Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Antidepressivos melhoraram a saúde do meu marido. Mas seguimos sem transar
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Meu namorado passou por um processo depressivo, que o deixou muito abatido. Naquela época mal chegávamos a nos tocar. Ele começou a tomar antidepressivo, que o tirou do sofrimento, mas a libido não voltou ao normal. O que fazer?
Sim, a maior parte das pessoas com depressão sentem pouca ou nenhuma vontade de fazer sexo. Existem exceções em alguns casos de humor ciclotímico (alternância entre depressão e euforia, por exemplo), mas de qualquer maneira, com desejo preservado ou não, o transtorno já provoca uma série de agravos na vida da pessoa. Para o grupo afetado, a autoestima fica bastante comprometida e a vida, de modo geral, cinza e sombria. O antidepressivo tira esse peso e ajuda a reascender a motivação, bem como o interesse da pessoa em se relacionar com os outros. E se sexo e afeto são movidos por energias que promovem prazer e proximidade, então seu efeito por si só já é positivo.
Mas existem vários antidepressivos que causam um efeito negativo sobre o desejo, inibindo-o. Ou seja, você tem uma melhora expressiva de sua condição emocional, mas percebe o interesse pelo sexo diminuído. No entanto é importante reforçar que a memória erótica não vai embora e uma pessoa que goste de sexo poderá ser movida por ela.
Antidepressivos são medicamentos indicados para o tratamento de depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), síndrome do pânico e outras doenças. Para melhorarem o humor e a ansiedade agem de maneira complexa, principalmente aumentando a ação de substâncias do cérebro chamadas de serotonina, noradrenalina e/ou dopamina. Mas essas ações podem levar também a uma série de efeitos colaterais.
Além disso, os antidepressivos agem como anticolinérgicos, anti-alfa adrenérgicos e anti-histamínicos, que também são responsáveis por efeitos indesejáveis. Assim, a função sexual pode ser uma das atingidas por essas medicações. Alguns, por exemplo, são excelentes para ajudar em casos de ejaculação precoce primária, pois retardam o orgasmo como um efeito colateral; medicação não bem indicada para mulheres, que normalmente levam mais tempo para chegar ao orgasmo do que homens.
Como há vários grupos de antidepressivos e nem todos tem o mesmo efeito sobre a resposta sexual, é fundamental que seu namorado converse com o médico e siga o tratamento direitinho. Às vezes é possível trocar de medicamento, dar intervalo, diminuir a dosagem ou associar outro, mas tudo depende da condição emocional dele. Paciência, pois também há casos nos quais os efeitos indesejados desaparecem espontaneamente.
E aí, tem o seu lado. Pouco se vê na literatura cientifica trabalhos feitos com as parcerias das pessoas acometidas pela depressão ou outros transtornos. Quando ela não é incapacitante, normalmente os pacientes vão sozinhos ao psiquiatra e ao psicólogo, que não incluem no trabalho psicoterapêutico o convite para explicar aos parceiros e parcerias a condição emocional de seus pacientes.
Então, você depende da capacidade do seu namorado em lidar com o maior problema da doença: a vergonha. Mesmo que quase 6% da população brasileira tenha depressão, segundo uma pesquisa do IBOPE, mais de 63% da população de 25 a 34 anos não contariam para a família que sofrem do transtorno. Imagina-se que também, em relacionamentos amorosos iniciais, seja difícil contar para a outra pessoa sobre a sua condição, o que pode gerar fantasias desastrosas sobre a sexualidade: "não me deseja"; "está sendo infiel".
Sugiro que converse de maneira franca com ele, sobre suas percepções, desejos e necessidades. Lembre-se que se vocês têm boa química e sexo de qualidade, mesmo que falte ímpeto físico, o desejo poderá ser mobilizado por momentos de carinho e com outros estímulos eróticos. Talvez você tenha que ser mais ativa no jogo erótico. Se não está acostumada, será uma ótima oportunidade para desenvolver essa habilidade.
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