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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Influencers dizem que Gui Araújo 'escolhe com quem transa': homem não pode?

Grupo CARAS
Imagem: Grupo CARAS

Colunista de Universa

06/10/2021 04h00

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A influenciadora digital Gabi Prado, que participou dos realities A Fazenda, da Record TV, e do De Férias com o Ex Celebs, da MTV, recebeu essa semana em seu podcast PodDarPrado as também influenciadoras digitais Yá Burihan, Vitória Bellato e Any Borges. As 4 jovens mulheres partilhavam suas impressões sobre as pessoas que tinham se relacionado, algumas delas em comum. Foi quando perceberam que um dos comentados tinha uma característica peculiar: "...ele escolhe transar ou não"

O rapaz em questão é o influenciador Gui Araújo, que está confinado na atual edição do reality A Fazenda, da Record. E, pelo os que elas disseram, parece que o cara já tem a fama de não fazer sexo com todas as jovens que 'fica'. "Tudo acontecia, menos isso" ...disse uma ex-parceira, com expressão inquieta. Isso me chamou a atenção. Eu entendo que de fato não é algo corriqueiro, que vai na contramão do mais habitual comportamento masculino, por outro lado, não é desconstrução que reivindicamos?

Achei a expressão curiosa. "...ele escolhe transar ou não", revela uma crença sobre a sexualidade masculina, de que os homens sempre estão interessados em sexo, custe o que custar e que escolher transar é uma prerrogativa feminina.

Aliás, tem outro viés interessante nessa história. Classificado como "arrogante", o perfil do rapaz em questão se aproxima da clássica personagem feminina, a mocinha popular da escola, a que corresponde ao padrão ideal de beleza vigente, e que por isso mesmo não vai fazer sexo com qualquer adolescente bobão. Ela vai ficar segurando esse trunfo, alimentando a fantasia de todos os que a desejam e usufruindo disso como uma marca de status.

Aliás, essa relação entre sexo como ferramenta de barganha já está documentada na literatura. Pesquisadores da Carolina do Sul descobriram que garotas obesas tinham quase três vezes mais chances do que as outras de ter a primeira relação sexual e estão 30% mais propensas a ter múltiplos parceiros. Elas se veem sem poder de "escolha", entram nas relações mais inseguras e acabam com dificuldade em negar diante do desejo masculino.

Embora não pareça o caso, mas só para ampliar a discussão, homens recusam sim interação sexual por diversas razões. Podem ter receio de não ter uma ereção adequada, principalmente se já carregam na sua vivência experiências anteriores, de broxadas homéricas que lhes custou muita vergonha e sentido de humilhação.

Esperam uma parceria com maior conexão emocional, alguém que lhes passe confiança a ponto de se vulnerabilizarem tanto. Noutros casos, há também quem prefira fazer sexo com alguém por quem estejam verdadeiramente interessados, porque entendem relação sexual com penetração uma espécie de "comunhão". Receio de se depararem com uma gravidez indesejada ou de contraírem uma IST também é motivo, pois muitos não confiam no preservativo. Outros tem vergonha do tamanho ou formato do pênis, da espessura da canela, do excesso de pelos ou da ausência deles.

Desapegar de padrões rigidamente estabelecidos não é fácil. Esperar que uma jovem recuse sexo é chover no molhado, afinal foram séculos martelando a ideia de que as mulheres só deveriam fazer sexo se amassem muito um homem e dentro de uma relação de compromisso, preferencialmente o matrimônio.

Agora os tempos são outros, virgindade, casamento e maternidade não são verdades compulsórias e inquestionáveis e a autonomia feminina é muito mais presente.

Do mesmo modo, compreender as ansiedades, angústias e desejos masculinos é fundamental para nos aproximarmos dos homens sem a desconfiança habitual. Os comentários espontâneos nos traem, revelando que ainda há o que ressignificar em se tratando de papéis sexuais. Ao menos, as garotas estão espertas: "não é não" disse a âncora do programa, fechando a questão.