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Ana Canosa

"Minha parceira se masturba ao meu lado, mas não junto comigo"

Getty Images
Imagem: Getty Images

Ana Cristina Canosa Gonçalves

Colunista do UOL

09/07/2020 04h00

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Uma ouvinte do Sexoterapia me escreveu pedindo ajuda sobre o incômodo que tem quando a sua parceira se masturba ao seu lado, mas não com ela. O problema, se evidenciou quando foram morar juntas, agora na pandemia. Vez por outra acorda no meio da noite e a parceira está lá, se acariciando. Ela já sabia que ela curtia se masturbar, mas descobriu que pratica com frequência, até 3 vezes por dia, inclusive como hábito para se desestressar.

Mas saber é uma coisa, presenciar é muito diferente, convenhamos. Que atire a primeira pedra quem flagrou a parceira (o) se masturbando pela primeira vez, e não se sentiu, no mínimo, estranho. É o tipo da coisa que a gente imagina que acontece, mas prefere não saber.

A masturbação é um ato de profunda intimidade, inclusive nem sempre tão sexy quanto retratado em filme pornô.

Você já se filmou se masturbando, quando justamente não está fazendo isso no jogo erótico com o outro? Aviso que pode se frustrar. E é justamente essa possibilidade de vivenciarmos o nosso autoerotismo, sem testemunhas, livres de outros corpos, outros olhares e possíveis distrações e julgamentos, que dá à masturbação essa categoria de quase unanimidade na vida das pessoas, ao longo de toda a vida. É um momento seu, um lugar que ninguém ocupa. E por isso mesmo, pode ser sentido como uma ameaça ao relacionamento.

Não acredite que só se masturbam pessoas insatisfeitas sexualmente nos seus relacionamentos. Nossa ouvinte, por exemplo, não sente que a relação com a parceira é insatisfatória: elas fazem sexo, gozam e gostam de estar juntas.
Talvez, nos arroubos da paixão, a masturbação que não seja inspirada pelo tesão produzido pela parceria chegue até a desaparecer.

Desaparecer por um período. É comum a masturbação voltar com ares de tensão sexual acumulada, e fantasia sexual modificada. Outros corpos, outras práticas sexuais. E é isso que dói para um coração apaixonado: não ser a única fonte de desejo sexual do outro. O ciúme nada mais é do que sentir a ameaça da relação, por um terceiro: por quem ela suspira?

Lembremos que somos seres sexuais, com desejos e fantasias e que a vivência anterior não desaparece porque você se apaixonou por alguém. Você pode transar bem com sua parceria, amar a pessoa que está a seu lado e ainda por cima desejar outras pessoas. Tudo junto e misturado.

Essa é a maior característica do desejo sexual: seu caráter imoral, antiético e livre. Ele não se contenta facilmente com as nossas convenções sociais.

Mas é verdade também que algumas pessoas podem ter menor apelo da libido e uma mente menos criativa. Ou ainda é a pessoa amada quem está protagonizando todas as suas cenas sexuais, o que atrapalha na hora de compreender a luxúria alheia. Por que, ó céus, eu não basto para o outro?

Ao confessar o seu ciúme pelos devaneios eróticos da sua parceira, nossa ouvinte revela a sensação ruim de não se achar suficiente, a frustração de não ser a única desejada e o medo de ser traída qualquer hora dessas. Em que pese o fato de ela já ter sofrido muito por amor nas relações anteriores e que o fantasma "da outra" ronde a sua imaginação a destituir-lhe do trono de preferida, eu arriscaria dizer que seus sentimentos são bem comuns.

Afinal de contas, enquanto a maioria dos mortais se masturba quietinho no chuveiro longe do olhar dos parceiros, testemunhar os múltiplos desejos diante da parceira com quem se divide a mesma cama não é assim tão habitual.
Mas a isso se dá o nome de intimidade, algo nem tão fácil assim de conseguir. Valorize.