Ela não fazia mais sexo oral nele, apesar de adorar a prática
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Fernanda e Eduardo estão casados há 6 anos. São um casal que tem valores e interesses semelhantes, mas maneiras de se comunicarem completamente distintas. O que Fernanda tem de tímida, Eduardo tem de extroversão. Se Fernanda pensa dez vezes antes de falar alguma coisa, Eduardo faz uma novela a partir de um simples comentário de vizinho.
Ele ama discutir a relação, não tem um pingo de preguiça e muitas vezes o silêncio dela o coloca ansioso. Para quem decodifica o mundo através das palavras e elabora seu mapa mental sobre o outro e a relação a partir disso, muitas fantasias são produzidas pela falta da comunicação clara. Será que ela ainda o ama? Está satisfeita? Esconde algum amor secreto?
De fato, Fernanda prefere o silêncio ao embate. É do tipo que detesta conflitos e prefere ceder a deixar o outro incomodado com suas próprias queixas. Faz como a mãe, que ao conviver com um marido irascível, vivia pisando em ovos para evitar ataques de fúria descabidos, por qualquer bobagem.
Esse aprendizado a prejudicou duplamente: ela nem treinou uma comunicação assertiva diante do conflito, nem aprendeu a lutar pelos próprios desejos, pois ao presenciar o sofrimento materno, tinha muita "pena" dela, poupando-a de qualquer desagrado. Com Eduardo, ela reproduz não o medo de provocar a fúria do pai, já que ele não tem esse perfil, mas de entristecer a mãe.
Chegaram até mim para resolver "uns conflitos", a pedido dele. Nada muito intenso. Aliás no começo eu nem entendia muito bem por que raios eles estavam ali diante de mim.
Eduardo tomava a frente no início das sessões contando sobre o casal. Ele falava dele e era porta-voz dela. Quando eu perguntava para Fernanda sobre um sentimento dela, ela se encolhia no sofá, falava três palavras e olhava para ele. Ele então dava um sorriso meigo e "traduzia" o que ela falou, completando, explicando, supondo, teorizando. E ela só ia assentindo com a cabeça. Para mim, ficou claro que embora Eduardo estivesse ali para que eu a ajudasse a falar, ele acabava falando por ela. Mas sobre o quê?
Logo lancei mão de uma sessão individual para cada um. Eduardo, claro, se candidatou a ser o primeiro. Estava tenso, bem diferente das sessões de casal. Depois dos primeiros minutos de "aquecimento", quando falamos sobre o tempo ou o trânsito, lancei minha dúvida sobre o porquê de procurarem a terapia de casal. Meio envergonhado e abatido me confessou que a questão era mesmo sexual.
Eles faziam sexo com frequência e sempre tiveram boa química entre os dois. Mas achava que Fernanda estava se desconectando e que já não gostava do pênis dele. Eduardo contou então que há 2 anos Fernanda parou de fazer sexo oral nele, uma prática que ele simplesmente ama e que eles adotavam sempre, durante as relações sexuais.
No começo ele estranhou quando o sexo oral passou a ser feito com muita rapidez; ela não se detinha mais a desfrutar daquele pênis, nem a regozijar-se com os gemidos dele. Depois ela passou a evitar, mesmo que ele corporalmente induzisse o pedido. Ela dava seus pulos: usava as mãos para masturbá-lo, ou puxava ele para si, pedindo a penetração. Mas boca que é bom, nada.
Incomodado, ele criou mil fantasias sobre o desagrado dela com o tamanho do seu pênis ou com o gosto, com o jeito ou com o cheiro. Passou a intensificar a higiene, aparar os pelos púbicos, pesquisar sobre como alterar o gosto do sêmen. Será que ela tem outro homem? Não tinha coragem de tocar no assunto, pois tinha medo da resposta, mas a angústia o estava corroendo.
Quando coloquei para Fernanda a queixa dele, na sessão individual dela, qual não foi a minha surpresa, quando ela me contou, timidamente, que adora fazer sexo oral, se sente poderosa, excitada e feliz ao ver o parceiro se contorcer de prazer.
Que nada havia de errado com o pênis de Eduardo, não fosse o fato de ele, nos últimos anos, passar condicionador de cabelos nos pelos pubianos, com um cheiro doce de baunilha, que a enjoava. Era só ela chegar as narinas perto dos pelos, que o corpo dela se arqueava todo, e uma náusea lhe invadia a garganta.
Ela me disse que uma vez, no supermercado, tentou dissuadi-lo da ideia de comprar o mesmo condicionador de sempre, mas ela nunca foi muito boa em convencer ninguém e que não tinha coragem de dizer isso para Eduardo, já que ela sabia que ele passava o condicionador para os pelos ficarem mais macios, a fim de agradá-la. Ela o amava e não queria que ele ficasse magoado. Imaginem a alegria daquele homem quando descobriu que o problema não estava no pênis, mas na marca do condicionador de cabelos.
Aproveitamos para refletir sobre comunicação direta, franca e assertiva e sobre como cada um lidava diante dos conflitos, o que rendeu alguns meses de encontros muito interessantes. Fernanda passou a ser estimulada a falar mais, sem buscar legitimidade no olhar de Eduardo, que por sua vez treinou recolher-se e questioná-la com carinho e sensibilidade.
E, claro, abolimos o condicionador.
Quer que Ana Canosa analise sua dúvida em sua coluna? Mande perguntas para universa@uol.com.br com o assunto #sexoterapia. Mantemos o anonimato.
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