"Meu marido prefere os amigos e dá mais atenção a eles do que a mim"
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"Sou casada há 4 anos e estou muito insatisfeita. Meu marido parece gostar mais dos amigos do que de mim. Quando está com eles, ri e parece feliz, ao passo que ao meu lado ele está sempre de cara fechada ou grudado no celular. Ele não me dá atenção."
Esse é um desafio comum para os casais: mediar interesses individuais e vida a dois. Quando o casamento era parte essencial do projeto da vida adulta, a meta era cumprir as obrigações e manter o ciclo "natural" - nascer, crescer, casar, ter filhos, netos e morrer. Hoje, a meta é ser feliz e a relação amorosa é só uma dimensão da vida: nem a maior, nem a exclusiva.
Isso significa que, a convivência precisa ser negociada a todo momento, já que não existem regras universais: cada um vive o relacionamento à sua maneira. Há quem more junto, quem more separado, quem viva na monogamia, quem seja poliamor.
Mas é verdade que, de alguma maneira, teremos que fazer concessões e, nem todo mundo está preparado ou disponível.
No início das relações, devido à novidade e ao apaixonamento, tendemos todos a dar muito valor à parceria, seus gostos, assuntos, amigos. Algumas pessoas fusionam tanto, que perdem a identidade, assumindo para si a vida do outro. Pode ser que a bússola do seu casamento tenha apontado para os interesses dele e agora você está solicitando mudança de rumos, para que as suas necessidades sejam privilegiadas.
Às vezes, o problema se deu quando a paixão diminuiu e um se "descolou" do outro primeiro. Quanto mais simbióticos estavam vivendo, mais aquele que permaneceu muito ligado ao parceiro sente o "resgate" dos amigos como uma ameaça, rejeição e pode provocar muito ciúme.
Com os amigos partilhamos momentos de prazer e intimidade, sem ter que ficar cuidando da satisfação e humor da parceria. Com quem temos uma história, anterior ao relacionamento, piadas internas, riso fácil. Há quem sinta que, com os amigos e sem o cônjuge, é possível ser mais espontâneo.
Quando o casal não trabalha essa fase bem, a tendência é o que está sendo acusado de querer levar uma "vida de solteiro" se sentir injustiçado e perseguido. Diante do dilema, ou abandona a vida pessoal e se aprisiona na relação com o cônjuge, ou luta pela sua liberdade, olhando o parceiro como um algoz.
Decorre daí uma série de brigas, acusações e o amor passa a ser questionado a todo tempo. Vale lembrar que se a relação está ruim, os amigos podem ser o refúgio certo; então fica mais fácil ser feliz ao lado deles, do que em casa, com clima pesado e hostil. Os afetos desenvolvidos pelos amigos nutrem muito e podem de fato serem suficientes para uma vida feliz.
Além desses pontos, há ainda outra questão: há quem espere demais da parceria amorosa.
Você tem a própria individualidade ou pessoas com as quais você vai alimentar parte de suas necessidades? Talvez não seja com um cônjuge que vamos partilhar temas da nossa vida.
A frustração pode estar na expectativa que seu marido seja um bom amigo, um bom amante e um bom companheiro. Verdade, todos queremos uma parceria completa e que, de preferência, tenha uma família acolhedora, bem-humorada e que saiba se aproximar na medida certa. Mas na realidade, tudo pode parecer bem mais desafiador e faltante.
É possível viver com alguém com estilo de vida, amigos, gostos muito diferentes, mas é certeza que esse convívio vai dar trabalho. Talvez vocês sejam ótimos amantes, mas não tão bons parceiros na convivência. Se para você fazer coisas juntos é muito importante, quem sabe não precisam ocupar o tempo descobrindo prazeres e interesses em comum?
Quero ressaltar ainda que atualmente existe uma diferença entre orientação sexual e orientação afetiva. É capaz que um homem tenha atração sexual por mulheres e orientação afetiva por homens, ou seja, gostar mesmo de conviver com os iguais, mas de transar com o sexo oposto. E isso acontece também com as mulheres, sejam cis ou trans. Talvez seja importante se perguntarem se é isso que acontece com ele.
Por fim, se você disse não a todas as observações acima (ou quase nunca se aplica), pode ser que de fato seu marido tenha descoberto que a vida conjugal não é para ele. Talvez ele tenha uma visão meio rasa do que é ser comprometido, ou que ele pense assim: "Já me casei, e essa é a maior prova de amor que um homem pode dar a uma mulher".
Mas não basta casar-se para fazer uma pessoa feliz, é preciso dedicação. Segundo o terapeuta americano Stanley Keleman, o amor envolve 4 atitudes: cuidar, se importar, compartilhar e cooperar. Talvez ele ainda não tenha apreendido isso.
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