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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ser confiante ajuda a ter vida sexual mais plena. Mas como construir isso?

A vergonha e a insegurança impedem mulheres de desenvolver sua potencialidade erótica. - CoffeeAndMilk/Getty Images
A vergonha e a insegurança impedem mulheres de desenvolver sua potencialidade erótica. Imagem: CoffeeAndMilk/Getty Images

Colunista de Universa

30/03/2021 04h00

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Não me resta dúvida que as pessoas que acreditam em si mesmas e se dão o devido valor, normalmente sentem-se mais em harmonia com o universo.

Sim, pois que acreditar em si mesmo requer autoconhecimento, então a fórmula é uma reação em cadeia: eu conheço minhas habilidades, dificuldades e expectativas diante da vida; então eu invisto no desenvolvimento das aptidões, tento melhorar meus conflitos, aceito o que não dá para mudar e passo a saber o que esperar de fato dos outros; daí eu vejo que a vida fica mais leve, tenho maiores realizações e passo a conviver melhor comigo e com o outro. Se eu me conheço melhor, sou mais confiante. Se sou mais confiante me sinto mais plena. Mas não é fácil, eu sei.

Ser confiante é uma construção sujeita a intempéries das mais variadas, ao longo de toda a vida. Mesmo as mais sólidas obras, sofrem com o vento, a chuva, os tremores de terra e as mudanças do entorno; é preciso manutenção constante.

Na infância, nós dependemos do outro, não só para a sobrevivência física, mas para construir uma identidade própria, para que nos sintamos importantes para o mundo. Nós não somos ninguém sem o outro.

Infelizmente, por excesso de zelo, insegurança, irresponsabilidade ou perversão, muitos pais detonam seus filhos - com palavras ou atitudes, minam sua espontaneidade, reforçam seus pontos ditos 'negativos', criticam em demasia, exigindo o que não se pode dar. Como alguém pode se sentir confiante se aquele que é sua referência de amor o abandonou, ou é agressivo, ou não o deixa se expressar? Para esses casos a única saída é afastar-se assim que possível da relação adoecida, e procurar na relação com outras pessoas, as referências positivas do existir.

A família, os amigos, os colegas de trabalho, os amores. Todos vão alimentando essa percepção do quanto somos queridos e o quanto estamos acertando a nossa existência. Pessoas muito tímidas ou que tem dificuldade de socializar, pela falta de interação social, geralmente ficam sem essa referência importante do social. E isso pode aumentar ainda mais a falta de confiança.

No campo da sexualidade, sendo ainda tão marcada por crenças distorcidas e tabus, muitas pessoas podem se sentir um ET:

Não é fácil sentir-se adequado em um país que trata o sexo de maneira tão ambivalente: de um lado exposição maciça dos corpos, de outro repressão constante para entabular conversas sobre sexualidade com crianças e jovens. A vergonha que provém do medo de ser julgado pelo outro, que vai desde a identidade de gênero, a orientação sexual e o manual de conduta de como homens e mulheres devem se comportar, faz das pessoas prisioneiras e as impedem desenvolver sua potencialidade erótica.

Mas há também uma característica importante a observar. Há quem tenha um olhar constante para a falta, destacando sempre aquilo que não está bom, ampliando as dificuldades, reverberando o que não se tem. É difícil confiar em si mesmo esvaziado, destituído de conquistas e realizações.

Essa descrença pode acometer também as pessoas não necessariamente depressivas, mas pessimistas e as que tem traços de melancolia, nas quais as pequenas alegrias diárias e a esperança de bons tempos são sufocadas pela lembrança de tempos bons no passado. Procurar ajuda médica e psicológica, nesse caso, é fundamental.

Vale lembrar que mesmo as pessoas mais confiantes têm seus momentos terríveis. A vida não está fácil para ninguém. O autocuidado e o pedido de ajuda podem favorecer o acolhimento tão necessário e que todos precisamos.