Minha mulher não quer mais sexo comigo e diz que o problema é com ela. É?
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Pergunta do leitor: Eu tenho 52 anos e minha esposa, 48. Nos últimos meses, não consigo manter uma vida sexual normal. Toda vez que eu a procuro para fazermos "um amorzinho" ela diz que está com dores no corpo e indisposição física e mental. Ela diz que o problema é ela, mas não especifica. O que está acontecendo, Ana?
"O problema sou eu, não você" é uma frase que me provoca dois sentimentos. O primeiro é de alívio. Ótimo, o motivo não sou eu especificamente, não estou cometendo equívocos, não fiz nenhuma besteira, não é meu corpo, não é a minha pessoa. Legal. Só que isso não resolve o problema. O segundo sentimento é de indignação: se não é você, então, o que é?
Como não conheço o leitor, farei uma panorâmica sobre o assunto. Para começar, não busque uma única motivação: por vezes somos assolados por questões que se somam e tentar encontrar uma justificativa exclusiva nos provoca cegueira.
A resposta dela pode corresponder à mais pura realidade. Dores no corpo e indisposição física e mental já são um conjunto capaz de afastar do sexo qualquer ser humano transante. Você não ficaria um tanto inapetente se estivesse desesperançoso com a vida, mau humorado, ansioso, com medo, triste, à beira da exaustão? Será que a sua companheira está assim? Ela tem motivos para estar vivendo um momento existencial extenuante?
Quando você me diz que ela está com 48 anos, me faz pensar em menopausa. Cerca de metade das mulheres no mundo vai apresentar sintomas que vão dos famosos "fogachos" (calores abruptos), até dores de cabeça, humor depressivo, irritabilidade, insônia, além de alteração na libido, problemas de lubrificação e maior lentidão na resposta sexual.
É uma fase sensível, inclusive do ponto de vista emocional, quando as mulheres tem que lidar com essa percepção de mudança corporal e com esse lugar social da mulher na menopausa: a invisibilidade, como se deixassem de existir sexualmente.
Sério, os sintomas físicos nos empurram para isso. Cabe à mulher lutar contra, por gostar muito de sexo e valorizar o prazer. Você pode pensar "poxa, mas eu a desejo, continuo querendo fazer sexo com ela". Infelizmente, isso não basta. Há mulheres que simplesmente desligam a chave da interação sexual, até como uma defesa para quem precisa organizar a casa interna antes de convidar alguém para visitá-la.
Vamos imaginar que o sexo de vocês não a contempla, porque ela não goza, ou ela tem dor durante a penetração porque não se excita tanto com o jogo erótico de vocês. Que motivo ela teria para se motivar? Nem sempre as pessoas se sentem livres para falar o que gostam, sentem culpa, tem dó do parceiro se disserem que estão fingindo orgasmo há anos.
Antes de avaliar se é a falta de comunicação no sexo, será que vocês desenvolveram intimidade emocional suficiente para aceitarem a vulnerabilidade do outro, compreender empaticamente suas dores, medos e anseios? Como reagem ao outro quando ele não está bem e não atende às expectativas?
Não sei se é o seu caso, mas muitas pessoas ficam tão frustradas com negativas sexuais, que reagem com uma raiva absoluta, ficam de cara feia, param de falar, se tornam ríspidos e agressivos. Pior são os que começam a acusar a pessoa de infidelidade.
Quem simplesmente está menos desejante na vida sente que o sexo virou uma pressão e passa a criar sentimentos de raiva pela falta de capacidade compreensiva da parceria. Às vezes desenvolvem verdadeira repulsa sexual pelo parceiro.
Então, eu sugiro que você, ao invés de perguntar por que ela não tem vontade de fazer sexo, questione como vai a vida dela. Se ela está feliz no trabalho, se tem projetos novos, como vão seus pais. Como ela está percebendo os filhos de vocês, caso os tenham. Inteire-se sobre os assuntos de que ela gosta, sugira atividades que sejam do interesse dela.
Abrace-a durante a noite e diga que a ama, que está do seu lado. Faça massagem no corpo dela sem intenção sexual, só para lhe aplacar as dores. Pergunte sobre o seu humor, se ela precisa de algum profissional para assisti-la.
Eu também não posso deixar de associar 8 meses com essa pandemia do inferno, as pessoas lidando com sentimentos muito difíceis. Há vários índices de aumento de transtornos depressivos e de ansiedade.
Muitas pessoas foram completamente tomadas pelo sentimento de solidão, já que perderam momentos deliciosos com colegas e amigos por causa do home office. Há quem seja motivado pelo grupo; dentro de casa, só com o cotidiano familiar, murcham. Problemas financeiros? Pais idosos que ela teme que morram?
Agora, uma coisa você não me disse: o que ela tem feito ou pensa em fazer para melhorar sua qualidade de vida? Porque se ela não está bem e você a está acompanhando com carinho e atenção, tem uma parte que ela precisa fazer.
Existem determinados momentos que são bem complexos, mas é preciso disposição para cuidar de si mesma. Se ela está se abandonando e a você também, isso deve ter algum significado. A você cabe acolher, ajudar, motivar e, sim, colocar suas necessidades. Senão vocês provavelmente poderão se perder um do outro.
Quer que Ana Canosa analise sua dúvida em sua coluna? Mande perguntas para universa@uol.com.br com o assunto #sexoterapia. Mantemos o anonimato.
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