Opinião

Se é caro ter delegacias, invistam em tecnologia contra violência de gênero

Que a tecnologia acompanha as nossas vidas nos momentos mais triviais, não se tem dúvida. E se conseguimos integrar sistemas, gestão de dados e sigilo, por que não estar a serviço de combater uma chaga da nossa sociedade: a violência de gênero.

Quando tivemos, durante a pandemia, a oportunidade de acelerar a digitalização de serviços públicos e a bancarização, por que não refletir sobre o que se impulsionou nos mecanismos de enfrentamento da violência doméstica e preservação da nossa integridade?

Registrar boletim de ocorrência online não é nenhuma novidade quando se fala em furto, acidente de trânsito e outros tipos de crime de menor potencial ofensivo. No entanto, quando falamos de violência doméstica, aqui jaz uma urgência que precisa ser encarada pelo risco eminente de morte.

É preciso, sim, que tenhamos ao alcance das nossas mãos, dispositivos em que se possa registrar o crime e se solicitar a medida preventiva de afastamento, ainda mais em um momento em que a Lei Maria da Penha garante que a vítima a receba de forma sumária, imediata para evitar mais um feminicídio.

No Rio de Janeiro, durante a pandemia, tivemos uma explosão de notificação de casos de violência doméstica impulsionada pela possibilidade de se registrar a ocorrência online. Frequentemente, me deparo, em fóruns especializados, com esse dado isolado sendo atribuído apenas ao aumento simples dos casos e não, ao acesso à delegacia, diminuindo assim a subnotificação. Ou seja, perde-se aqui a oportunidade de celebrar o uso da tecnologia para salvar a vida das mulheres e a transparência que somente os dados nos dão.

Se ainda imaginarmos a possibilidade de evitarmos a revitimização que muitas mulheres enfrentam quando se deparam com agentes da polícia despreparados para lidar com o tema nas delegacias, usando assim uma tecnologia user friendly, uma jornada que respeite a dignidade da vítima (e por que não incluindo acessibilidade plena e o baixo consumo de dados?) para que o acesso à boa ou a má experiência em uma delegacia não seja uma barreira para evitar que mais vidas de mulheres sejam ceifadas.

Se custa tempo e dinheiro para ter mais delegacias equipadas, mais Casas da Mulher Brasileira, não deveríamos lançar um olhar para o papel da tecnologia como aliada na corrida para ter uma rede de acolhimento e encaminhamento eficiente?

A Livre de Assédio é uma grande especialista da incorporação da tecnologia e dos dados para políticas públicas que combatam a violência e acolham as vítimas de forma eficiente, sabendo que responsividade é essencial nessa jornada e para que mulheres não desistam de buscar apoio e denunciar. Por isso, nossa metodologia envolve mapear, integrar e desenvolver tecnologias úteis que estão a serviço desse objetivo. Não mais um app, um botão de pânico, mas um artifício que faça a diferença nas mecânicas de combate e prevenção. E com muito orgulho, celebramos estarmos sendo acelerados pelo BNDES em 2024 para que nossas ferramentas sejam cada vez mais acessíveis em todos os espaços e territórios.

*Ana Addobbati, fundadora e CEO da empresa Livre de Assédio

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