembrando também que no pós-parto você passa a ter uma produção muito grande de prolactina, um hormônio a favor da lactação. E esse hormônio tende a diminuir o desejo sexual. Isso a natureza faz de forma até para proteger que esse bebê receba toda a atenção dessa mulher. Então, naturalmente e bioquimicamente, nós somos levadas a estarmos mais atentas ao bebê recém-nascido do que a qualquer outra coisa na nossa vida, incluindo a questão da sexualidade.

Quanto mais envolvido o pai, ou a outra mãe, estiver nos cuidados com esse bebê, mais também ele ou ela terá reduzido o seu desejo sexual, pois sua atenção também estará voltada a esse novo cuidado.

A primeira relação sexual pós-parto demanda também uma certa atenção e cuidado. Se foi um parto normal, que houve pontos, ou se houve episiotomia, há sempre o receio de como vai ser essa penetração, se vai produzir dor, se vai ser satisfatória, se vai ser prazerosa ou não. Se foi uma cesariana, tem sempre o receio: Será que está tudo bem cicatrizado aí dentro? Será que o movimento é mais brusco? O peso de um corpo sobre o meu poderá produzir algum rompimento de um ponto?

Há sempre uma certa tensão na retomada da atividade sexual, entretanto, a gente percebe que essa tensão está mais relacionada à ausência do desejo do que ao medo da atividade em si. Ora, no pós-parto você está vivendo muitos desafios. Tem um corpo transitório, que ainda está inchado, que ainda está disforme, uma barriga que está bem maior do que você esperava, e que precisa retornar.

Tudo isso traz insegurança, muitas vezes, impactando na qualidade da sua avaliação da imagem corporal, e na sua construção de uma paz consigo mesma, com sua imagem naquele momento.

É natural que o desejo volte mais lentamente, é preciso ter uma certa paciência e generosidade consigo mesma, e envolvendo cada vez mais o parceiro ou parceira nesse cuidado com o bebê. É preciso ter tempo, cuidado, pois as coisas podem ficar, inclusive, melhores do que eram antes, mas agora tem uma outra configuração nessa casa.

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Com o bebê, o casal precisa ter mais criatividade, mais disponibilidade, e isso vai precisar de tempo. Dar tempo para que as coisas ocorram lentamente permite também o amadurecimento do casal lidar com todos esses desafios que o período perinatal vai impor no exercício da sexualidade. Pode ser um momento de perigo e de oportunidade. De perigo, se vocês não estabelecem uma comunicação e deixar muito ao acaso da paciência de cada um, ou uma grande oportunidade na construção de uma relação muito mais sólida, muito mais de parceria, de cumplicidade e com bom humor.

Uma dica: um ingrediente que não deve faltar em todas essas fases é o bom humor. Rir de si mesmo, rir da situação. Encontrar alternativas que mantenham a leveza nessa comunicação pode ser uma grande estratégia na manutenção da qualidade do exercício da sexualidade desse casal. Lembrando que sexualidade e afetividade são duas coisas diferentes e que devem ser vividas ora separadas, ora juntas, mas não necessariamente sempre estando ao mesmo tempo aqui e agora.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL