Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Amo a ideia de ser casada - mas só isso não me faz feliz
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Eu quero dedicar esse texto a todos os casais que estão na corda bamba do relacionamento, tentando se equilibrar para chegar do outro lado. Que pensam no divórcio como uma saída possível, ao mesmo tempo que sonham com o milagre da transformação do casamento. Para quem uma separação é muito mais do que só a tristeza de atestar o fim do amor ou da relação, mas é adentrar na esfera do sagrado, e isso dói demais.
Uso esse espaço para manifestar minha solidariedade como profissional e pessoa. Já estive nesse lugar, não uma, mas duas vezes, com meu guarda-chuvinha colorido bambeando para os lados. Para cada jornada, cheguei do outro lado, com escolhas completamente opostas.
Quando se decide casar, mesmo tendo consciência da possibilidade de finitude, há uma intenção de construir, ao lado da parceria, uma vida em comum. É também desse ingrediente que se faz um casal: sem projeto comum é impossível seguir adiante!
O amor pode começar apaixonado ou fraterno e vai se transformando ao longo do percurso. Mas nem todos sabem que ele, o amor, mais do que um sentimento, é um verbo que implica ação e, portanto, exige vontade e coragem. Muitos relacionamentos se findam por falta de atitude amorosa, de disponibilidade para acolher a parceria em suas necessidades mais importantes.
Às vezes não falta nem sentimento, nem vontade, mas sintonia dos atributos da personalidade que favorecem que a engrenagem trabalhe, sem emperrar a todo instante. Como aquela máquina de lavar antiga e potente, que basta trocar o fio e ela volta a funcionar, diferente das que você gasta uma fortuna para arrumar e que nem sabe ao certo o que provocou a pane. É a 'placa', dizem os especialistas.
Concordo com meu colega Luis Hanns, quando diz que atualmente o casamento é um grande sítio de negociações e que, diferentemente de épocas anteriores, a meta não é manter o compromisso a qualquer preço o que significava ser um bom cidadão. Atualmente a meta é ser feliz. É preciso dividir custos e benefícios, rever valores, que, aliás são cada vez mais diversos. No panorama atual a maneira de ser do outro, sua personalidade, seus amigos, gostos, jeito de levar a vida, pontos de vista sócio-politicos, religião, família, papel de gênero, capacidade financeira, tudo, literalmente tudo é colocado na balança.
Mas nada é mais difícil para um casal, que abrir mão do projeto comum, porque ele é um dos pilares da satisfação global com a vida. A maioria de nós espera algo mais do que só existir. Arquitetamos planos e sonhos para tentar dar formatos ao desejo e com isso ter satisfação. Olhar para cada conquista e dizer com orgulho: 'fui eu que fiz', ou 'chegamos até aqui'. O compromisso com o outro e com o relacionamento é um dos fatores essenciais para prever relações felizes. Mesmo assim, só isso ainda não basta.
Você pode estar satisfeito com a ideia de ser rico, mas são as experiências cotidianas de prazer que poderão garantir satisfação pessoal. E nesse quesito, o estado civil não faz diferença.
O grande dilema de alguns casais é justamente saber até onde vale a pena insistir para ajustar a convivência de duas personalidades distintas, a fim de dar suporte ao projeto de vida ou ir em busca de um cotidiano menos tenso e difícil, onde as expectativas em relação a parceria são constantemente frustradas.
Separar de uma pessoa com caráter duvidoso, certamente é menos difícil do que o fazê-lo diante de alguém por quem temos admiração. Mas as vezes não basta ser uma pessoa adequada, legal, gente boa e comprometida, bom pai ou boa mãe, para fazer a engrenagem girar.
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