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Ana Canosa

Como entender um crush que desaparece sem nenhuma explicação?

AntonioGuillem/Getty Images/iStockphoto
Imagem: AntonioGuillem/Getty Images/iStockphoto

Ana Cristina Canosa Gonçalves

Colunista do UOL

27/08/2020 04h00

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Pergunta da leitora: Estava saindo com um homem antes da quarentena. Continuamos trocando mensagens de maneira bastante intensa. Tudo me parecia indo bem, mas de uma hora para outra ele sumiu. Por que os homens têm dificuldade de terminar?

Não sei se são só os homens. Se décadas atrás "terminar" uma relação era uma questão que envolvia honrar a palavra e o compromisso, hoje a comunicação mediada pela tecnologia facilita quem não está a fim de se expor ou de se explicar. Parar de falar, excluir, bloquear.

Além disso, se a ética das relações mais fluídas ainda está sendo construída e não há consenso, precisamos eleger as próprias ideias e condutas sobre o que cabe ou não na responsabilidade afetiva pelo outro.

Convenhamos que terminar relações é uma situação que pode ser bem conflitiva, e o que não falta são pessoas com dificuldade de enfrentar conflitos. Há quem ame jogar tudo para baixo do tapete e quem ache que os problemas se resolvem naturalmente, sem necessidade de intervenção. Há quem fuja correndo de qualquer cena que possa provocar incômodo emocional, divergência, raiva, decepção. Com frequência sentem culpa e impotência pela desolação emocional da outra pessoa. Há inclusive quem seja convencido facilmente pelas lágrimas alheias e mude de ideia, gente que não consegue dizer não.

A vulnerabilidade é muitas vezes entendida como fraqueza, o que impede que as pessoas consigam lidar com ela, usando-a a seu favor. Normalmente, diante da vulnerabilidade, nos fechamos, agredimos, lutamos ou acolhemos. Tudo no superlativo.

Outro aspecto importante na conversa sobre o término de um amor é o medo de ser julgado.

Temos por mau hábito achar que os verdadeiros amores não acabam, e que ambivalências afetivas são o perfil dos imaturos ou dos maus caráteres. Uma inverdade sem tamanho. O campo amoroso não é uma realidade matemática e estamos todos sujeitos ao inesperado.

Podemos nos surpreender com a rapidez com que uma paixonite do outro por nós acabou, principalmente se somos nós os que só se entregam com conexão. Nesse sentido, julgar a parceria como leviana pode ser advogar em causa própria.

Sim, é fato que temos uma responsabilidade afetiva com as pessoas, mas penso que perfis críticos e julgadores, daqueles que comentam sobre o comportamento da parceria ou das pessoas de modo geral, no estilo certo ou errado, bom ou mau, podem inibir os parceiros de falarem o que pensam, a fim de serem jogados na fogueira da inquisição pelo que sentem.

Desaparecer é uma maneira de evitar críticas e sanções.

Normalmente, os que tem medo de julgamento fazem uma menção honrosa: "você é maravilhosa, sou eu que não te mereço", o que na minha opinião, não serve para muita coisa.

Quatro ensinamentos sobre o fim

Ainda na esteia dos sentimentos, tenho quatro observações a fazer. A primeira é que o amor acaba, aliás muitas vezes ele nem começa. Em relacionamentos mais duradouros, essa realidade pode ser bem mais dura, pois há um caminho percorrido a dois, investimento emocional.

Outra questão é que temos o péssimo hábito de achar o que as pessoas devem ou não sentir diante de nós: "Não fique triste"; "Você é sim feliz"; "Pare de se sentir assim". Leia de novo e avalie: onde há coerência em achar o que as pessoas têm que sentir? Isso se aplica também a achar que elas devem gostar de nós do mesmo modo que gostamos delas. Isso pode ser sim um desejo, mas é irracional acreditar que pode ser imposto.

Terceiro: em se tratando de sentimentos, lidamos muitíssimo mal com a raiva. Começa com a dificuldade em admiti-la. Depois com a maneira de expressá-la. Ou as pessoas fingem uma demência abissal, dizendo que está tudo bem, ou se descontrolam vociferando todo tipo de absurdo (algumas chegam a matar). Difícil terminar uma relação com alguém que já demonstrou pouca habilidade com esse sentimento.

Minha última observação diz respeito a um conceito chamado Alexitimia, a dificuldade em reconhecer e expressar sentimentos. Devido a construção da masculinidade apoiada no "homem não chora", muitos homens não conseguem entender bem o que sentem, principalmente os sentimentos que são socialmente reconhecidos como tipicamente femininos.

Essa vulnerabilidade diante de uma conversa emocional difícil pode ser, para eles, uma tortura.

Algumas pessoas também somem sem dizer uma palavra, para deixar a porta aberta e mandar um "oi sumida" lá mais adiante, a fim de manter a pessoa na "lista" de possíveis encontros sexuais futuros. E, como eu já disse, devemos ser abertas ao inesperado. Se vale a pena, pode ser que na segunda rodada, a coisa engrene.