Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O que é "ser virgem" e por que isso é valorizado quando se trata da mulher
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A virgindade já foi um assunto inquestionável, circunscrita e necessária ao período pré-matrimônio. Hoje, essa proposta ainda existe para alguns grupos, principalmente ligados a religiões, mas não é uma unanimidade cultural. O que não significa que os efeitos subjetivos de "ser ou não ser virgem" ainda não estejam enraizados em nosso meio.
Mas o que é "ser virgem"? Sob o ponto de vista biológico, virgindade diz respeito à condição de uma pessoa que não teve relação sexual. Mais especificamente, no caso das mulheres, a virgindade já esteve relacionada a perda da membrana himenal, não sendo um critério satisfatório, na medida em que mulheres podem nascer sem hímen ou rompê-lo por ocasião de outras atividades físicas, sem contar aquelas que tem hímen complacente, que dificilmente se rompe.
Além do mais, não há correlativo biológico para o homem nesse sentido. Vejam que, enquanto o primeiro coito denota "iniciação"(puceau) para os meninos, não alterando seu pênis, o substantivo "virgem" (vierge) designa as marcas na vagina, de "defloração", designando unicamente a menina púbere.
Também vale nos questionarmos: se alguém fizer todo tipo de prática sexual, que não implique penetração, isso faz dela uma pessoa 'virgem'? Aqui entramos na questão subjetiva e cultural do termo. Se a virgindade marca um estado de transição entre e meninice e a 'mulherice', como essa passagem tão complexa, na integração entre corpo, psiquismo e relações sociais, poderia ser restringida à presença ou não do coito?
Virgindade x "pureza"
Historicamente falando, o conceito esteve ligado ao sentido de pureza, de retidão, uma virtude moral, associada à santidade, tanto para homens, quanto para as mulheres. São inúmeros os exemplos, desde as civilizações mais antigas aos mitos gregos e histórias da tradição judaico-cristã, nas quais as mulheres virgens são veneradas. Posteriormente associado ao ideal romântico de relação sexual e conjugalidade, estaria atrelado ao amor.
Nesse sentido, a primeira relação sexual passou a significar o momento da "entrega" mais importante, vinculada ao matrimônio, para as mulheres, reforçando um duplo padrão moral sexual: homens valorizados por sua experiência sexual; mulheres pela sua intocada sexualidade.
Em seu livro História da Virgindade, Yvonne Knibiehler (Editora Contexto) aponta que por muito tempo mulheres preservaram a virgindade como também forma de liberdade e fonte de poder, expressão de autonomia e iniciativa, uma espécie de "virilidade" feminina, embora o conceito de liberdade em questão possa ser bastante questionado. Se não fosse por essa perspectiva, ficaria difícil explicar por que tantas mulheres, em pleno século XXI, ainda recorrem à himenoplastia, cirurgia de reconstituição do hímen.
Quando ser virgem ficou careta
Marcada pelos novos padrões de liberação sexual, a virgindade passou a ser questionada e até compreendida como "caretice" e virar motivo de "estranheza". Fomos de um polo ao outro, tornando o assunto novamente motivo de pressão social, piadinhas, reforçando ideias pré-concebidas sobre o que é "legal" ou permitido, em se tratando de comportamento sexual. Esse tipo de dinâmica social não ajuda aqueles que precisam de informações e algum apoio emocional para suas angústias.
Por outro lado, há também que se questionar quando o adiamento da iniciação sexual tem relação com a falta de formação de pares na juventude, como no Japão, onde quase metade da população de jovens é virgem. Como a relação de compromisso idealmente é retardada para a vida adulta, jovens experimentam a sexualidade de maneira mais auto-erótica, mediada por ferramentas tecnológicas, priorizando outros aspectos da sua vida, como os estudos e o trabalho.
Ser ou não ser?
É inegável a importância da iniciação sexual, para qualquer pessoa, de qualquer orientação sexual. Há sempre um misto de emoções, expectativas, medos, descobertas. É uma escolha que se faz de dentro para fora. Quanto mais uma sociedade se mete a dizer se está certo ou errado manter-se ou não virgem, mais afastamos as pessoas de suas verdadeiras percepções sobre a intimidade sexual.
Quanto mais medo ou culpa pelo desejo, ou quando fazemos sexo para agradar uma pessoa ou grupo, mais nos afastamos de nós mesmos. A sexualidade é parte integrante da vida humana, sendo o comportamento sexual genital apenas uma de suas dimensões. É interessante vivê-la de maneira positiva, prazerosa e responsável.
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